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Aqui estou para compartilhar um pouco do que penso sobre a vida e sobre a profissão de jornalista. Sejam todos bem-vindos

domingo, 12 de dezembro de 2010

Zanzibar para colorir nossas vidas

Publicado em www.querdizer.com.br em 19/01/2007

No azul de Jezebel/No céu de Calcutá/Feliz constelação/Reluz no corpo dela/Ai tricolor colar/Az de maracatu/No azul de Zanzibar/Ali meu coração/Zumbiu no gozo dela/Ai mina aperta a minha mão/Alá meu "only you"/No azul da estrela...”


Zanzibar é uma música que eu gosto muito. Transmite alegria. Mas é bem mais que isso. O subtítulo da música - As Cores – é um convite a imaginar o que seria do mundo ser tudo fosse em preto e branco.

Nunca tinha parado e percebido o subtítulo da música. Foi numa dessas noites em que você conversa sobre tudo um pouco com pessoas com quem tem afinidade. Os meses se passaram até que chegou o final do ano. Eu precisava escolher uma música para um amigo invisível de final de ano. Resolvi então pesquisar sobre o significado da música.

Dias antes, aprendi a fazer uma brincadeira muito legal. Em um grupo de amigos, fizemos a brincadeira dos países. A cada um foi entregue uma fita de papel crepom de uma cor. Havia o branco que significava a paz, o verde que significava a esperança, o azul que significava a harmonia, o rosa que significava o amor. Os amigos do grupo juntaram-se de acordo com as cores e o grupo decidia o gesto que mais parecia com o seu país. Fazia o gesto de forma isolada para que os outros apenas observassem. Num determinado momento, os outros países tiveram que repetir os gestos.

Nessa brincadeira aprendemos que o mundo é feito de pessoas diferentes, que falam línguas diferentes, tem credos e concepções políticas diferentes, mas independente de qualquer coisa são pessoas que precisam de outras pessoas para crescer. O melhor de nossas vidas só acontece quando aprendemos a compartilhar. Por mais conhecimento que se possa ter, falar todas as línguas, viajar por todos os lugares. Tudo só faz sentido se houver com quem comemorar.

Mas continuava intrigada por ter escolhido a música. A princípio, tinha escolhido porque sempre gostei e também por causa do subtítulo.

Curiosa por natureza – acho que essa é uma característica dos jornalistas -, não me dei por vencida. Descobri que Zanzibar é o lugar onde nasceu Fred Mercury
Zanzibar se tornou independente e em 1964 estava à beira de uma revolução liderada pelo partido africano. Muitos ingleses e indianos tiveram que abandonar a ilha por razões de segurança. Recebeu o nome de República Unida da Tanzânia. É conhecido pelas suas riquezas naturais, especialmente os parques e reservas de animais selvagens. Como a ilha foi dominada por diversos povos, de diferentes etnias, credos e culturas, os residentes atuais formam uma miscigenação de raças. Africanos, árabes, indianos, alemães, ingleses e outros povos praticam religiões diversas - cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o protestantismo e inúmeras crenças tradicionais nativas – e falam diferentes dialetos, embora o inglês e o suaile sejam as línguas oficiais do país.

Segundo o autor da música, o próprio Fausto Nilo, em entrevista ao Portal Verdes Mares, na música " Zanzibar tem coisas que muita gente não entende, pensa que é só coisa sem sentido, ou bregona. Mas não é não”. Na realidade, é um estilo à moda surrealista, baseada apenas na associação livre de idéias.

Registra o portal No Olhar.com (03.04.2004) que “a música está no time das canções indecifráveis da MPB. A letra foi parar nas páginas do jornal carioca O Globo, acabando por vencer o concurso Zum de Besouro, lançado pelo colunista Artur Xexéu. Em disputa, as mais 'bizarras' ou incompreensíveis canções da MPB. O ’tricolor colar’ intrigou leitores e houve quem afirmasse que o letrista quis homenagear a Jamaica e a boina de Bob Marley, assim como as guias de umbanda”. '

'Estava em Salvador quando Armandinho me deu essa música. Voei de volta para o Rio lembrando de uma pichação recorrente nos muros da capital baiana, à época: ''Zanziblue''. Por onde passava, via isso. Depois, ainda no avião, lembrei de um filme estrelado por Dorothy Lamour, Viajando para Zanzibar. E assim a coisa foi saindo até chegar em Paracuru, como simples efeito de rima. O fato é que estourou e cheguei a receber um telefonema de congratulação do prefeito por ter contribuído com o incremento do carnaval de lá. Depois, fui convidado a fazer algo semelhante para outra localidade, mas não aceitei a encomenda. E o famoso bar baiano só surgiu anos depois. Gilberto Gil o homenageou. Não eu'', esclareceu, enfim, Fausto Nilo na entrevista concedida ao portal No Olhar.com.

