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Aqui estou para compartilhar um pouco do que penso sobre a vida e sobre a profissão de jornalista. Sejam todos bem-vindos

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quem acredita, sempre alcança - a concretização da Tv e Rádio Justiça

O mundo é feito de idealistas, de pessoas que acreditam, que marcam sua época. É preciso que se registre, para que não caia no esquecimento, a trajetória deste profissional, Renato Parente. Ele está deixando a Assessoria de Imprensa do Supremo Tribunal Federal, com o reconhecimento de todos os seus colegas, assessores de comunicação do Judiciário e Ministério Público. Deixou para a história a marca de ser o responsável pela implantação de dois grandiosos projetos: a Tv Justiça e a Rádio Justiça, desejo, é claro, compartilhado pelos presidentes ministro Marco Aurélio de Mello e Maurício Corrêa, do Supremo Tribunal Federal.


Desde Minas Gerais, em 1986, quando o Tribunal Regional do Trabalho de MInas Gerais fez o I Encontro Nacional dos Assessores de Comunicação da Justiça, o Renato Parente, então assessor de imprensa do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (SP), já estava lá. Naquela época, a Carta de BH aprovou "a criação de uma entidade nacional de profissionais da Comunicação da Justiça do Trabalho constituída de representantes dos Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª Região (Renato Parente), Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (Maricília Zocrato), Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (Luiz Fernando Flores), Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (Carlos Antonio Raimundo) e Tribunal Regional do Trabalho de Alagoas (José Antonio), além do Tribunal Superior do Trabalho (Ary Cícero de Moraes Ribeiro) para dar os encaminhamentos da carta. Um dos pontos da carta era "política integrada de comunicação social na Justiça do Trabalho, com definição de meios e critérios comuns de atuação, visando o fortalecimento da imagem da instituição junto a seus públicos".
A partir de então, o Renato Parente contribuiu decisivamente na elaboração da programação dos encontros seguintes. Se amadurecemos, a ponto de defendermos a transparência das organizações e a comunicação cidadã não podemos deixar de mencionar a colaboração do Renato Parente e sua preocupação com a implantação de uma política de comunicação para os órgãos da Justiça.



No ano seguinte, foi a vez do encontro ser realizado em Gramado (RS), numa promoção do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul, sob a então coordenação do então assessor, o jornalista Luiz Fernando Flores. Entre os participantes, lá estava Renato Parente (TRT-SP). E assim, sucessivamente, no III Encontro (AL) e IV Encontro (MT). Veio, então o I Encontro da Associação dos Magistrados Brasileiros (Gramado-RS-1999).


Novo passo foi dado em 2000, quando da realização do I Encontro dos Assessores de Comunicação da Justiça em São Luís (MA), quando a discussão saiu da esfera de núcleos da Justiça e ganhou uma dimensão nacional, inclusive com a participação do MInistério Público. E lá estava o Renato Parente, indicado desta vez para compor o Comitê Consultivo. Sempre tivemos o desejo de ter uma organização e para chegar ao Fórum Nacional de Comunicação e Justiça passamos por várias etapas. Uma delas foi o Comitê Consultivo, que fazia parte do embrião do Fórum que, então, chamava-se Fórum Permanente das Assessorias de Comunicação Social do Poder Judiciário e do Ministério Público. Com o Renato Parente, foram indicados Paulo Gutemberg - Justiça Eleitoral (PI), Adriana Magalhães de A. Melo - Justiça Federal ( DF), Rosângela Sanches - Justiça Estadual (SP), Ana Paula Bonfim - Justiça Militar ( DF), Juarez Tosi - Ministério Público da União (RS) e Sebastião Jorge Goes de Souza - Ministério Público Estadual (MS). Em São Luís, todos nós assessores, aprovamos "Defender a participação das assessorias de comunicação do Poder Judiciário e do Ministério Público, em todas as instâncias, na implantação da TV do Judiciário, com a participação do Ministério Público (TV da Justiça"


No ano seguinte, em Belo Horizonte, no II Encontro, novamente os assessores defenderam um modelo de Tv Justiça descentralizado e reafirmaram "Fazer gestões junto ao Supremo Tribunal Federal e demais Tribunais Superiores e Regionais, junto ao Colegiado dos Presidentes dos Tribunais de Justiça, Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Justiça, Conselho Superior do Ministério Público Federal, Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, para viabilizar a implantação definitiva da TV da Justiça. Fica criada uma comissão para elaborar proposta a ser encaminhada as instâncias acima mencionadas e discutida com a sociedade civil; bem como para incentivar a implementação de experiências de TV por Intranet, Internet e em convênio com outros canais. A comissão e formada por Joabel Pereira (TRE-RS), Ana Cristina Rosário (TRT-DF), Gisele Correa (TRF 1a Regiao), José Vieira Neto (TJ-PB), Mara Oliveira (MPE-RO), Lília Gomes (PRT-MG) e Cleria Nunes (PR-SC).


