Publicado em www.querdizer.com.br em 19/01/2007
No azul de Jezebel/No céu de Calcutá/Feliz constelação/Reluz no corpo dela/Ai tricolor colar/Az de maracatu/No azul de Zanzibar/Ali meu coração/Zumbiu no gozo dela/Ai mina aperta a minha mão/Alá meu "only you"/No azul da estrela...”
Zanzibar é uma música que eu gosto muito. Transmite alegria. Mas é bem mais que isso. O subtítulo da música - As Cores – é um convite a imaginar o que seria do mundo ser tudo fosse em preto e branco.
Nunca tinha parado e percebido o subtítulo da música. Foi numa dessas noites em que você conversa sobre tudo um pouco com pessoas com quem tem afinidade. Os meses se passaram até que chegou o final do ano. Eu precisava escolher uma música para um amigo invisível de final de ano. Resolvi então pesquisar sobre o significado da música.
Dias antes, aprendi a fazer uma brincadeira muito legal. Em um grupo de amigos, fizemos a brincadeira dos países. A cada um foi entregue uma fita de papel crepom de uma cor. Havia o branco que significava a paz, o verde que significava a esperança, o azul que significava a harmonia, o rosa que significava o amor. Os amigos do grupo juntaram-se de acordo com as cores e o grupo decidia o gesto que mais parecia com o seu país. Fazia o gesto de forma isolada para que os outros apenas observassem. Num determinado momento, os outros países tiveram que repetir os gestos.
Nessa brincadeira aprendemos que o mundo é feito de pessoas diferentes, que falam línguas diferentes, tem credos e concepções políticas diferentes, mas independente de qualquer coisa são pessoas que precisam de outras pessoas para crescer. O melhor de nossas vidas só acontece quando aprendemos a compartilhar. Por mais conhecimento que se possa ter, falar todas as línguas, viajar por todos os lugares. Tudo só faz sentido se houver com quem comemorar.
Mas continuava intrigada por ter escolhido a música. A princípio, tinha escolhido porque sempre gostei e também por causa do subtítulo.
Curiosa por natureza – acho que essa é uma característica dos jornalistas -, não me dei por vencida. Descobri que Zanzibar é o lugar onde nasceu Fred Mercury
Zanzibar se tornou independente e em 1964 estava à beira de uma revolução liderada pelo partido africano. Muitos ingleses e indianos tiveram que abandonar a ilha por razões de segurança. Recebeu o nome de República Unida da Tanzânia. É conhecido pelas suas riquezas naturais, especialmente os parques e reservas de animais selvagens. Como a ilha foi dominada por diversos povos, de diferentes etnias, credos e culturas, os residentes atuais formam uma miscigenação de raças. Africanos, árabes, indianos, alemães, ingleses e outros povos praticam religiões diversas - cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o protestantismo e inúmeras crenças tradicionais nativas – e falam diferentes dialetos, embora o inglês e o suaile sejam as línguas oficiais do país.
Segundo o autor da música, o próprio Fausto Nilo, em entrevista ao Portal Verdes Mares, na música " Zanzibar tem coisas que muita gente não entende, pensa que é só coisa sem sentido, ou bregona. Mas não é não”. Na realidade, é um estilo à moda surrealista, baseada apenas na associação livre de idéias.
Registra o portal No Olhar.com (03.04.2004) que “a música está no time das canções indecifráveis da MPB. A letra foi parar nas páginas do jornal carioca O Globo, acabando por vencer o concurso Zum de Besouro, lançado pelo colunista Artur Xexéu. Em disputa, as mais 'bizarras' ou incompreensíveis canções da MPB. O ’tricolor colar’ intrigou leitores e houve quem afirmasse que o letrista quis homenagear a Jamaica e a boina de Bob Marley, assim como as guias de umbanda”. '
'Estava em Salvador quando Armandinho me deu essa música. Voei de volta para o Rio lembrando de uma pichação recorrente nos muros da capital baiana, à época: ''Zanziblue''. Por onde passava, via isso. Depois, ainda no avião, lembrei de um filme estrelado por Dorothy Lamour, Viajando para Zanzibar. E assim a coisa foi saindo até chegar em Paracuru, como simples efeito de rima. O fato é que estourou e cheguei a receber um telefonema de congratulação do prefeito por ter contribuído com o incremento do carnaval de lá. Depois, fui convidado a fazer algo semelhante para outra localidade, mas não aceitei a encomenda. E o famoso bar baiano só surgiu anos depois. Gilberto Gil o homenageou. Não eu'', esclareceu, enfim, Fausto Nilo na entrevista concedida ao portal No Olhar.com.
A brincadeira do amigo invisível falou da união dos países e das pessoas, cada um com sua cor. O sub-título da música – As Cores. Então que 2007 seja um pouco Zanzibar para nós. Que possamos ser mais felizes, deixando as cores invadirem nossas vidas. Que os povos possam se integrar mais e as pessoas também. Que a gente diga coisas sem nexo sem medo de dizer. Que mesmo que as pessoas não compreendam o que estamos dizendo ou fazendo entendam o que estamos sentindo. Que o azul da estrela, o tricolor e a feliz constelação façam sentido em nossas vidas.
Boas vindas
Aqui estou para compartilhar um pouco do que penso sobre a vida e sobre a profissão de jornalista. Sejam todos bem-vindos
domingo, 12 de dezembro de 2010
O amor é criativo
Publicado em www.querdizer.com.br em 10/11/2006
Quando Roberto Freire escreveu o livro Ame e dê Vexame acertou em cheio. De fato, o amor mexe com os padrões convencionais que estabelecemos para nossas vidas e nos leva a fazer coisas que nós mesmos não acreditamos que um dia seríamos capazes. Alguns chamam de paixão. Mas o fato é que quando esse potencial criativo é estimulado, passamos a viver um momento único em que só o que importa é fazer a quem amamos felizes e, conseqüentemente, ficamos felizes.
O potencial criativo é explicado cientificamente. Descobri que num estudo realizado na França ficou comprovado que o nosso organismo reage aos estímulos do amor. Quando nos apaixonamos, o nosso cérebro produz a feniletilamine, também chamada de "anfetamina do amor". É essa substância que desbloqueia nossas inibições emoções e, consequentemente, estimula nossa criatividade e imaginação. O organismo também libera a endorfina, morfina produzida pelo corpo na glândula hipófise, o que provoca uma sensação de bem-estar. Enquanto a surpresa planejada não acontece, ficamos tensos, nervosos, calculando os minutos, mas ao final de tudo, sentimos uma enorme sensação de felicidade.
Durante alguns dias, estive conversando com as pessoas sobre esse potencial criativo. Percebi que algumas têm vergonha de confessar as loucuras que já fizeram por amor. Voltaram à razão. Não estão drogadas pela anfetamina do amor. Outras, pior, nunca experimentaram essa sensação. Coitadas. Mas, há aquelas que falam do amor como algo leve e contagiante, não importando o tempo que tenha durado, mas a intensidade com tenha sido vivido. Que seja eterno enquanto dure, ou, que me permita Vinícius de Morais, enquanto duro, se preferirem. Afinal, amor também é tesão.
As histórias são surpreendentes. Uma delas é o romance de casal em que um viajou, mas, para surpreender o seu parceiro, foi a uma floricultura e encomendou rosas para serem entregues de uma em uma hora. Outro, apaixonado por uma cantora famosa, decidiu colocar a vergonha de lado, e quando ela veio fazer um show em São Luís, não pensou duas vezes: é a minha grande chance. No dia do show, ele contratou uma floricultura e de meia em meia hora mandava entregar rosas no camarim. Pessoas diferentes, histórias parecidas.
Há as declarações públicas de amor. Namorando há alguns anos e ainda apaixonado, ele já havia pedido a noiva em casamento por diversas vezes, mas a resposta era sempre não. Até que um dia, tomou coragem e resolveu pedi-la em casamento através de anúncio de jornal, claro, em formato de coração. Ela não resistiu e atendeu ao pedido. Num outro caso, alguém resolveu tomar uma atitude e espalhou outdoors pela cidade. Tudo para demonstrar o seu amor. Estão juntos até hoje.