A brincadeira do amigo invisível falou da união dos países e das pessoas, cada um com sua cor. O sub-título da música – As Cores. Então que 2007 seja um pouco Zanzibar para nós. Que possamos ser mais felizes, deixando as cores invadirem nossas vidas. Que os povos possam se integrar mais e as pessoas também. Que a gente diga coisas sem nexo sem medo de dizer. Que mesmo que as pessoas não compreendam o que estamos dizendo ou fazendo entendam o que estamos sentindo. Que o azul da estrela, o tricolor e a feliz constelação façam sentido em nossas vidas.

O amor é criativo

Publicado em www.querdizer.com.br em 10/11/2006

Quando Roberto Freire escreveu o livro Ame e dê Vexame acertou em cheio. De fato, o amor mexe com os padrões convencionais que estabelecemos para nossas vidas e nos leva a fazer coisas que nós mesmos não acreditamos que um dia seríamos capazes. Alguns chamam de paixão. Mas o fato é que quando esse potencial criativo é estimulado, passamos a viver um momento único em que só o que importa é fazer a quem amamos felizes e, conseqüentemente, ficamos felizes.

O potencial criativo é explicado cientificamente. Descobri que num estudo realizado na França ficou comprovado que o nosso organismo reage aos estímulos do amor. Quando nos apaixonamos, o nosso cérebro produz a feniletilamine, também chamada de "anfetamina do amor". É essa substância que desbloqueia nossas inibições emoções e, consequentemente, estimula nossa criatividade e imaginação. O organismo também libera a endorfina, morfina produzida pelo corpo na glândula hipófise, o que provoca uma sensação de bem-estar. Enquanto a surpresa planejada não acontece, ficamos tensos, nervosos, calculando os minutos, mas ao final de tudo, sentimos uma enorme sensação de felicidade.

Durante alguns dias, estive conversando com as pessoas sobre esse potencial criativo. Percebi que algumas têm vergonha de confessar as loucuras que já fizeram por amor. Voltaram à razão. Não estão drogadas pela anfetamina do amor. Outras, pior, nunca experimentaram essa sensação. Coitadas. Mas, há aquelas que falam do amor como algo leve e contagiante, não importando o tempo que tenha durado, mas a intensidade com tenha sido vivido. Que seja eterno enquanto dure, ou, que me permita Vinícius de Morais, enquanto duro, se preferirem. Afinal, amor também é tesão.

As histórias são surpreendentes. Uma delas é o romance de casal em que um viajou, mas, para surpreender o seu parceiro, foi a uma floricultura e encomendou rosas para serem entregues de uma em uma hora. Outro, apaixonado por uma cantora famosa, decidiu colocar a vergonha de lado, e quando ela veio fazer um show em São Luís, não pensou duas vezes: é a minha grande chance. No dia do show, ele contratou uma floricultura e de meia em meia hora mandava entregar rosas no camarim. Pessoas diferentes, histórias parecidas.

Há as declarações públicas de amor. Namorando há alguns anos e ainda apaixonado, ele já havia pedido a noiva em casamento por diversas vezes, mas a resposta era sempre não. Até que um dia, tomou coragem e resolveu pedi-la em casamento através de anúncio de jornal, claro, em formato de coração. Ela não resistiu e atendeu ao pedido. Num outro caso, alguém resolveu tomar uma atitude e espalhou outdoors pela cidade. Tudo para demonstrar o seu amor. Estão juntos até hoje.

O potencial criativo também se revela na simplicidade. Tenho um amigo que toda vez que se encontrava com a namorada levava o que ele intitulou de mimo. O nome dela era Flor e, então, a cada encontro sua fonte de inspiração recebia um chaveiro, um livro, um brinco, desde que tivesse uma flor. Outro caso é o de um amigo que, para conquistar a namorada que havia viajado, foi ao encontro dela em outra cidade e desenhou em sua porta um violão, deixando um recado. Como não haveria mais ninguém no mundo que pudesse fazer aquilo, ela foi ao encontro e os dois começaram a namorar.