E naquele encontro também estava o Renato Parente. Mas aquele foi um momento histórico para ele. E muitos de nós estávamos lá para testemunhar, embora nem todos soubessem naquele momento o convite que lhe fora feito pelo então presidente eleito do Supremo Tribunal Federal, Ministro Marco Aurélio. Naquele encontro, realizado entre 9 e 12 de maio de 2001, o Renato Parente, assessor de imprensa do Tribunal Regional de São Paulo tinha recebido o convite para ser o assessor de imprensa do STF. A seu favor, toda a experiência acumulada, ao longo de anos, à frente da assessoria de imprensa do TRT-SP e também após sua participação em sucessivos encontros.


Vieram, então outros encontros. O III Encontro, em Maceió, onde foi apresentado o Manual da Tv Justiça, já com a Claudia Lemos, que era da Associação Nacional dos Procuradores da República, convidada para dirigir a Tv Justiça. Ela apresentou o manual da Tv e mostrou de que forma conseguiríamos implantar, por meio de um esforço coletivo, um projeto de tv que respeitasse as desigualdades nos Estados e as diferenças das organizações, umas com estruturas montadas de televisão e outras sem nada. Uma das formas para garantir a participação de todos foi o audiotape. Mas também o Renato Parente, naquele seminário, deixou claro que o importante era que todos pudessem participar. Não era necessário ter um programa cheio de efeitos especiais. Tanto que se multiplicaram os programas de entrevistas e nem por isso foram vetados, já que a orientação era organizar a grade de acordo com as produções regionalizadas.


Houve quem não acreditasse que era possível. Investir em equipamentos ou contratar empresas para a produção de programas. Quais as organizações investiriam nesse projeto? Fazer televisão é muito caro e nem todos tinham a certeza de que a Tv Justiça teria audiência o suficiente para justificar investimentos. Mas lá estava o Renato Parente, com a convicção de que era possível. Criou uma rede nacional de comunicadores. Afinal, todos nós, assessores da Justiça, somos correspondentes da Tv Justiça e agora da Rádio Justiça, que segue os mesmos padrões da Tv Justiça.
É isso aí. Renato. Quem acredita, sempre alcança.


Jornalista Edvânia Kátia
Presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça
Assessora de Comunicação do TRT-MA

Entrevista para Jornal Pequeno

Por Waldemar Terr (Repórter de Política)

wter@uol.com.br - wter.blog.uol.com.br

A mulher que pode tirar o Sindicato dos Jornalistas do léu

A eleição do Sindicato dos Jornalistas de São Luís foi parar na Justiça do Trabalho, que vai dizer nos próximos dias se o pleito será anulado. A candidata da oposição é a jornalista Edvânia Kátia, que no início do mês passado assumiu o cargo de diretora de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), tornando-se a primeira mulher maranhense a chegar à direção da Fenaj e a única com chances de tirar o sindicato da categoria do léu.

“O processo eleitoral está sub-judice. Após constatar várias irregularidades e a centralização de poder, a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo resolveu ajuizar uma ação na Justiça do Trabalho. A Justiça concedeu liminar suspendendo o processo eleitoral, que foi restabelecido para a realização da eleição por força de mandado de segurança. A eleição aconteceu, mas o processo continua na Justiça, que ainda vai decidir no mérito, ou seja, ver quem tem ou não razão”, conta a jornalista.

Recentemente, Edvânia Kátia participou do congresso nacional da categoria, que aprovou, por unanimidade, uma moção de repúdio contra as práticas antidemocráticas do Sindicato dos Jornalistas de São Luís. “Considero um avanço para o movimento sindical brasileiro exigir de suas próprias instituições uma postura mais ética e democrática. Em particular, essa foi uma vitória para o movimento dos jornalistas de São Luís, termos sidos nós a propormos essa moção”.