O potencial criativo também se revela na simplicidade. Tenho um amigo que toda vez que se encontrava com a namorada levava o que ele intitulou de mimo. O nome dela era Flor e, então, a cada encontro sua fonte de inspiração recebia um chaveiro, um livro, um brinco, desde que tivesse uma flor. Outro caso é o de um amigo que, para conquistar a namorada que havia viajado, foi ao encontro dela em outra cidade e desenhou em sua porta um violão, deixando um recado. Como não haveria mais ninguém no mundo que pudesse fazer aquilo, ela foi ao encontro e os dois começaram a namorar.
E nas datas comemorativas. Muitos de nós, alegamos que estas datas só servem para o comércio vender mais, mas, quando estamos envolvidos esquecemos completamente de filosofar sobre o assunto. Um quase romance despertou o potencial criativo em seu parceiro em uma dessas datas. Em meio a confusão que é o comércio nestas datas, um saiu a procura de um presente simbólico, que pudesse representar algo para o outro. Entrou e saiu de loja e não encontrou nada que pudesse surpreender, até que veio o estalo. Vou mandar fazer uma camiseta sob encomenda com a frase perfeita. No dia seguinte, estava lá, o entregador para fazer a surpresa.
Em alguns casos, o amor contagia quem está ao redor. Assumir o lugar do cantor e, mesmo com as pernas tremendo e o coração a palpitar, subir no palco com um bouquê de rosas, tudo para declamar o amor no dia do aniversário de sua amada. Vocês já podem imaginar o que aconteceu. O bar inteiro se emocionou e foi um verdadeiro parabéns coletivo. Estavam todos ali, felizes porque o amor existe. Não importa se dura um dia, um mês, um ano ou a vida inteira. O que importa é que ele existe e nos faz acreditar que podemos ser melhores.
E nem a distância é uma barreira para um coração enamorado. Mesmo estando do outro lado do mundo, se e capaz de fazer uma surpresa. Foi o que fez um amigo. Mandou chocolates, via amigo, para sua amada. Detalhe: a encomenda veio da Europa. Para um outro casal, a história se definiu quando um resolveu declarar-se também via fita K-7, narrando os momentos bons que tinham passado juntos numa despedida dentro do avião. Resultado: ele deixou tudo onde morava para viver sua grande história de amor. Um outro caso, um dos apaixonados gravou uma fita K-7 – ainda não era o tempo do CD - com as músicas preferidas do seu par, de viva voz ao violão.
As músicas, aliás, estão sempre presentes nas histórias de amor. Todo casal tem a sua trilha sonora, mas isso e motivo para um outro texto. Por enquanto, vou encerrando com uma das histórias mais interessantes que conheço. Separados pela distância, um resolveu surpreender o outro no dia do seu aniversário. Antecipou o presente, que eram trechos musicais selecionados, colocados em uma caixinha de papelão. O detalhe é que para ler as mensagens, o outro tinha que usar uma caneta com a lâmpada especial – caneta da tinta invisível. Mas quando um pensou que o presente estava completo, enganou-se. O outro foi capaz de surpreendê-lo com a ajuda de amigos, fazendo uma espécie de serenata em sua porta, com algumas das músicas selecionadas.
De tudo o que ouvi, aprendi que histórias de amor todo mundo tem. Mas as melhores são aquelas que, por mais que se viva uma eternidade, sempre lembraremos com carinho e poderemos contar sorrindo, como se o tempo nunca tivesse passado. É sempre bom deixar voar o coração para lá do arco-íris porque ninguém pode nos impedir de levantar a âncora, partir e ser feliz, já disse Kleiton e Kledir.
Quando Roberto Freire escreveu o livro Ame e dê Vexame acertou em cheio. De fato, o amor mexe com os padrões convencionais que estabelecemos para nossas vidas e nos leva a fazer coisas que nós mesmos não acreditamos que um dia seríamos capazes. Alguns chamam de paixão. Mas o fato é que quando esse potencial criativo é estimulado, passamos a viver um momento único em que só o que importa é fazer a quem amamos felizes e, conseqüentemente, ficamos felizes.
O potencial criativo é explicado cientificamente. Descobri que num estudo realizado na França ficou comprovado que o nosso organismo reage aos estímulos do amor. Quando nos apaixonamos, o nosso cérebro produz a feniletilamine, também chamada de "anfetamina do amor". É essa substância que desbloqueia nossas inibições emoções e, consequentemente, estimula nossa criatividade e imaginação. O organismo também libera a endorfina, morfina produzida pelo corpo na glândula hipófise, o que provoca uma sensação de bem-estar. Enquanto a surpresa planejada não acontece, ficamos tensos, nervosos, calculando os minutos, mas ao final de tudo, sentimos uma enorme sensação de felicidade.
Durante alguns dias, estive conversando com as pessoas sobre esse potencial criativo. Percebi que algumas têm vergonha de confessar as loucuras que já fizeram por amor. Voltaram à razão. Não estão drogadas pela anfetamina do amor. Outras, pior, nunca experimentaram essa sensação. Coitadas. Mas, há aquelas que falam do amor como algo leve e contagiante, não importando o tempo que tenha durado, mas a intensidade com tenha sido vivido. Que seja eterno enquanto dure, ou, que me permita Vinícius de Morais, enquanto duro, se preferirem. Afinal, amor também é tesão.
As histórias são surpreendentes. Uma delas é o romance de casal em que um viajou, mas, para surpreender o seu parceiro, foi a uma floricultura e encomendou rosas para serem entregues de uma em uma hora. Outro, apaixonado por uma cantora famosa, decidiu colocar a vergonha de lado, e quando ela veio fazer um show em São Luís, não pensou duas vezes: é a minha grande chance. No dia do show, ele contratou uma floricultura e de meia em meia hora mandava entregar rosas no camarim. Pessoas diferentes, histórias parecidas.
Há as declarações públicas de amor. Namorando há alguns anos e ainda apaixonado, ele já havia pedido a noiva em casamento por diversas vezes, mas a resposta era sempre não. Até que um dia, tomou coragem e resolveu pedi-la em casamento através de anúncio de jornal, claro, em formato de coração. Ela não resistiu e atendeu ao pedido. Num outro caso, alguém resolveu tomar uma atitude e espalhou outdoors pela cidade. Tudo para demonstrar o seu amor. Estão juntos até hoje.
O potencial criativo também se revela na simplicidade. Tenho um amigo que toda vez que se encontrava com a namorada levava o que ele intitulou de mimo. O nome dela era Flor e, então, a cada encontro sua fonte de inspiração recebia um chaveiro, um livro, um brinco, desde que tivesse uma flor. Outro caso é o de um amigo que, para conquistar a namorada que havia viajado, foi ao encontro dela em outra cidade e desenhou em sua porta um violão, deixando um recado. Como não haveria mais ninguém no mundo que pudesse fazer aquilo, ela foi ao encontro e os dois começaram a namorar.
E nas datas comemorativas. Muitos de nós, alegamos que estas datas só servem para o comércio vender mais, mas, quando estamos envolvidos esquecemos completamente de filosofar sobre o assunto. Um quase romance despertou o potencial criativo em seu parceiro em uma dessas datas. Em meio a confusão que é o comércio nestas datas, um saiu a procura de um presente simbólico, que pudesse representar algo para o outro. Entrou e saiu de loja e não encontrou nada que pudesse surpreender, até que veio o estalo. Vou mandar fazer uma camiseta sob encomenda com a frase perfeita. No dia seguinte, estava lá, o entregador para fazer a surpresa.
Em alguns casos, o amor contagia quem está ao redor. Assumir o lugar do cantor e, mesmo com as pernas tremendo e o coração a palpitar, subir no palco com um bouquê de rosas, tudo para declamar o amor no dia do aniversário de sua amada. Vocês já podem imaginar o que aconteceu. O bar inteiro se emocionou e foi um verdadeiro parabéns coletivo. Estavam todos ali, felizes porque o amor existe. Não importa se dura um dia, um mês, um ano ou a vida inteira. O que importa é que ele existe e nos faz acreditar que podemos ser melhores.