E nas datas comemorativas. Muitos de nós, alegamos que estas datas só servem para o comércio vender mais, mas, quando estamos envolvidos esquecemos completamente de filosofar sobre o assunto. Um quase romance despertou o potencial criativo em seu parceiro em uma dessas datas. Em meio a confusão que é o comércio nestas datas, um saiu a procura de um presente simbólico, que pudesse representar algo para o outro. Entrou e saiu de loja e não encontrou nada que pudesse surpreender, até que veio o estalo. Vou mandar fazer uma camiseta sob encomenda com a frase perfeita. No dia seguinte, estava lá, o entregador para fazer a surpresa.

Em alguns casos, o amor contagia quem está ao redor. Assumir o lugar do cantor e, mesmo com as pernas tremendo e o coração a palpitar, subir no palco com um bouquê de rosas, tudo para declamar o amor no dia do aniversário de sua amada. Vocês já podem imaginar o que aconteceu. O bar inteiro se emocionou e foi um verdadeiro parabéns coletivo. Estavam todos ali, felizes porque o amor existe. Não importa se dura um dia, um mês, um ano ou a vida inteira. O que importa é que ele existe e nos faz acreditar que podemos ser melhores.

E nem a distância é uma barreira para um coração enamorado. Mesmo estando do outro lado do mundo, se e capaz de fazer uma surpresa. Foi o que fez um amigo. Mandou chocolates, via amigo, para sua amada. Detalhe: a encomenda veio da Europa. Para um outro casal, a história se definiu quando um resolveu declarar-se também via fita K-7, narrando os momentos bons que tinham passado juntos numa despedida dentro do avião. Resultado: ele deixou tudo onde morava para viver sua grande história de amor. Um outro caso, um dos apaixonados gravou uma fita K-7 – ainda não era o tempo do CD - com as músicas preferidas do seu par, de viva voz ao violão.

As músicas, aliás, estão sempre presentes nas histórias de amor. Todo casal tem a sua trilha sonora, mas isso e motivo para um outro texto. Por enquanto, vou encerrando com uma das histórias mais interessantes que conheço. Separados pela distância, um resolveu surpreender o outro no dia do seu aniversário. Antecipou o presente, que eram trechos musicais selecionados, colocados em uma caixinha de papelão. O detalhe é que para ler as mensagens, o outro tinha que usar uma caneta com a lâmpada especial – caneta da tinta invisível. Mas quando um pensou que o presente estava completo, enganou-se. O outro foi capaz de surpreendê-lo com a ajuda de amigos, fazendo uma espécie de serenata em sua porta, com algumas das músicas selecionadas.

De tudo o que ouvi, aprendi que histórias de amor todo mundo tem. Mas as melhores são aquelas que, por mais que se viva uma eternidade, sempre lembraremos com carinho e poderemos contar sorrindo, como se o tempo nunca tivesse passado. É sempre bom deixar voar o coração para lá do arco-íris porque ninguém pode nos impedir de levantar a âncora, partir e ser feliz, já disse Kleiton e Kledir.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Valeu a pena

Postado em 11/10/2006 em www.querdizer.com.br

Foram 123 mil votos. Para alguns, surpresa. Para outros, certeza. Quando o juiz federal Flávio Dino de Castro e Costa, depois de uma brilhante carreira no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, e da passagem pela presidência da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), resolveu deixar o cargo de secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça para candidatar-se a um cargo eletivo no Maranhão, houve quem se perguntasse se ele estava fazendo a coisa certa.

Muitos questionaram: deixar a magistratura, uma carreira promissora, para se aventurar numa disputa política? Não entendiam que, embora a vida tenha lhe oferecido caminhos diferentes e outras oportunidades, ele nunca abandonou o sonho de atuar na política partidária.

Acreditou e com ele, outros acreditaram. São eleitores anônimos e lideranças, que, hoje, na vitória de Flávio Dino comemoram pela sua eleição e pela certeza de que a mudança pode acontecer quando se acredita que é possível e sabe-se fazer a diferença.

Quem esteve presente no dia do lançamento do manifesto de sua candidatura, na Lagoa da Jansen, viu Dino buscar inspiração no poeta Fernando Pessoa, em uma de suas clássicas frases, para justificar sua decisão. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Disse em todas as letras que estava deixando a vida estável, confortável e as prerrogativas de um cargo de juiz para apostar em uma nova viagem, de futuro incerto.

Como ele e com ele, muitos acreditaram. Se houve quem duvidasse, para os que acreditaram, a vitória sempre foi certa. Uma campanha embalada por pessoas que acreditam que na política e na vida é possível ser ético, solidário e compromissado. Pessoas que são capazes de doar suas vidas a uma causa coletiva, sem o medo de olhar para o passado por terem sido omissas.