Edvânia Kátia: esperança de novos rumos para o Sindicato

A seguir a entrevista com Edvânia Kátia, na qual ela detalha o retrocesso da categoria em função dos mais de 20 anos que o Sindicato dos Jornalistas de São Luís está sob o domínio de Leonardo Monteiro, conhecido por Léo.

JORNAL PEQUENO – Você assumiu no início do mês passado o cargo de diretora de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Qual a importância de termos a primeira mulher jornalista maranhense eleita para a Federação Nacional dos Jornalistas?

EDVÂNIA KÀTIA – Considero um avanço muito grande para o movimento dos jornalistas no Maranhão a representatividade na Fenaj, em um cargo que eu considero estratégico. Saímos do ostracismo. Por duas décadas, nossa representatividade no cenário nacional foi mínima, mas a partir da articulação da Associação Maranhense de Imprensa nomes do Maranhão começaram a despontar no cenário nacional, inclusive o meu. Ocorre que devido à minha militância em outros espaços, como o Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e a Rede Alfredo de Carvalho pela Preservação da Memória da Imprensa no Brasil, naturalmente, fui procurada. Como sempre costumo fazer, busquei a opinião das bases, que entendeu que os ideais eram os mesmos. Por isso aceitei o convite. Prefiro não entrar na questão de gênero. Se homem ou mulher, não importa. O que importa mesmo é o nosso compromisso com as causas coletivas.

JP – Isso pode ajudar a oposição a livrar o Sindicato dos Jornalistas dos mandos de mais de 20 anos de Leonardo Monteiro?

EK – Tudo vai depender do que a direção e o Conselho de Representantes da Fenaj decidir. O fato de eu ser diretora da Fenaj contribui para que se levante o debate sobre a ética e a democracia nos nossos sindicatos, mas essa é uma decisão colegiada, como todas as decisões da nossa Federação. Estamos encaminhando, nos próximos dias, uma denúncia à federação. Embora a Fenaj não tenha a tradição de se envolver em disputas políticas locais, neste caso específico, o assunto deve ser apreciado. Isso porque não é uma disputa de propostas e idéias entre duas chapas, em iguais condições no pleito. São práticas que ferem direitos legítimos de uma categoria, o principal deles, o de participar da vida do sindicato. Prova disso é o número de votantes. Um total de 50 pessoas decidindo por uma base de quase mil profissionais.

JP – No Congresso de Ética dos Jornalistas, a delegação do Maranhão aprovou uma moção, qual foi?

EK – Aprovamos, por unanimidade, uma moção de repúdio contra as práticas antidemocráticas do Sindicato dos Jornalistas de São Luís. Repito. Por unanimidade. Não é possível que todo mundo na platéia estivesse desatenta ou dormindo, como insinuou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Luís, em recente artigo. Considero um avanço para o movimento sindical brasileiro exigir de suas próprias instituições uma postura mais ética e democrática. Em particular, essa foi uma vitória para o movimento dos jornalistas de São Luís termos sidos nós a propormos essa moção. E ressalto. Foi o Congresso dos Jornalistas que aprovou nossa moção, o órgão máximo deliberativo dos jornalistas brasileiros.

JP – Apesar de o Sindicato dos Jornalistas de São Luís ter declarado apoio à chapa vencedora das eleições na Fenaj, você solicitou a anulação das eleições no Maranhão. Por quê?

EK – Não podemos compactuar com condutas que ferem os princípios democráticos da nossa federação. Houve divergência entre a lista dos aptos a votar no processo eleitoral da Fenaj e o número de votantes. Isso é um gritante desrespeito às regras eleitorais e, por mais que o Sindicato tenha oficialmente declarado apoio à chapa da situação e eu pertencesse a ela, não poderia conceber a contagem desses votos, apenas para somar no resultado nacional.

JP – Você acha que categoria está satisfeita com a atual diretora do sindicato?

EK – Acredito que, como eu, a categoria quer dar um basta na situação de imobilismo, ostracismo e inoperância em que se encontra o nosso sindicato. As entidades precisam ser renovar, criar novos parâmetros. Para piorar a situação, o cerceamento à liberdade sindical, ao longo dos anos, é uma afronta aos direitos individuais e coletivos de toda uma categoria. As pessoas foram impedidas ao longo dos anos de se filiarem, regularizarem seus débitos, de participarem da vida do sindicato, de receberem informações sobre o imposto sindical e o pagamento das contribuições. E o mais grave de tudo. Por sucessivos 25 anos, o presidente do sindicato se reelegeu. Então que tal perguntar para a própria categoria se ela ainda agüenta a situação como está?