E nem a distância é uma barreira para um coração enamorado. Mesmo estando do outro lado do mundo, se e capaz de fazer uma surpresa. Foi o que fez um amigo. Mandou chocolates, via amigo, para sua amada. Detalhe: a encomenda veio da Europa. Para um outro casal, a história se definiu quando um resolveu declarar-se também via fita K-7, narrando os momentos bons que tinham passado juntos numa despedida dentro do avião. Resultado: ele deixou tudo onde morava para viver sua grande história de amor. Um outro caso, um dos apaixonados gravou uma fita K-7 – ainda não era o tempo do CD - com as músicas preferidas do seu par, de viva voz ao violão.
As músicas, aliás, estão sempre presentes nas histórias de amor. Todo casal tem a sua trilha sonora, mas isso e motivo para um outro texto. Por enquanto, vou encerrando com uma das histórias mais interessantes que conheço. Separados pela distância, um resolveu surpreender o outro no dia do seu aniversário. Antecipou o presente, que eram trechos musicais selecionados, colocados em uma caixinha de papelão. O detalhe é que para ler as mensagens, o outro tinha que usar uma caneta com a lâmpada especial – caneta da tinta invisível. Mas quando um pensou que o presente estava completo, enganou-se. O outro foi capaz de surpreendê-lo com a ajuda de amigos, fazendo uma espécie de serenata em sua porta, com algumas das músicas selecionadas.
De tudo o que ouvi, aprendi que histórias de amor todo mundo tem. Mas as melhores são aquelas que, por mais que se viva uma eternidade, sempre lembraremos com carinho e poderemos contar sorrindo, como se o tempo nunca tivesse passado. É sempre bom deixar voar o coração para lá do arco-íris porque ninguém pode nos impedir de levantar a âncora, partir e ser feliz, já disse Kleiton e Kledir.
sábado, 11 de dezembro de 2010
Valeu a pena
Postado em 11/10/2006 em www.querdizer.com.br
Foram 123 mil votos. Para alguns, surpresa. Para outros, certeza. Quando o juiz federal Flávio Dino de Castro e Costa, depois de uma brilhante carreira no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, e da passagem pela presidência da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), resolveu deixar o cargo de secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça para candidatar-se a um cargo eletivo no Maranhão, houve quem se perguntasse se ele estava fazendo a coisa certa.
Muitos questionaram: deixar a magistratura, uma carreira promissora, para se aventurar numa disputa política? Não entendiam que, embora a vida tenha lhe oferecido caminhos diferentes e outras oportunidades, ele nunca abandonou o sonho de atuar na política partidária.
Acreditou e com ele, outros acreditaram. São eleitores anônimos e lideranças, que, hoje, na vitória de Flávio Dino comemoram pela sua eleição e pela certeza de que a mudança pode acontecer quando se acredita que é possível e sabe-se fazer a diferença.
Quem esteve presente no dia do lançamento do manifesto de sua candidatura, na Lagoa da Jansen, viu Dino buscar inspiração no poeta Fernando Pessoa, em uma de suas clássicas frases, para justificar sua decisão. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Disse em todas as letras que estava deixando a vida estável, confortável e as prerrogativas de um cargo de juiz para apostar em uma nova viagem, de futuro incerto.
Como ele e com ele, muitos acreditaram. Se houve quem duvidasse, para os que acreditaram, a vitória sempre foi certa. Uma campanha embalada por pessoas que acreditam que na política e na vida é possível ser ético, solidário e compromissado. Pessoas que são capazes de doar suas vidas a uma causa coletiva, sem o medo de olhar para o passado por terem sido omissas.
Se votaram os progressistas, também houve votos decorrentes das alianças e de grupos conservadores. No mundo da política partidária, é preciso ser político o suficiente para fazer política. Transitar em vários espaços, sem nunca perder de vista as causas e os compromissos. Dialogar com várias correntes não é abandonar um ideal, é sustentá-lo em espaços diversos. É isso que parte do eleitorado que votou Flávio Dino acredita.
Durante toda a campanha eleitoral, quando se falava na candidatura de Flávio Dino, de pronto, era fácil receber o apoio de quem desejava mudança. Independente de raça, sexo, cor ou partido político, o sentimento de que podemos ter representantes legítimos, com propostas coerentes, dava o tom das conversas sobre sua candidatura. A surpresa foi a expressiva votação. Na sua primeira disputa eleitoral, ele arrastou votos. Como? Devem ter perguntado. Para quem sempre atuou politicamente, mas estava distante da política partidária, como conquistar tantos votos? É o próprio Flávio Dino que dá a resposta. Na sua concepção, sua eleição se deve a três fatores: a insatisfação com o quadro social do Estado; o acúmulo da luta do movimento social; e a esperança de renovação política".
De fato, quantos eleitores anônimos e outros militantes, que conheciam a sua história desde a época do colégio Marista ou do movimento estudantil, nos idos dos anos 80 na Universidade Federal do Maranhão, pediram sem medo voto para elegê-lo. Quantas vezes, eu ouvi. Todo mundo que conheceu Flávio Dino fez questão de pedir voto para ele. Quantos eleitores, sonhando com um novo momento político, viram em Flávio Dino um exemplo, um político com um futuro jovem e promissor, que soube fazer diferença na magistratura e também poderá, por certo, fazer na política.
Durante a comemoração, em cada abraço, a certeza de que o desejo de mudança está fortalecido. Um momento da comemoração resume bem o que eu quero dizer. Em determinado momento, na quadra do Colégio Aprovação, na noite deste domingo, 1º de outubro de 2006, um depoimento registra: a candidatura de Flávio Dino foi suprapartidária, uma nova forma de fazer política no Maranhão. De fato, lá estavam os com e os sem-partido. Mas todos com uma convicção: essa foi uma das vitórias de muitas outras que ainda estão por vir.
Na noite deste domingo, uma música ficou marcada. Pescador de Ilusões, do Rappa. O refrão valeu a pena foi repetido várias vezes. Uma frase ficou marcada. Valeu a pena tudo o que foi feito, mas valerá muito mais, disse Flávio Dino, nos agradecimentos. É o que todos acreditam e esperam.
* Publicado no site www.querdizer.com.br em 11/10/2006
Foram 123 mil votos. Para alguns, surpresa. Para outros, certeza. Quando o juiz federal Flávio Dino de Castro e Costa, depois de uma brilhante carreira no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, e da passagem pela presidência da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), resolveu deixar o cargo de secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça para candidatar-se a um cargo eletivo no Maranhão, houve quem se perguntasse se ele estava fazendo a coisa certa.
Muitos questionaram: deixar a magistratura, uma carreira promissora, para se aventurar numa disputa política? Não entendiam que, embora a vida tenha lhe oferecido caminhos diferentes e outras oportunidades, ele nunca abandonou o sonho de atuar na política partidária.
Acreditou e com ele, outros acreditaram. São eleitores anônimos e lideranças, que, hoje, na vitória de Flávio Dino comemoram pela sua eleição e pela certeza de que a mudança pode acontecer quando se acredita que é possível e sabe-se fazer a diferença.
Quem esteve presente no dia do lançamento do manifesto de sua candidatura, na Lagoa da Jansen, viu Dino buscar inspiração no poeta Fernando Pessoa, em uma de suas clássicas frases, para justificar sua decisão. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Disse em todas as letras que estava deixando a vida estável, confortável e as prerrogativas de um cargo de juiz para apostar em uma nova viagem, de futuro incerto.
Como ele e com ele, muitos acreditaram. Se houve quem duvidasse, para os que acreditaram, a vitória sempre foi certa. Uma campanha embalada por pessoas que acreditam que na política e na vida é possível ser ético, solidário e compromissado. Pessoas que são capazes de doar suas vidas a uma causa coletiva, sem o medo de olhar para o passado por terem sido omissas.
Se votaram os progressistas, também houve votos decorrentes das alianças e de grupos conservadores. No mundo da política partidária, é preciso ser político o suficiente para fazer política. Transitar em vários espaços, sem nunca perder de vista as causas e os compromissos. Dialogar com várias correntes não é abandonar um ideal, é sustentá-lo em espaços diversos. É isso que parte do eleitorado que votou Flávio Dino acredita.
