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Aqui estou para compartilhar um pouco do que penso sobre a vida e sobre a profissão de jornalista. Sejam todos bem-vindos

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Da pauta à manchete

Essa matéria convida você leitor a uma viagem pela produção diária da notícia. Poucos conhecem a rotina de uma redação e muitos se perguntam como isso acontece. Em algumas linhas, vamos procurar explicar um pouco de tudo

Para quem nunca ouviu falar em pauta, olho, legenda, sutiã, retranca, manchete é difícil entender como funciona uma máquina de fazer notícia. Quem está na Redação vê tudo com simplicidade e os termos complexos começam a fazer parte de um vocabulário muito particular. Mas, se você leitor, quer saber como funciona esse mundo de notícias, acompanhe como se faz a produção diária de O IMPARCIAL e conheça um pouco mais sobre os profissionais envolvidos em cada notícia nesta edição especial.

Tudo começa pela pauta. Quem é jornalista conhece bem o exemplo que diz: "quando um cachorro morde a perna de um homem, isso nem sempre é notícia, mas se o homem morder a perna de um cachorro, isso é notícia".
Aquele jornalista responsável por distribuir as pautas é o pauteiro, bem definido pelo jornalista Ricardo Noblat, como uma espécie de ser extra-terrestre que perde o contato com o mundo lá fora para funcionar como uma espécie de burocrata da Redação. Em O IMPARCIAL, a equipe superou esse modelo e o extra-terrestre foi eliminado. "Hoje trabalhamos com coordenadorias e sub-coordenadorias, onde o planejamento das pautas é conjunto com os repórteres", explica o sub-coordenador Samartony Martins, ex-pauteiro.

O resultado da publicação é avalidado todos os dias. A reunião pela manhã é sagrada. "Comparamos o enfoque, os textos e as fotografias em relação às outras coberturas, mas nos preocupamos muito com o que estamos fazendo. Queremos melhorar mais ", acentua Samartony.
O trabalho precisa de um ritual. "Quando chegamos pela manhã, procuramos ler todos os jornais, para acompanhar a nossa produção e a dos concorrentes. E nunca nos limitamos à área que fazemos a cobertura. Buscamos uma visão global dos assuntos", avalia o repórter Robson Paz, responsável pela série de reportagens sobre a bebê Grace Ellen, queimada em uma maternidade no ano passado. A denúncia foi tão forte que ganhou destaque nacional.

O ponteiro começa a chegar às nove horas. É hora de começar a correr contra o tempo. Cada um com sua pauta, parte para a apuração. Robson Paz, Glaucio Ericeira, Janine Cidreira, Edvânia Kátia, Lucimar Rodrigues, Douglas Cunha, Selma Rosa, César Scanssette, e os setoristas Gisélia Castro, Silvan Alves, Marcelo Sirkis. No trabalho de campo (reportagem), o jornalista precisa saber da responsabilidade que carrega. "Nem sempre o que está na pauta é o que o jornalista vai encontrar na rua. A realidade é bem mais gritante do que aquilo que se imaginava. Quando alguém faz uma denúncia ou quando a gente escuta alguém se indignando, a gente não tem a dimensão do problema até se deparar com a gravidade da doença, da dor de uma família vítima da violência, da desonestidade, ou da mesquinhez das pessoas que desviam dinheiro público. É uma responsabilidade muito grande ser o porta-voz dessa indignação", sabe Janine Cidreira, que para fazer uma denúncia sobre as condições dos hospitais públicos se fez passar por uma estudante de Medicina, para ter acesso às áreas restritas do hospital.

Nas editorias setorizadas de Política, Esporte e Polícia, mais desafios.
A sub-coordenadora Andrea Viana, da área de Política, sabe que trabalha num campo minado. Na dobradinha com Gisélia Castro e Marcelo Sirkis, procura unir imparcialidade com furos de reportagem. "Qualquer editoria de política é um campo minado, mas O IMPARCIAL tem conseguido apurar bem, ouvindo sempre todos os lados envolvidos no fato, fugindo da notícia tendenciosa", ressalta. O colega Sirkis destaca que principalmente nesse eleitoral o repórter da área de política tem que redobrar os cuidados com o que vai escrever porque há matérias plantadas (implantadas), boatos e por isso todo a atenção para checar a informação. "A linha editorial do jornal favorece a liberdade profissional", afirma.
Em Polícia, novos talentos juntos aos veteranos. Silvan Alves conseguiu ao longo dos anos uma agenda de causar inveja. "Quem tem fonte tem tudo", setencia. Ele trabalha em dobradinha com os repórteres do caderno Grande São Luís. O desafio da editoria é superar a notícia policialesca e O IMPARCIAL vai formando escola. "Você pode fazer jornalismo policial sem se limitar ao boletim de ocorrência das delegacias e às fontes oficiais. O boletim é uma indicação, que deve ser investigada", defende o jornalista Glaucio Ericeira, autor de uma série de matéria sobre os emasculados.