JP – Como tem sido enfrentar um presidente que recorre a todo tipo de práticas para se manter no poder?

EK – Tanto eu quanto as pessoas que represento defendem idéias. Nossas disputas se dão campo ideológico. Se a situação chegou a ponto de termos que procurar a Justiça para vermos restabelecidos nossos direitos é porque percebemos que todas as nossas tentativas dentro do espaço do sindicato são em vão, enquanto não houver um fim ao cerceamento á liberdade sindical. Não sou eu, nem A ou B. É toda uma categoria. Para se ter uma idéia, nosso estatuto data de 1979 e vai totalmente contra os princípios democráticos da Constituição de 1988, do Código Civil vigente e do Código de Ética do jornalista. Só para citar um exemplo, sobre as eleições, no que diz respeito ao “processo eleitoral, à votação, à posse dos eleitos e aos recursos, o estatuto estabelece que serão obedecidas as normas vigentes na ocasião do pleito”. Normas essas que são deliberadas pelo próprio presidente do Sindicato, porque não houve comissão eleitoral constituída. Outra pérola: A convocação da Assembléia Geral extraordinária não poderá opor-se ao presidente.

JP – Qual a situação da eleição que aconteceu no Sindicato dos Jornalistas?

EK – O processo eleitoral está sub-judice. Após constatar várias irregularidades e a centralização de poder, a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo resolveu ajuizar uma ação na Justiça do Trabalho. A Justiça concedeu liminar suspendendo o processo eleitoral, que foi restabelecido para a realização da eleição por força de mandado de segurança. A eleição aconteceu, mas o processo continua na Justiça, que ainda vai decidir no mérito, ou seja, ver quem tem ou não razão.

JP – Vocês acham que têm chances reais de anular a eleição do Sindicato?

EK – Acreditamos que será feita justiça a toda uma categoria. Esperamos que as provas juntadas ao processo possam convencer a magistratura das nossas alegações, como convenceu quando da apreciação da liminar. Mas independente de qualquer que seja a decisão da Justiça, a categoria precisa buscar meios para filiar-se, participar do sindicato, apesar dos obstáculos criados pelo atual presidente. Nem que para isso, tenhamos que buscar outros mecanismos legais. Ao estarmos filiados, poderemos participar de uma assembléia geral para definir as novas regras eleitorais, como foi decido na liminar, ou poderemos cobrar. A hora é agora. Não podemos mais permitir que o nosso direito de participar do sindicato seja cerceado.

JP – Quais outras falhas apresentadas pela oposição para requerer a anulação do pleito?

EK – Entre tantas outras já citadas, posso ainda citar dois colegas que foram impedidos e pagarem suas anuidades e participarem da nossa chapa, quando um outro colega que sequer estava na lista dos votantes, foi inscrito normalmente na chapa de situação. A desigualdade entre as chapas também é evidente. Enquanto a situação tem 21 pessoas, a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo só teve 10 inscritos. Isso porque obedecemos ao que diz o Estatuto, enquanto o presidente do Sindicato criou cargos, a seu critério, que não estão previstos no Estatuto, para estabelecer uma correlação de forças, desrespeitando o princípio da igualdade entre as chapas.

JP – Você é candidata à presidência do Sindicato dos Jornalistas de São Luís. O presidente do sindicato diz que você quer só o poder. E você, o que diz?

EK – Tanto eu quanto as pessoas que integram a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo não precisam de nenhum cargo no sindicato para justificar uma estabilidade no emprego. Quem conhece a minha trajetória profissional e a de meus colegas, pode confirmar o que eu estou dizendo. Amo a minha profissão. Trabalho por prazer e por saber que o jornalismo ajuda a construir um mundo mais justo e solidário. Mas sei dos desafios da profissão. Já fui repórter, editora, diretora de Redação e hoje atuo como assessora de comunicação. Quando há a valorização do jornalismo, o jornalista, as empresas, a sociedade, todos saem ganhando. É por isso que luto.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Uma nova imagem do Poder Judiciário