Durante toda a campanha eleitoral, quando se falava na candidatura de Flávio Dino, de pronto, era fácil receber o apoio de quem desejava mudança. Independente de raça, sexo, cor ou partido político, o sentimento de que podemos ter representantes legítimos, com propostas coerentes, dava o tom das conversas sobre sua candidatura. A surpresa foi a expressiva votação. Na sua primeira disputa eleitoral, ele arrastou votos. Como? Devem ter perguntado. Para quem sempre atuou politicamente, mas estava distante da política partidária, como conquistar tantos votos? É o próprio Flávio Dino que dá a resposta. Na sua concepção, sua eleição se deve a três fatores: a insatisfação com o quadro social do Estado; o acúmulo da luta do movimento social; e a esperança de renovação política".
De fato, quantos eleitores anônimos e outros militantes, que conheciam a sua história desde a época do colégio Marista ou do movimento estudantil, nos idos dos anos 80 na Universidade Federal do Maranhão, pediram sem medo voto para elegê-lo. Quantas vezes, eu ouvi. Todo mundo que conheceu Flávio Dino fez questão de pedir voto para ele. Quantos eleitores, sonhando com um novo momento político, viram em Flávio Dino um exemplo, um político com um futuro jovem e promissor, que soube fazer diferença na magistratura e também poderá, por certo, fazer na política.
Durante a comemoração, em cada abraço, a certeza de que o desejo de mudança está fortalecido. Um momento da comemoração resume bem o que eu quero dizer. Em determinado momento, na quadra do Colégio Aprovação, na noite deste domingo, 1º de outubro de 2006, um depoimento registra: a candidatura de Flávio Dino foi suprapartidária, uma nova forma de fazer política no Maranhão. De fato, lá estavam os com e os sem-partido. Mas todos com uma convicção: essa foi uma das vitórias de muitas outras que ainda estão por vir.
Na noite deste domingo, uma música ficou marcada. Pescador de Ilusões, do Rappa. O refrão valeu a pena foi repetido várias vezes. Uma frase ficou marcada. Valeu a pena tudo o que foi feito, mas valerá muito mais, disse Flávio Dino, nos agradecimentos. É o que todos acreditam e esperam.
* Publicado no site www.querdizer.com.br em 11/10/2006
sábado, 4 de dezembro de 2010
É preciso debater a regulamentação profissional
Postado em 25/08/2006 em www.querdizer.com.br
Assistimos há poucos dias o debate sobre o projeto de lei que ampliava as funções de jornalistas. Defendido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sindicatos dos jornalistas em todo o país e pela Associação Maranhense de Imprensa, o projeto recebeu críticas do Conselho Federal de Relações Públicas (Conferp), Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Federação dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão (Fiterp)) e Associação Brasileira de Imprensa. O duelo principal foi a regulamentação profissional e o direito à liberdade de imprensa. Vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto agora será debatido por um Grupo de Trabalho indicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Entendo que a atualização da regulamentação de uma profissão não fere em nada o direito à liberdade de expressão. Fosse assim, também sob o pretexto de que minha liberdade de expressão está sendo ferida, posso ingressar com uma ação na Justiça solicitando ter o direito de proferir uma sentença porque também tenho o direito de expressar o que penso, em formato judicial. Ou solicitar na Justiça o direito de poder fazer o projeto arquitetônico da minha casa, a partir da minha liberdade de expressão. Se tenho criatividade e imaginação para fazer o projeto, não deveria, então, contratar um arquiteto, e ao fazê-lo estou inibindo a minha liberdade de pensar e expressar em um papel o que desejo?
Mas defendo o contrário e como eu, sei que as entidades representativas dos jornalistas, que saíram em defesa da nova regulamentação profissional assim também defendem. Defendo que todas as categorias tenham as suas garantias resguardadas, para que se tenha um estado democrático de direito, respeitadas as especificidades de cada profissão, e para que estas profissões sejam fortalecidas. Só assim, os profissionais, de todas as áreas, poderão ter liberdade para exercer o seu ofício, sem o risco de verem a precarização das relações de trabalho, pautados na ética do exercício profissional e comprometidos com o conjunto social.
O fato de os jornalistas terem direito a uma regulamentação não coloca em risco a sociedade. Muito pelo contrário. Protege. Sem leis, toda a sociedade é fragilizada. O projeto vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantia a regulamentação da profissão, ameaçada por diversas ações na Justiça de pessoas que insistem em exercer uma profissão sem diploma. Sempre pergunto: hoje são os jornalistas. E amanhã: quais outros profissionais estarão em risco.
O debate não era, de forma simplista como foi colocado por parte da mídia, a ampliação das funções dos jornalistas que queriam “invadir” a área de outras profissões. Devemos, principalmente como comunicadores, perceber o que é dito, verbalizado, e o que está nas entrelinhas, o discurso não dito, o que há de interesse por trás de determinados discursos. O debate central e a grande luta de quem saiu em defesa do projeto foi a defesa do diploma, a defesa das profissões, a defesa de garantias para o exercício profissional, a defesa da regulamentação profissional.
O debate saudável cedeu lugar para um debate carregado de falsas verdades. Só para citar um exemplo não se debateu sobre, de fato, o que faz um profissional numa assessoria de comunicação e de que forma estas estruturas poderão ser fortalecidas com o conhecimento de vários especialistas. Todos nós sabemos que há espaço suficiente para a convivência harmoniosa dos vários profissionais da comunicação dentro da estrutura de uma assessoria de comunicação. A evolução do mercado de trabalho é inegável. Hoje não são só os jornalistas que estão nas assessorias de comunicação – de comunicação e não de imprensa – mas também os radialistas. Que a legislação dos radialistas não contempla o trabalho desses profissionais nas assessorias, pois limita a esta categoria o trabalho apenas nas empresas de radiodifusão, mas eles também começam a buscar seu lugar ao sol em novos campos de trabalho.
As leis sempre vêm para regulamentar as necessidades criadas pela sociedade. Amanhã, serão estes profissionais, ao tentarem buscar regularizar essa nova realidade no mercado de trabalho, acusados de estarem invadindo uma outra área?
O projeto adequava a lei à realidade do mercado de trabalho, como é o caso das assessorias de imprensa. Também corrigia distorções históricas e brechas deixadas pelo decreto de 69, que fragilizava o exercício da profissão. Só para citar um exemplo, hoje, para quem não sabe, tem motorista fazendo foto para jornal em máquinas digitais e ganhando como motorista. Isso é a precarização das relações de trabalho. É essa a liberdade de imprensa que queremos?
O decreto da profissão dos jornalistas é de 69 e hoje vive-se numa democracia. Este foi um dos argumentos utilizados pela juíza Carla Rister na sua sentença que retirou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Que o decreto era da época da ditadura e que, portanto, não servia aos tempos atuais. Lembram? Não fosse a coerência do Tribunal Regional Federal de São Paulo que, por unanimidade, restaurou o direito que os profissionais têm ao diploma de nível superior e a sociedade tem de ter uma informação de qualidade, a situação seria hoje ainda bem pior. Mas o processo está tramitando no Supremo Tribunal Federal a quem caberá a palavra final. Se nem o Executivo, nem o Legislativo têm coragem de decidir, por certo, a Justiça o fará.
Tenho aprofundado bastante a leitura sobre este assunto e fico cada vez mais chocada com os argumentos utilizados. Diz o parecer do Ministério da Justiça que “a existência de tais limitações ao exercício do jornalismo traz duas conseqüências jurídicas principais: (i) a extensão do registro profissional no Ministério do Trabalho e Emprego a novas categorias e atividades. Ora, hoje os assessores de imprensa, os cinegrafistas e repórteres fotográficos já têm o registro. E diga-se de passagem: emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, sob a tutela do Estado.
Diz ainda o parecer do Ministério da Justiça que “a ampliação da exigência de diploma de nível Superior de jornalismo para o exercício da atividade profissional a todas as funções, além daquelas previstas no art. 6o do Decreto-Lei no 972, de 1969”. Claro. Uma nova lei tem que contemplar as novas exigência do mercado de trabalho, senão não haveria a necessidade de uma nova lei.
Estou cada vez mais convencida de que o faltou foi um debate conceitual sobre o que é assessoria de imprensa e o que é assessoria de comunicação. O que é liberdade de imprensa e o que é regulamentação profissional. Debate este que não aconteceu porque poucos foram os que se deram ao trabalho de realmente ler e entender o que estava acontecendo, ficando muitos apenas com os velhos preconceitos e se deixando levar pelo jogo da informação e da contra-informação. Vamos nos perguntar solitariamente quantos os que foram contra, de fato, pararam para ler o projeto e comparar com os decretos anteriores de 69 e 78 e ver onde estavam as reais mudanças? A resposta, só cada um poderá ter.