No Esporte, a cobertura o desafio, um pouco mais acentuado que nas outras editorias, é acertar no detalhe que vai dar o diferencial em relação ao que foi divulgado pela televisão, pelo rádio ou pelos sites da Internet. "Você não pode imaginar que todas as pessoas que lêem jornal, ouviram o rádio, acessaram o site ou assistiram ao noticiário da tv. O fato tem que ser relatado, mas o que o jornalismo impresso tem o cuidado de fazer é informar além do resultado de uma partida os detalhes que cercaram aquela decisão, os bastidores do que acontece nos treinos. Esse é o diferencial", pondera Neres Pinto, o segundo jornalista mais antigo da Redação. Em sua equipe jovens talentos. Matos Batista e Lenon Carvalho
Material apurado, é o momento de seduzir o leitor.

Reunir em duas ou três palavras o que o repórter disse em mais de 30 linhas, escolher a foto certa e ter uma boa informação sobre ela, na legenda. Para o coordenador Ribamar Praseres, responsáveis pela editorias de Grande São Luís, Consumidor e Polícia, é preciso mais que a técnica. Ele costuma fugir à regra da factualidade e prefere levar em consideração o grau de importância do fato e o número de pessoas envolvidas ou que se interessam pelo assunto. "Procuramos nos preocupar com a sedução do leitor. Procuramos casar elementos gráficos, com a boa informação e nós, que somos responsáveis pelo fechamento, ficamos atentos a todos os detalhes, aquele detalhe que vai fazer com que o leitor não mude de página ". Ele aplica bem a regra aos seus textos. Na matéria de sua autoria Palácios entre Ruínas, publicada em janeiro de 2001 por O IMPARCIAL e o Correio Braziliense, ele denunciou o abandono dos prédios particulares no meio da restauração de prédios públicos.

No final do dia, chega o momento da decisão. Saber o que será ou não publicado caberá ao editor responsável pela página. Todos os responsáveis pelo fechamento vivem esse dilema diário, mas nenhum deles sofre mais que Francisco Júnior, responsável pelo fechamementos da Últimas, que como o próprio nome diz, é a última página que fecha no jornal. "Procuramos trabalhar com o critério da factualidade e também da atualidade do fato. Nesta página priorizamos as notícias que chegam à Redação depois das oito hroas da noite para que no dia seguinte o leitor tenha a versão mais recente do fato, duelando contra os ponteiros do relógio", confessa.
De todos o momento um dos mais difíceis é escolher a manchete. Acertar todos os dias com o tema que vai vender o jornal é um desafio, acredita o responsável pelo fechamento, Marco Aurélio Oliveira, que é o coordenador do Primeiro Caderno. "Acompanho tudo o que acontece durante todo o dia, para na reunião da noite (capa) saber quais os assuntos mais importantes. Não existe a fórmula pronta para uma grande manchete. O qe é bom é surpreender o leitor e estar preparado para as cr'tícas porque quando se faz o diferente, foge do padrão, pode se agradar ou desagradar", destaca.

A criação fica por conta do design gráfico e diretor de Tecnologia, Célio Sérgio. Os dois juntos casam texto e imagens, para, como define Célio, conquistar o leitor. "Surpreender o leitor. Esse é o lema. Atualmente o jornal faz isso na capa e agora com o novo projeto gráfico faremos isso nas páginas internas", explica. No novo projeto "vamos primar pela mesma coerência formal, para dar hegemonia ao projeto, abusando da criatividade e dos recursos gráficos", promete.
A dupla deixou na história de O IMPARCIAL algumas capas memoráveis. Quem não se lembra da capa Você já viu esse filme antes, sobre as chuvas. Ou então, O sonho acabou, quando o jornal antecipou a saída da governadora Roseana Sarney da sucessão presidencial. Os donos do milhão, a infografia do rateio do dinheiro da Lunus. Ou as cruzes que simbolizaram a morte dos meninos emasculados.. Entre os menos favoritos o placar da Polícia 5 X 12 Bandido, que contabiliza as fugas e a captura de presos. Houve quem tivesse achado que foi o resultado de uma partida de futebol.

Toda a redação trabalha com o apoio da equipe da Editoração. São eles que dão forma às ideáis dos editores. Ana Cristina, José Henrique (o Xaxado), Silva Regina, Pablo Lins, Izaac Cutrim, Selma Ferreira, Elizafan. Silvia resume o pensamento da equipe. "O visual é um elemento que deve complementar a leitura. Tento todos os dias fugir da rotina. Tentamos ser criativos para causar impacto no leitor e para que ele tenha uma leitura facilitada", diz.
Assuntos não faltam para a cobertura diária. "Nós, jornalistas, somos treinados com o tempo a usar todos os nossos sentidos. Aprendemos a ver mais longe, escutar mais. As idéias vão surgindo escutando o rádio, vendo a Internet, contactando com as fontes organizadas, mantendo contato com a comunidade ou observando, só observando o que acontece em volta. O mais importante de tudo é que o nosso trabalho deve estar voltado para aquelas pessoas que não sabem o que é pauta, não imaginam o que seja um release, mas sempre têm uma boa história para contar ou estão dispostos a ouvir, ou melhor, ler", convida a jornalista Edvânia Kátia, autora desta matéria feita especialmente para você, leitor.

Texto publicado em O IMPARCIAL, produzido em novembro de 2005.

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