A partir da Constituição de 1988, muda o perfil da magistratura, do servidor público e do cidadão. Verifica-se que muda a estrutura do corpo da magistratura com a juvenilização e a feminilização e deflagra-se uma luta surda: o tradicional versus o novo, conforme constata pesquisa encomendada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, documentada no livro "Corpo e Alma da Magistratura". Muda também o perfil do servidor. Ao invés da indicação política, começam a ingressar na carreira os concursados, que gozam de estabilidade, e se fortalecem as organizações dos servidores. As decisões administrativas dos tribunais passam a ser questionadas. O clima organizacional, entretanto, continua carregado de vícios do serviço público: permanece o excesso de burocracia, a falta de liderança e criatividade e boa parte dos servidores está desmotivada.

Nasceu um novo cidadão, que passou a buscar mais os seus direitos, a exigir das organizações públicas mais eficiência e a cobrar pelos serviços que ele paga com seus impostos. Aumentam as demandas na Justiça. Insatisfeito, esse novo cidadão reclama da morosidade da Justiça e o velho ditado de que "a Justiça tarda, mas não falha", já não convence mais.

Surge um novo poder. O Ministério Público passa a ser o guardião dos direitos constitucionais. Ingressam na carreira jovens promotores de Justiça e a instituição como um todo também passa por um processo de juvenilização. Com as novas atribuições, o Ministério Público reformula as ações e passa a ser um espaço para receber as queixas da sociedade. Multiplicam-se as ações civis públicas.

O Poder Judiciário não estava preparado para tantas mudanças. Faz 15 anos que foi promulgada a Constituição e hoje já é possível perceber uma maior preocupação com a democratização do Poder, mas, ao longo de todo esse período, foram enfrentadas várias crises. De um modo geral os Poderes estão diante de uma crise de legitimidade. Não basta ter o poder de decisão para ser legítimo. É preciso ter a aceitação de seus públicos. Logo, pode-se concluir que se um Poder não tem legitimidade (aceitação) sua imagem é desgastada.

Os membros do Poder começam, então, a ver no assessor de Imprensa o bombeiro que apagaria os incêndios, resultado dos anos de silêncio, do formalismo exacerbado e da predominância do juridiquês. O juiz não falava nem com a Imprensa e nem conseguia se comunicar com o cidadão com as suas indecifráveis sentenças. E ao assessor cabia o papel de apenas divulgar as ações.

Ocorre que a comunicação numa organização que enfrenta uma crise de legitimidade (aceitação) e, conseqüentemente, também padece da falta de credibilidade, precisa ser coerente e transparente para que possa construir uma imagem real da organização e, inclusive, buscar e receber o apoio dos seus públicos. De nada adianta a instituição dizer uma coisa e fazer outra. Ou fazer uma coisa e dizer outra.

Roger Cahen, no livro Tudo que seus Gurus não lhe contaram sobre Comunicação Empresarial, 1990, remete para uma reflexão sobre o que ele chama de pirâmide de cristal. Em resumo, a pirâmide é formada por filosofias, políticas, atitudes e atividades. As atividades são visíveis e são o que os públicos percebem, mas para que a organização não caia no descrédito é necessário que as atividades sejam coerentes com as filosofias, políticas e atitudes.

As filosofias das organizações públicas já estão definidas no texto constitucional. São elas: a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O problema, portanto, não está na filosofia das organizações, mas nas políticas e atitudes. O princípio da administração pública elege a transparência como uma de suas filosofias, mas poucos são os órgãos que se arriscam a enveredar por este caminho. Também remete à impessoalidade, mas o que ainda existe é a pessoalidade, sendo, inclusive, a comunicação dirigida sob este aspecto, quando apenas o dirigente máximo aparece. Fala em eficiência, mas poucos são os órgãos que conseguem dar uma resposta rápida aos anseios da sociedade. Fala em moralidade, mas casos isolados de corrupção colocam em xeque toda a organização e até o Poder.

Este talvez seja o "calcanhar de Aquiles" do trabalho das assessorias. Todas as ações no sentido de dar visibilidade ao Poder não foram suficientes para construir uma nova imagem do Judiciário. Temos visibilidade, mas não temos a imagem. Somos uma usina de fabricar notícias, mas nem todos os cidadãos conseguem entender a lógica do Poder e suas decisões. A comunicação não pode e não deve se esgotar nas matérias informativas que levam em conta apenas o critério da factualidade. As assessorias precisam caminhar numa outra linha de atuação, investindo também na conscientização do cidadão, seja por meio da mídia, ou de campanhas. A informação é um direito e não um favor. É um requisito básico para o exercício de outros direitos como o de escolher, de julgar, optar e de participar. Sendo assim, cabe ao assessor encontrar várias formas de democratizar essa informação.