Assistimos há poucos dias o debate sobre o projeto de lei que ampliava as funções de jornalistas. Defendido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sindicatos dos jornalistas em todo o país e pela Associação Maranhense de Imprensa, o projeto recebeu críticas do Conselho Federal de Relações Públicas (Conferp), Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Federação dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão (Fiterp)) e Associação Brasileira de Imprensa. O duelo principal foi a regulamentação profissional e o direito à liberdade de imprensa. Vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto agora será debatido por um Grupo de Trabalho indicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Entendo que a atualização da regulamentação de uma profissão não fere em nada o direito à liberdade de expressão. Fosse assim, também sob o pretexto de que minha liberdade de expressão está sendo ferida, posso ingressar com uma ação na Justiça solicitando ter o direito de proferir uma sentença porque também tenho o direito de expressar o que penso, em formato judicial. Ou solicitar na Justiça o direito de poder fazer o projeto arquitetônico da minha casa, a partir da minha liberdade de expressão. Se tenho criatividade e imaginação para fazer o projeto, não deveria, então, contratar um arquiteto, e ao fazê-lo estou inibindo a minha liberdade de pensar e expressar em um papel o que desejo?
Mas defendo o contrário e como eu, sei que as entidades representativas dos jornalistas, que saíram em defesa da nova regulamentação profissional assim também defendem. Defendo que todas as categorias tenham as suas garantias resguardadas, para que se tenha um estado democrático de direito, respeitadas as especificidades de cada profissão, e para que estas profissões sejam fortalecidas. Só assim, os profissionais, de todas as áreas, poderão ter liberdade para exercer o seu ofício, sem o risco de verem a precarização das relações de trabalho, pautados na ética do exercício profissional e comprometidos com o conjunto social.
O fato de os jornalistas terem direito a uma regulamentação não coloca em risco a sociedade. Muito pelo contrário. Protege. Sem leis, toda a sociedade é fragilizada. O projeto vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantia a regulamentação da profissão, ameaçada por diversas ações na Justiça de pessoas que insistem em exercer uma profissão sem diploma. Sempre pergunto: hoje são os jornalistas. E amanhã: quais outros profissionais estarão em risco.
O debate não era, de forma simplista como foi colocado por parte da mídia, a ampliação das funções dos jornalistas que queriam “invadir” a área de outras profissões. Devemos, principalmente como comunicadores, perceber o que é dito, verbalizado, e o que está nas entrelinhas, o discurso não dito, o que há de interesse por trás de determinados discursos. O debate central e a grande luta de quem saiu em defesa do projeto foi a defesa do diploma, a defesa das profissões, a defesa de garantias para o exercício profissional, a defesa da regulamentação profissional.
O debate saudável cedeu lugar para um debate carregado de falsas verdades. Só para citar um exemplo não se debateu sobre, de fato, o que faz um profissional numa assessoria de comunicação e de que forma estas estruturas poderão ser fortalecidas com o conhecimento de vários especialistas. Todos nós sabemos que há espaço suficiente para a convivência harmoniosa dos vários profissionais da comunicação dentro da estrutura de uma assessoria de comunicação. A evolução do mercado de trabalho é inegável. Hoje não são só os jornalistas que estão nas assessorias de comunicação – de comunicação e não de imprensa – mas também os radialistas. Que a legislação dos radialistas não contempla o trabalho desses profissionais nas assessorias, pois limita a esta categoria o trabalho apenas nas empresas de radiodifusão, mas eles também começam a buscar seu lugar ao sol em novos campos de trabalho.
As leis sempre vêm para regulamentar as necessidades criadas pela sociedade. Amanhã, serão estes profissionais, ao tentarem buscar regularizar essa nova realidade no mercado de trabalho, acusados de estarem invadindo uma outra área?
O projeto adequava a lei à realidade do mercado de trabalho, como é o caso das assessorias de imprensa. Também corrigia distorções históricas e brechas deixadas pelo decreto de 69, que fragilizava o exercício da profissão. Só para citar um exemplo, hoje, para quem não sabe, tem motorista fazendo foto para jornal em máquinas digitais e ganhando como motorista. Isso é a precarização das relações de trabalho. É essa a liberdade de imprensa que queremos?
O decreto da profissão dos jornalistas é de 69 e hoje vive-se numa democracia. Este foi um dos argumentos utilizados pela juíza Carla Rister na sua sentença que retirou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Que o decreto era da época da ditadura e que, portanto, não servia aos tempos atuais. Lembram? Não fosse a coerência do Tribunal Regional Federal de São Paulo que, por unanimidade, restaurou o direito que os profissionais têm ao diploma de nível superior e a sociedade tem de ter uma informação de qualidade, a situação seria hoje ainda bem pior. Mas o processo está tramitando no Supremo Tribunal Federal a quem caberá a palavra final. Se nem o Executivo, nem o Legislativo têm coragem de decidir, por certo, a Justiça o fará.
Tenho aprofundado bastante a leitura sobre este assunto e fico cada vez mais chocada com os argumentos utilizados. Diz o parecer do Ministério da Justiça que “a existência de tais limitações ao exercício do jornalismo traz duas conseqüências jurídicas principais: (i) a extensão do registro profissional no Ministério do Trabalho e Emprego a novas categorias e atividades. Ora, hoje os assessores de imprensa, os cinegrafistas e repórteres fotográficos já têm o registro. E diga-se de passagem: emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, sob a tutela do Estado.
Diz ainda o parecer do Ministério da Justiça que “a ampliação da exigência de diploma de nível Superior de jornalismo para o exercício da atividade profissional a todas as funções, além daquelas previstas no art. 6o do Decreto-Lei no 972, de 1969”. Claro. Uma nova lei tem que contemplar as novas exigência do mercado de trabalho, senão não haveria a necessidade de uma nova lei.
Estou cada vez mais convencida de que o faltou foi um debate conceitual sobre o que é assessoria de imprensa e o que é assessoria de comunicação. O que é liberdade de imprensa e o que é regulamentação profissional. Debate este que não aconteceu porque poucos foram os que se deram ao trabalho de realmente ler e entender o que estava acontecendo, ficando muitos apenas com os velhos preconceitos e se deixando levar pelo jogo da informação e da contra-informação. Vamos nos perguntar solitariamente quantos os que foram contra, de fato, pararam para ler o projeto e comparar com os decretos anteriores de 69 e 78 e ver onde estavam as reais mudanças? A resposta, só cada um poderá ter.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
História da Mídia em Pauta: retrospectiva da produção científica no Maranhão (2003-2007)
Autoras:
Edvania Kátia Sousa Silva
Integrante da Coordenação Geral do Intercom Nordeste 2008
Integrante do Núcleo Maranhense da Rede Alfredo de Carvalho
Roseane Arcanjo Pinheiro
Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo
Integrante da Coordenação Científica do Intercom Nordeste 2008
Integrante do Núcleo Maranhense da Rede Alfredo de Carvalho
Palavras-chave: Bicentenário da Imprensa Brasileira; Maranhão; História da Mídia; Produção Científica; Século XX.
Resumo:
Visando os preparativos para o Bicentenário da Imprensa Brasileira (1808-2008), a Associação Maranhense de Imprensa fundou em 20 de agosto de 2003 o Núcleo Estadual da Rede Alfredo de Carvalho, quando implementou o projeto Memória Maranhão-Imprensa 200 anos. A partir daí, foram realizados dois encontros estaduais sobre a história da mídia em São Luís, promovido o IV Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho e o Seminário “60 + 100= antigos e novos desafios do jornalismo no Maranhão”, em parceria com a INTERCOM. No presente trabalho, fez-se um mapeamento da produção científica sobre a História da Mídia Maranhense apresentada naqueles eventos científicos, incluindo-se os trabalhos aceitos nos encontros nacionais de 2003, 2004, 2005 e 2007. Através dessa iniciativa, sistematizou-se os principais temas e linhas de pesquisa adotados e apontou-se lacunas e avanços nesses estudos. Para obter esses resultados, foram utilizados o método qualitativo e a técnica de pesquisa documental.