Se votaram os progressistas, também houve votos decorrentes das alianças e de grupos conservadores. No mundo da política partidária, é preciso ser político o suficiente para fazer política. Transitar em vários espaços, sem nunca perder de vista as causas e os compromissos. Dialogar com várias correntes não é abandonar um ideal, é sustentá-lo em espaços diversos. É isso que parte do eleitorado que votou Flávio Dino acredita.

Durante toda a campanha eleitoral, quando se falava na candidatura de Flávio Dino, de pronto, era fácil receber o apoio de quem desejava mudança. Independente de raça, sexo, cor ou partido político, o sentimento de que podemos ter representantes legítimos, com propostas coerentes, dava o tom das conversas sobre sua candidatura. A surpresa foi a expressiva votação. Na sua primeira disputa eleitoral, ele arrastou votos. Como? Devem ter perguntado. Para quem sempre atuou politicamente, mas estava distante da política partidária, como conquistar tantos votos? É o próprio Flávio Dino que dá a resposta. Na sua concepção, sua eleição se deve a três fatores: a insatisfação com o quadro social do Estado; o acúmulo da luta do movimento social; e a esperança de renovação política".

De fato, quantos eleitores anônimos e outros militantes, que conheciam a sua história desde a época do colégio Marista ou do movimento estudantil, nos idos dos anos 80 na Universidade Federal do Maranhão, pediram sem medo voto para elegê-lo. Quantas vezes, eu ouvi. Todo mundo que conheceu Flávio Dino fez questão de pedir voto para ele. Quantos eleitores, sonhando com um novo momento político, viram em Flávio Dino um exemplo, um político com um futuro jovem e promissor, que soube fazer diferença na magistratura e também poderá, por certo, fazer na política.


Durante a comemoração, em cada abraço, a certeza de que o desejo de mudança está fortalecido. Um momento da comemoração resume bem o que eu quero dizer. Em determinado momento, na quadra do Colégio Aprovação, na noite deste domingo, 1º de outubro de 2006, um depoimento registra: a candidatura de Flávio Dino foi suprapartidária, uma nova forma de fazer política no Maranhão. De fato, lá estavam os com e os sem-partido. Mas todos com uma convicção: essa foi uma das vitórias de muitas outras que ainda estão por vir.

Na noite deste domingo, uma música ficou marcada. Pescador de Ilusões, do Rappa. O refrão valeu a pena foi repetido várias vezes. Uma frase ficou marcada. Valeu a pena tudo o que foi feito, mas valerá muito mais, disse Flávio Dino, nos agradecimentos. É o que todos acreditam e esperam.

* Publicado no site www.querdizer.com.br em 11/10/2006

sábado, 4 de dezembro de 2010

É preciso debater a regulamentação profissional

Postado em 25/08/2006 em www.querdizer.com.br

Assistimos há poucos dias o debate sobre o projeto de lei que ampliava as funções de jornalistas. Defendido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sindicatos dos jornalistas em todo o país e pela Associação Maranhense de Imprensa, o projeto recebeu críticas do Conselho Federal de Relações Públicas (Conferp), Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Federação dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão (Fiterp)) e Associação Brasileira de Imprensa. O duelo principal foi a regulamentação profissional e o direito à liberdade de imprensa. Vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto agora será debatido por um Grupo de Trabalho indicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Entendo que a atualização da regulamentação de uma profissão não fere em nada o direito à liberdade de expressão. Fosse assim, também sob o pretexto de que minha liberdade de expressão está sendo ferida, posso ingressar com uma ação na Justiça solicitando ter o direito de proferir uma sentença porque também tenho o direito de expressar o que penso, em formato judicial. Ou solicitar na Justiça o direito de poder fazer o projeto arquitetônico da minha casa, a partir da minha liberdade de expressão. Se tenho criatividade e imaginação para fazer o projeto, não deveria, então, contratar um arquiteto, e ao fazê-lo estou inibindo a minha liberdade de pensar e expressar em um papel o que desejo?

Mas defendo o contrário e como eu, sei que as entidades representativas dos jornalistas, que saíram em defesa da nova regulamentação profissional assim também defendem. Defendo que todas as categorias tenham as suas garantias resguardadas, para que se tenha um estado democrático de direito, respeitadas as especificidades de cada profissão, e para que estas profissões sejam fortalecidas. Só assim, os profissionais, de todas as áreas, poderão ter liberdade para exercer o seu ofício, sem o risco de verem a precarização das relações de trabalho, pautados na ética do exercício profissional e comprometidos com o conjunto social.