Edvânia Kátia
jornalista do TRT do Maranhão, presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça
www.canaljustica.jor.br

JORNALISTA & ASSESSOR - O que é ser jornalista?

Aí está uma grande discussão. Afinal, os assessores de comunicação são ou não jornalistas?

Quero começar por um trecho do artigo "Assim é, se lhe parece", assinado pelo jornalista Ricardo Noblat. "Para que seja considerado como tal, o jornalismo tem que ser livre, crítico e, se necessário, impiedoso." Deixando de lado os preconceitos advindos da época da ditadura militar, quando surgiu a profissão de assessor de imprensa, o que se tem hoje é uma nova realidade, tanto nas assessorias quanto nas redações. O assessor de imprensa cedeu lugar ao assessor de comunicação e, hoje, eu, particularmente, já vislumbro uma nova figura: o comunicador público, no caso dos assessores de comunicação das organizações públicas. Este é um debate que vem ganhando força nos órgãos da Justiça, e o resultado do trabalho desses comunicadores está estampado nas páginas dos jornais de Norte a Sul do país.

Nas redações, veio a revolução tecnológica, a permissão para a entrada do capital estrangeiro, o desafio de fazer sobreviver os meios de comunicação diante de tanta concorrência. E, aí pergunto: existe imprensa livre? Se o pressuposto para o exercício da profissão de jornalista é a liberdade, posso concluir, e se estiver errada corrijam-me: não há por que lutarmos por um diploma se, diante do atual contexto, não podemos ser livres, e conseqüentemente, não poderíamos ser jornalistas, estejamos nós atuando numa assessoria de comunicação ou numa redação.

Estrada longa

Sempre fui defensora da teoria que não admite o mito da neutralidade. Queiramos ou não, tudo o que fazemos na vida segue uma tendência ideológica, e na profissão de jornalista não poderia ser diferente.Os veículos de comunicação de massa, por mais independentes que possam parecer, têm uma linha ideológica, e os jornalistas que trabalham para esses veículos seguem essa linha. Ou também estarão no olho da rua, assim como os colegas assessores que forem de encontro aos interesses dos assessorados, nas palavras do jornalista Noblat.

Quanto a ser crítico, digo que, pedreiro ou engenheiro, jornalista ou assessor de imprensa, todos nós podemos ser críticos diante da realidade em que vivemos. Não é à toa que o professor Lins da Silva comprova, em Muito além do Jardim Botânico, que o domínio global poderia ser contestado por pessoas simples, praticamente analfabetas, mas que conheçam a sua realidade.

Quanto ao "impiedoso": não quero ser uma jornalista impiedosa, aquela que acredita em suas próprias verdades sem ouvir o outro, que quando vai a uma entrevista já sabe o que fazer, independentemente dos argumentos da fonte. Prefiro ser um assessor de comunicação piedoso, capaz de me ater à notícia e ao fato, por exemplo, de um processo – embora empresas envolvidas no processo possam ter alto poder econômico.

E pergunto: quem é mais livre? O assessor de comunicação que estampa nos releases e nas páginas da internet o resultado de um processo sobre uma multinacional ou o jornalista que se vê impedido de publicar a notícia enviada pela assessoria, porque não está de acordo com a linha editorial do jornal? Que veículo se arrisca a perder verbas publicitárias que seriam possivelmente suspensas por conta do afrontamento?

Acho que estamos diante de grande questões. Jornalismo livre passa necessariamente pela divisão do bolo das verbas publicitárias dos órgãos públicos. Passa também pelo concurso público para assessor de comunicação nas organizações públicas. Pela exigência de diploma para jornalista, pela melhora do ensino de Comunicação no país.

Mas estamos começando a discutir. A estrada é longa, mas quem sabe poderemos chegar lá.