1. Percurso da Rede Alfredo de Carvalho no Brasil e o projeto Memória Maranhão - Imprensa 200 anos
A Rede Alfredo de Carvalho para o resgate da Memória da Imprensa no Brasil chega ao V Congresso Nacional de História da Mídia, realizado em Niterói (RJ) entre 13 e 16 de maio de 2008, numa parceria com a Universidade Federal Fluminense-UFF, com passos significativos que merecem registro para que os avanços conquistados até o momento possam servir de referência a profissionais, professores, pesquisadores e estudantes que se interessam pelo tema. Assim, o Núcleo Memória e Imprensa, da Associação Maranhense de Imprensa, associado à Rede Alfredo de Carvalho, apresenta a evolução histórica do movimento, consolidado por meio desta rede midiática.
No Brasil, a Rede Alfredo de Carvalho para o resgate da Memória da Imprensa no Brasil surge em 1º de junho de 2003, em solenidade no Instituto Geográfico e Artístico, com a participação da Associação Brasileira de Imprensa, Federação Nacional dos Jornalistas, além de outras instituições participantes, e foi batizada em homenagem ao pesquisador pernambucano Alfredo de Carvalho, que empreendeu há um século atrás o primeiro mapeamento da imprensa brasileira. O professor José Marques de Melo, presidente da Rede Alcar, explica o objetivo deste mutirão acadêmico: “a Rede Alfredo de Carvalho lançou bandeira destinada a converter o século XXI no século da imprensa brasileira, contribuindo para o fortalecimento da nossa cidadania. Sua premissa é a de que o processo civilizatório ancora-se na capacidade de abstração intelectual dos componentes de qualquer sociedade humana” ( MARQUES DE MELO et al, 2002, p.8).
Desde que foi lançada até a realização do Congresso de Niterói, a Rede Alfredo de Carvalho esteve presente em sete Estados brasileiros através da iniciativa de seus núcleos locais. Além do primeiro evento realizado no Rio de Janeiro, em 2003, a segunda edição aconteceu em Florianópolis (SC), em 2004; a terceira edição em Novo Hamburgo (RS) no ano de 2005; a quarta edição em São Luís (MA) em 2006; a quinta edição em São Paulo em 2007 e a sexta edição no Rio de Janeiro este ano.
Em sua plataforma, a ação da Rede Alberto de Carvalho:
“inclui como item prioritário, a atualização do inventário da imprensa brasileira. Deseja-se completar as lacunas deixadas pela equipe de 1908, além de fazê-lo avançar até 2008. Mais do que isso: pretende-se realizar a interpretação dos dados acumulados, construindo indicadores capazes de balizar o trabalho dos historiadores e dos cientistas da comunicação” (MARQUES DE MELO et al, 2002, p.9).
Entre seu programa estão incluídos estudos, cursos, eventos e publicações, além de projetos de instituições participantes. Nestes 5 anos, os encontros nacionais congregaram pesquisas realizadas em todo o país, com a apresentação e sistematização das mesmas visando a acumulação do conhecimento em universidades, associações e núcleos de estudos. Os trabalhos apresentados são divididos em 10 grupos : História da Mídia Impressa, História da Midiologia, História das Relações Públicas, História do Jornalismo, História da Mídia Sonora, Mídia Alternativa, Mídia Audiovisual, Mídia Digital, Mídia Visual e Publicidade e Propaganda (REDE ALCAR, 2007).
O Encontro de São Luís, reunindo 500 pessoas, é um marco. Neste evento o Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho transforma-se no IV Encontro Nacional de História da Mídia. Consegue a Associação Maranhense de Imprensa, que desencadeou o processo, reunir a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Faculdade São Luís e Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma), as três principais instituições de ensino da capital com cursos de Comunicação Social, para realizar o evento que guardou em si uma característica: a movimentação da cidade em torno do tema mídia e memória.
É preciso entender o ambiente criado para culminar com o evento. Ao abraçar essa importante causa, comprometendo-se a desenvolver no Estado do Maranhão ações que contribuíssem para a preservação da Memória da Imprensa, através do projeto Imprensa 200 Anos - Memória Maranhão, a Associação Maranhense de Imprensa realizou uma série de atividades que culminaram com o IV Encontro Nacional de História da Mídia.
Os primeiros passos foram dados em agosto de 2003, quando foi lançado na Faculdade São Luís o Núcleo Memória e Imprensa, mas o lançamento do projeto Imprensa 200 Anos - Memória Maranhão só veio a se consolidar no dia 10 de novembro, na abertura do I Encontro de História das Mídias do Maranhão, que contou com a presença do Professor Doutor José Marques de Melo, coordenador da Rede Alfredo de Carvalho.
À convite da organização do evento, o professor doutor José Marques de Melo ministrou uma conferência para profissionais, professores e estudantes da área de comunicação e pessoas da comunidade interessadas. No seminário de dois dias, que reuniu 350 participantes, foram apresentados 21 trabalhos e pesquisas sobre a Memória da Imprensa, bem como reportagens, fotografias, livros e vídeos. Todo o material deverá compor o inventário da imprensa maranhense, primeiro passo para a criação do Memorial da Imprensa.
O seminário criou condições para se consolidar no Maranhão o braço da Rede Memória, formado por entidades representativas dos profissionais (Sindicatos, Associações e Conselhos), centros universitários de ensino e universidades (Faculdade São Luís, UFMA e Uniceuma), entidades representativas dos estudantes de Comunicação (D.A Comunicação e Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação), veículos de comunicação (O Imparcial, Jornal Pequeno, Atos e Fatos, O Estado do Maranhão), empresas da área de Comunicação (Cia da Comunicação, Intermídia Comunicação Integrada), organismos governamentais (Prefeitura de São Luís, Iphan e Biblioteca Pública Benedito Leite) e outras entidades da sociedade civil organizada, que resolverem aderir ao projeto.
No ano seguinte, é realizado o II Encontro de História das Mídias do Maranhão, realizado paralelamente à X Semana de Comunicação, numa promoção da Associação Maranhense de Imprensa e Curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O evento teve como parceiros o Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, Curso de Comunicação do Uniceuma e Curso de Jornalismo da Faculdade São Luís. Com o tema Comunicação, História e Política, o encontro trouxe um debate aprofundado sobre o papel dos profissionais da comunicação na sociedade. O evento foi comemorativo aos 35 anos do curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão, criado em 1970.
Foram, então, criadas à época todas as condições para trazer ao Maranhão o IV Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, com a meta de reunir em São Luís cerca de 500 doutores, mestres, pesquisadores e professores que integram a Rede Alfredo de Carvalho. A meta foi alcançada. Mais que isso: era pautar o tema da memória da imprensa para a sociedade, o que foi conseguido através das séries publicadas em dois jornais de grande circulação na capital do Estado. Em O Estado do Maranhão, foi publicada, sob a coordenação da jornalista Roseane Arcanjo Pinheiro, a série Imprensa e Memória, entre 2003 e 2005 que trazia para o conhecimento do grande público, em formato jornalístico, os resultados das pesquisas científicas sobre a história da imprensa no Maranhão. Em O Imparcial, da Rede Associados, sob a coordenação da jornalista Edvânia Kátia Sousa Silva, foi publicada a série Memória em Pauta, entre 2004 e 2005, que consistia em reunir em um bate-papo os profissionais da mídia que pudessem relatar fatos marcantes da história da imprensa no Maranhão.
Em 2007, o núcleo maranhense promoveu no dia 5 de julho o Seminário Joaquim Serra, marco comemorativo dos 30 anos da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação-Intercom, com o apoio da Universidade Federal do Maranhão. O nome do evento foi uma deferência à memória do pesquisador Joaquim Serra, autor de obra de referência do século XIX sobre a imprensa no Estado. O tema central do seminário, que reuniu alunos dos cursos de Comunicação no Campus da Universidade, foi “Antigos e Novos desafios do Jornalismo no Maranhão”.