O fato de os jornalistas terem direito a uma regulamentação não coloca em risco a sociedade. Muito pelo contrário. Protege. Sem leis, toda a sociedade é fragilizada. O projeto vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantia a regulamentação da profissão, ameaçada por diversas ações na Justiça de pessoas que insistem em exercer uma profissão sem diploma. Sempre pergunto: hoje são os jornalistas. E amanhã: quais outros profissionais estarão em risco.
O debate não era, de forma simplista como foi colocado por parte da mídia, a ampliação das funções dos jornalistas que queriam “invadir” a área de outras profissões. Devemos, principalmente como comunicadores, perceber o que é dito, verbalizado, e o que está nas entrelinhas, o discurso não dito, o que há de interesse por trás de determinados discursos. O debate central e a grande luta de quem saiu em defesa do projeto foi a defesa do diploma, a defesa das profissões, a defesa de garantias para o exercício profissional, a defesa da regulamentação profissional.

O debate saudável cedeu lugar para um debate carregado de falsas verdades. Só para citar um exemplo não se debateu sobre, de fato, o que faz um profissional numa assessoria de comunicação e de que forma estas estruturas poderão ser fortalecidas com o conhecimento de vários especialistas. Todos nós sabemos que há espaço suficiente para a convivência harmoniosa dos vários profissionais da comunicação dentro da estrutura de uma assessoria de comunicação. A evolução do mercado de trabalho é inegável. Hoje não são só os jornalistas que estão nas assessorias de comunicação – de comunicação e não de imprensa – mas também os radialistas. Que a legislação dos radialistas não contempla o trabalho desses profissionais nas assessorias, pois limita a esta categoria o trabalho apenas nas empresas de radiodifusão, mas eles também começam a buscar seu lugar ao sol em novos campos de trabalho.

As leis sempre vêm para regulamentar as necessidades criadas pela sociedade. Amanhã, serão estes profissionais, ao tentarem buscar regularizar essa nova realidade no mercado de trabalho, acusados de estarem invadindo uma outra área?
O projeto adequava a lei à realidade do mercado de trabalho, como é o caso das assessorias de imprensa. Também corrigia distorções históricas e brechas deixadas pelo decreto de 69, que fragilizava o exercício da profissão. Só para citar um exemplo, hoje, para quem não sabe, tem motorista fazendo foto para jornal em máquinas digitais e ganhando como motorista. Isso é a precarização das relações de trabalho. É essa a liberdade de imprensa que queremos?

O decreto da profissão dos jornalistas é de 69 e hoje vive-se numa democracia. Este foi um dos argumentos utilizados pela juíza Carla Rister na sua sentença que retirou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Que o decreto era da época da ditadura e que, portanto, não servia aos tempos atuais. Lembram? Não fosse a coerência do Tribunal Regional Federal de São Paulo que, por unanimidade, restaurou o direito que os profissionais têm ao diploma de nível superior e a sociedade tem de ter uma informação de qualidade, a situação seria hoje ainda bem pior. Mas o processo está tramitando no Supremo Tribunal Federal a quem caberá a palavra final. Se nem o Executivo, nem o Legislativo têm coragem de decidir, por certo, a Justiça o fará.

Tenho aprofundado bastante a leitura sobre este assunto e fico cada vez mais chocada com os argumentos utilizados. Diz o parecer do Ministério da Justiça que “a existência de tais limitações ao exercício do jornalismo traz duas conseqüências jurídicas principais: (i) a extensão do registro profissional no Ministério do Trabalho e Emprego a novas categorias e atividades. Ora, hoje os assessores de imprensa, os cinegrafistas e repórteres fotográficos já têm o registro. E diga-se de passagem: emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, sob a tutela do Estado.
Diz ainda o parecer do Ministério da Justiça que “a ampliação da exigência de diploma de nível Superior de jornalismo para o exercício da atividade profissional a todas as funções, além daquelas previstas no art. 6o do Decreto-Lei no 972, de 1969”. Claro. Uma nova lei tem que contemplar as novas exigência do mercado de trabalho, senão não haveria a necessidade de uma nova lei.

Estou cada vez mais convencida de que o faltou foi um debate conceitual sobre o que é assessoria de imprensa e o que é assessoria de comunicação. O que é liberdade de imprensa e o que é regulamentação profissional. Debate este que não aconteceu porque poucos foram os que se deram ao trabalho de realmente ler e entender o que estava acontecendo, ficando muitos apenas com os velhos preconceitos e se deixando levar pelo jogo da informação e da contra-informação. Vamos nos perguntar solitariamente quantos os que foram contra, de fato, pararam para ler o projeto e comparar com os decretos anteriores de 69 e 78 e ver onde estavam as reais mudanças? A resposta, só cada um poderá ter.