Edvânia Kátia - Jornalista, assessora de comunicação do TRT-MA, presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça e da Associação Maranhense de Imprensa

sábado, 14 de agosto de 2010

Assim nasceu a Associação Maranhense de Imprensa

Assim nasceu a Associação Maranhense de Imprensa

Foram quatro anos. Desde a fundação em 30 de setembro de 1999, quando jornalistas, radialistas e estudantes se reuniram para fundar a Associação Maranhense de Imprensa até hoje, muita coisa mudou.

Os primeiros dois anos muito foram difíceis. Ainda não estávamos suficientemente preparados para consolidar esse projeto. Havia sempre outras prioridades e a colega Lissandra Leite acabou ficando praticamente sozinha com vários papéis, muitas idéias na cabeça, mas pouco apoio. Nem mesmo a eleição foi possível realizar, muito menos o registro. Os requisitos no cartório eram muitos. A lista dos fundadores precisava conter os dados de identificação e endereço, coisa que ela não tinha.

Mas as boas idéias não podem se acabar. Eu sempre digo que “Deus colabora para que as coisas dêem certo quando são justas e dignas”.

Na época, eu e Wal Oliveira estávamos envolvidas com outro grande projeto: realizar o encontro dos assessores de comunicação do Poder Judiciário e Ministério Público, e não pudemos dar o apoio necessário para consolidação, naquele momento da Associação. Realizado o encontro, vencemos aquela etapa, e numa conversa, como sempre costumávamos ter, sobre a necessidade de valorizar a profissão de jornalistas no Maranhão, resolvemos procurar por Lissandra, para ver o que era possível fazer para reativar a Associação. Convidamos outros colegas, e uma das que aceitou o desafio, de imediato, foi a Roseane Pinheiro, jornalista recém-chegada do Amapá, comprometida com causas em defesa do diploma e com o respeito ao profissional e a defesa de valores éticos no exercício da profissão. Somaram também Antônio Carlos, Luanda Belo, Kely Padilha, Ernildo Santos, Graça Lessa, Suely Cavalcante, Gisélia Castro, Ernesto Batista, Telma Borges e muitos outros, que peço que me desculpem pela falha na memória.

Um sábado à tarde, se bem me lembro no segundo semestre de 2000, realizamos uma reunião na Casa da Lissandra. Ela nos contou as dificuldades que teve para levar a frente o registro da Associação. Houve uma desmobilização do grupo inicial e a Associação não conseguiu ir muito adiante. Realizou um debate sobre a “Lei da Mordaça”, participou de alguns atos políticos, mas o grupo estava desmobilizado.

Certas de que aquele era um projeto viável e mais do que necessário para resgatar a dignidade e o respeito dos jornalistas e radialistas no Maranhão, resolvemos assumir a causa. Convocamos uma assembléia, que foi realizada no dia 23 de fevereiro de 2002 e mais colegas vieram a se juntar a nós: Ernildo Santos, Andréa Viana, Luanda Belo, Kely Padilha, Antônio Carlos, Virgínia Ferreira, Wanda Vidigal, Gisélia Castro, Maria Graça Lessa Santos, Ernesto Batista, Bia Carvalho, Luiz Pedro, Sandra Albuquerque, Telma Borges, Suely Cavalcante, Marcos Fábio, e tantos outros.

Nessa assembléia definimos calendário e regimento eleitoral, Comissão Eleitoral, prorrogação do mandato da diretoria provisória e a eleição de uma Comissão que pudesse buscar os dados solicitados no cartório, para a efetivação do registro.

As eleições aconteceram no dia 20 de abril de 2002, durante o I Congresso da Associação Maranhense de Imprensa, e que teve como convidado o presidente do Conselho Federal dos Crea, Wilson Lang, que falou sobre “A Ética e o Exercício Profissional”. Jornalistas e radialistas, filiados à Associação, puderam ir às urnas, num movimento político digno de ser registrado pelas páginas da história da imprensa do Maranhão, e escolheram a chapa única AMI PRA VALER, encabeçada pelas jornalistas Edvânia Kátia e Wal Oliveira. Com mil idéias na cabeça, conversamos, planejamos, discutimos. Chegamos até aqui. Cada um de nós sabe até onde chegamos e onde poderemos chegar. Afinal, como disse no meu discurso de posse, lembrando Isaac Liberman, “precisa-se de pessoas que tenham os pés no chão e a cabeça nas alturas”. Só isso.



Edvânia Kátia – Presidente da Associação Maranhense de Imprensa