O projeto Memória Maranhão-Imprensa 200 anos continua em andamento e uma dos principais desafios é implantar o Memorial da Imprensa do Maranhão, um espaço apropriado para a preservação do patrimônio material e imaterial da imprensa. O I Encontro Estadual da História das Mídias foi um primeiro passo nesse sentido, uma vez que foi a partir do Encontro que começou a ser levantado todo o material produzido pelos pesquisadores da área da Comunicação e de outras áreas afins, e pelos profissionais (vídeos, reportagens, exposições, livros, fotografias, etc) de forma a constituir o inventário da imprensa maranhense, trabalho indispensável para que se possa ter o acervo dos bens que construíram a história do jornalismo e da comunicação de um modo geral. Entretanto, novas páginas ainda serão escritas no sentido de atingir esse objetivo.
2. A produção científica sobre História da Mídia maranhense (2003-2007)
No I Encontro sobre a História das Mìdias no Maranhão, entre 19 e 11 de novembro de 2004, ocorrido no auditório do Uniceuma, foram apresentados 21 trabalhos, divididos em mostra midiática e grupos de trabalhos (GTs). Para mapeamos a produção científica, vamos seguir como parâmetro a divisão de temas da Rede Alfredo de Carvalho e seus 10 GTs: História do Jornalismo, História da Publicidade e Propaganda, História das Relações Públicas, História da Mídia Impressa, História da Mídia Sonora, História da Mídia Visual, História da Mídia Audiovisual, História da Mídia Digital, História da Mídia Alternativa e História da Midiologia. A partir desta referência, nota-se que no primeiro encontro maranhense sobre a história da mídia local há uma predominância de pesquisas sobre mídia impressa e jornalismo, com ausência de estudos em Midiologia, Mídia Visual, Mídia Alternativa e Mídia Digital:
Quadro 1
Jornalismo - 5
Mídia Impressa - 9
Mídia Sonora - 3
Mídia Audiovisual - 3
Relações Públicas - 1
Publicidade e Propaganda - 0
Midiologia - 0
Mídia Visual - 0
Mídia Alternativa - 0
Mídia Digital - 0
Destacam-se trabalhos sobre mídia impressa, que responde pela maioria dos estudos e produtos midiáticos apresentados. Neste item, há expressivo número de pesquisa sobre a memória dos jornalistas, em MORAES (2004), PINHEIRO (2004a) GUIMARÃES et al (2004) e COELHO NETO (2004), denotando preocupação dos espaços acadêmicos no sentido de recuperar a memória da mídia local. É notável ainda o volume de estudos relacionados aos séculos XIX e XX, sobre a imprensa do Império e República, a exemplo de GALVES (2004), PINHEIRO (2004b) e MARTINS (2004), bem como relacionados aos paradigmas gráficos nos jornais locais e na imprensa nacional, citamos FERREIRA (2004) e AZAMBUJA (2004).
Dando continuidade aos trabalhos, no ano seguinte, foi realizado o II Encontro de História da Mídia do Maranhão, com uma quantidade maior de trabalhos apresentados, entre comunicações científicas e produtos da mostra midiática. Foram 34 ao total com configuração diferente do primeiro encontro e com estudos em áreas que careciam de trabalhos. Em 2005, o evento foi realizado na Universidade Federal do Maranhão, em ato comemorativo aos 35 anos de fundação do Curso de Comunicação Social, o que colaborou para impulsionar um número maior de participantes, entre professores, estudantes e profissionais, visto que é a instituição mais antiga e a única que apresenta as três habilitações em Comunicação: Jornalismo, Relações Públicas e Rádio e TV. Possui corpo de mestres e doutores com histórico mais consolidado na realização de pesquisa neste campo de conhecimento.
Quadro 2
Jornalismo - 5
Mídia Impressa - 1
Mídia Sonora - 6
Mídia Audiovisual - 3
Relações Públicas - 9
Publicidade e Propaganda - 3
Midiologia - 3
Mídia Visual - 0
Mídia Alternativa - 1
Mídia Digital - 3
Houve neste evento um salto no número de pesquisa na área de Relações Públicas, de 1 trabalho para 9, com enfoques em estratégias de comunicação, atuação no Terceiro Setor, planejamento em comunicação e auditoria organizacional, entre outros tópicos. Registre-se um esforço de professores e estudantes de RP em socializar os estudos elaborados com vistas ao fortalecimento da habilitação.
Por sua vez, o campo do Jornalismo manteve entre os que receberam mais trabalhos, porém a habilitação mostra-se com fôlego para a produção científica, ao contrário do GT de Mídia Impressa, cuja queda em volume de pesquisas foi acentuada com a evolução dos trabalhos em Publicidade e Propaganda, Mídia Sonora, Midiologia e Mídia Digital, cujas linhas de pesquisa foram priorizadas na produção científica do Curso de Comunicação Social da UFMA naquele período.
Em 2006, em decorrência do IV Encontro Nacional de História da Mídia ter sido sediado em São Luís-MA, não houve um encontro estadual sobre a temática, tendo o evento nacional abarcado os trabalhos locais sobre a memória da imprensa maranhense. A partir deste ponto, vamos analisar a participação dos pesquisadores do Estado do Maranhão nos encontros anuais da Rede Alfredo de Carvalho. Segue quadro:
Quadro 3
I Encontro da Rede Alcar - 3
II Encontro da Rede Alcar- 3
III Encontro da Rede Alcar -4
IV Encontro da Rede Alcar- 37
V Encontro da Rede Alcar - 3
Houve um salto, passando de média de 3 para 37 inscrições quando a capital ludovicense foi palco do congresso em 2006, entretanto o volume voltou ao mesmo patamar quando o encontro ocorreu em São Paulo, no ano seguinte. Em sua maioria, os trabalhos estão relacionados aos GTs de História do Jornalismo, Mídia Impressa, Mídia Sonora e Mídia Audiovisual, mostrando que há uma importante concentração de estudos nessas áreas e que estão sendo agregados através das iniciativas do Núcleo Maranhense da Rede Alcar e da articulação de professores, estudantes e profissionais.
No entanto, o volume de trabalho de estudiosos maranhenses em eventos nacionais da Rede Alcar é ainda tímido. Os motivos que podem explicar a situação são de várias matizes: a cultura incipiente da pesquisa, que tem possibilidade de deslanchar frente ao número crescente de professores que estão concluindo o doutorado; o isolamento geográfico e a distância dos grandes centros produtores de conhecimento em comunicação; as dificuldades financeiras por conta do elevado gasto para a participação em eventos fora do Estado e a ausência de apoio oficial das agências.
A mobilização, iniciada pela Associação Maranhense de Imprensa, que fundou em 2003 o Núcleo Estadual da Rede Alfredo de Carvalho e abraçou o projeto Memória Maranhão Imprensa 200 anos, permanecerá para continuar a colaborar com os espaços acadêmicos e profissionais visando fortalecer o esforço coletivo na busca pela identidade da imprensa maranhense, suas raízes, suas singularidades e contradições. Compreendendo o cenário passado, os comunicadores, pesquisadores e alunos poderão escrever novos capítulos desta imprensa, a quarta a debutar nos territórios portugueses na América.
3. Conclusões
A Rede Alfredo de Carvalho e o Núcleo Maranhense da Rede Alcar, através do projeto Memória Maranhão Imprensa 200 anos, aglutinaram iniciativas no Maranhão que visam a preservação da memória da mídia local envolvendo especialistas e a comunidade em geral. Dessa forma, o Núcleo disseminou que a história da mídia é um bem coletivo, que não pertence somente aos comunicadores, sendo um dos fundamentos das transformações socioculturais. A partir dessas ações, docentes, estudantes e profissionais se mobilizaram para realizar projetos e pesquisas no sentido de resgatar personagens, histórias e reflexões sobre a imprensa maranhense.
No campo científico, o Núcleo maranhense foi marco para a participação de profissionais e alunos em eventos locais e nacionais ao pavimentar a história de imprensa enquanto relevante linha de pesquisa que até então carecia de iniciativas que vislumbrassem o profissional da comunicação enquanto sujeito de sua história, participante ativo dos fatos que decidem o destino das sociedades.
Portanto, contar a história da imprensa é valorizar o processo histórico e seus agentes sociais. Nestes cinco anos de atuação, o Núcleo Maranhense de Rede Alfredo de Carvalho contabiliza a contribuição de 105 trabalhos e produtos midiáticos reunidos por meio da interação entre as instituições de ensino, os profissionais e a comunidade com vistas a fortalecer a caminhada dos homens e mulheres que fazem os meios de comunicação no Estado e fazê-la conhecida e respeitada por todos.
4. Referências Bibliográficas
ANAIS DOS ENCONTROS NACIONAIS DA REDE ALFREDO DE CARVALHO, 2003-2007. Acesso em 12 de abril de 2008. Disponível em: http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/index.htm.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
JORGE, Sebastião. Os primeiros passos da imprensa no Maranhão. São Luís, PPPG/EDUFMA, 1987.
LOPES, Antonio. História da Imprensa no Maranhão. Rio de Janeiro, DASP, 1959.
SERRA, Joaquim. Sessenta anos de Jornalismo: a imprensa no Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2001.
I ENCONTRO ESTADUAL DA HISTÓRIA DA IMPRENSA MARANHENSE, 2004, São Luís: Associação Maranhense de Imprensa/Núcleo Estadual Rede Alfredo de Carvalho, Uniceuma, UFMA e Faculdade São Luís, 10 e 11 nov. 2004.
II ENCONTRO DE HISTÓRIA DAS MÍDIAS DO MARANHÃO/X SEMANA DE COMUNICAÇÃO, 2005. São Luis: Universidade Federal do Maranhão e Associação Maranhense de Imprensa/Rede Alcar.
IV ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 2006. São Luís: Associação Maranhense de Imprensa; Rede Alfredo de Carvalho; Uniceuma; UFMA e Faculdade São Luís, 30 de maio a 2 de junho.
MARQUES DE MELO, José; IPANEMA, Cibelle de; BERTOLETTI, Ester. Rumo ao Bicentenário da Imprensa. Salvador: Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia (Nehib); São Paulo: Rede Alfredo de Carvalho, 2002.
Edvania Kátia Sousa Silva
Integrante da Coordenação Geral do Intercom Nordeste 2008
Integrante do Núcleo Maranhense da Rede Alfredo de Carvalho
Roseane Arcanjo Pinheiro
Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo
Integrante da Coordenação Científica do Intercom Nordeste 2008
Integrante do Núcleo Maranhense da Rede Alfredo de Carvalho
Palavras-chave: Bicentenário da Imprensa Brasileira; Maranhão; História da Mídia; Produção Científica; Século XX.
Resumo:
Visando os preparativos para o Bicentenário da Imprensa Brasileira (1808-2008), a Associação Maranhense de Imprensa fundou em 20 de agosto de 2003 o Núcleo Estadual da Rede Alfredo de Carvalho, quando implementou o projeto Memória Maranhão-Imprensa 200 anos. A partir daí, foram realizados dois encontros estaduais sobre a história da mídia em São Luís, promovido o IV Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho e o Seminário “60 + 100= antigos e novos desafios do jornalismo no Maranhão”, em parceria com a INTERCOM. No presente trabalho, fez-se um mapeamento da produção científica sobre a História da Mídia Maranhense apresentada naqueles eventos científicos, incluindo-se os trabalhos aceitos nos encontros nacionais de 2003, 2004, 2005 e 2007. Através dessa iniciativa, sistematizou-se os principais temas e linhas de pesquisa adotados e apontou-se lacunas e avanços nesses estudos. Para obter esses resultados, foram utilizados o método qualitativo e a técnica de pesquisa documental.
1. Percurso da Rede Alfredo de Carvalho no Brasil e o projeto Memória Maranhão - Imprensa 200 anos
A Rede Alfredo de Carvalho para o resgate da Memória da Imprensa no Brasil chega ao V Congresso Nacional de História da Mídia, realizado em Niterói (RJ) entre 13 e 16 de maio de 2008, numa parceria com a Universidade Federal Fluminense-UFF, com passos significativos que merecem registro para que os avanços conquistados até o momento possam servir de referência a profissionais, professores, pesquisadores e estudantes que se interessam pelo tema. Assim, o Núcleo Memória e Imprensa, da Associação Maranhense de Imprensa, associado à Rede Alfredo de Carvalho, apresenta a evolução histórica do movimento, consolidado por meio desta rede midiática.
No Brasil, a Rede Alfredo de Carvalho para o resgate da Memória da Imprensa no Brasil surge em 1º de junho de 2003, em solenidade no Instituto Geográfico e Artístico, com a participação da Associação Brasileira de Imprensa, Federação Nacional dos Jornalistas, além de outras instituições participantes, e foi batizada em homenagem ao pesquisador pernambucano Alfredo de Carvalho, que empreendeu há um século atrás o primeiro mapeamento da imprensa brasileira. O professor José Marques de Melo, presidente da Rede Alcar, explica o objetivo deste mutirão acadêmico: “a Rede Alfredo de Carvalho lançou bandeira destinada a converter o século XXI no século da imprensa brasileira, contribuindo para o fortalecimento da nossa cidadania. Sua premissa é a de que o processo civilizatório ancora-se na capacidade de abstração intelectual dos componentes de qualquer sociedade humana” ( MARQUES DE MELO et al, 2002, p.8).
Desde que foi lançada até a realização do Congresso de Niterói, a Rede Alfredo de Carvalho esteve presente em sete Estados brasileiros através da iniciativa de seus núcleos locais. Além do primeiro evento realizado no Rio de Janeiro, em 2003, a segunda edição aconteceu em Florianópolis (SC), em 2004; a terceira edição em Novo Hamburgo (RS) no ano de 2005; a quarta edição em São Luís (MA) em 2006; a quinta edição em São Paulo em 2007 e a sexta edição no Rio de Janeiro este ano.
Em sua plataforma, a ação da Rede Alberto de Carvalho:
“inclui como item prioritário, a atualização do inventário da imprensa brasileira. Deseja-se completar as lacunas deixadas pela equipe de 1908, além de fazê-lo avançar até 2008. Mais do que isso: pretende-se realizar a interpretação dos dados acumulados, construindo indicadores capazes de balizar o trabalho dos historiadores e dos cientistas da comunicação” (MARQUES DE MELO et al, 2002, p.9).
Entre seu programa estão incluídos estudos, cursos, eventos e publicações, além de projetos de instituições participantes. Nestes 5 anos, os encontros nacionais congregaram pesquisas realizadas em todo o país, com a apresentação e sistematização das mesmas visando a acumulação do conhecimento em universidades, associações e núcleos de estudos. Os trabalhos apresentados são divididos em 10 grupos : História da Mídia Impressa, História da Midiologia, História das Relações Públicas, História do Jornalismo, História da Mídia Sonora, Mídia Alternativa, Mídia Audiovisual, Mídia Digital, Mídia Visual e Publicidade e Propaganda (REDE ALCAR, 2007).
O Encontro de São Luís, reunindo 500 pessoas, é um marco. Neste evento o Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho transforma-se no IV Encontro Nacional de História da Mídia. Consegue a Associação Maranhense de Imprensa, que desencadeou o processo, reunir a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Faculdade São Luís e Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma), as três principais instituições de ensino da capital com cursos de Comunicação Social, para realizar o evento que guardou em si uma característica: a movimentação da cidade em torno do tema mídia e memória.
É preciso entender o ambiente criado para culminar com o evento. Ao abraçar essa importante causa, comprometendo-se a desenvolver no Estado do Maranhão ações que contribuíssem para a preservação da Memória da Imprensa, através do projeto Imprensa 200 Anos - Memória Maranhão, a Associação Maranhense de Imprensa realizou uma série de atividades que culminaram com o IV Encontro Nacional de História da Mídia.
Os primeiros passos foram dados em agosto de 2003, quando foi lançado na Faculdade São Luís o Núcleo Memória e Imprensa, mas o lançamento do projeto Imprensa 200 Anos - Memória Maranhão só veio a se consolidar no dia 10 de novembro, na abertura do I Encontro de História das Mídias do Maranhão, que contou com a presença do Professor Doutor José Marques de Melo, coordenador da Rede Alfredo de Carvalho.
À convite da organização do evento, o professor doutor José Marques de Melo ministrou uma conferência para profissionais, professores e estudantes da área de comunicação e pessoas da comunidade interessadas. No seminário de dois dias, que reuniu 350 participantes, foram apresentados 21 trabalhos e pesquisas sobre a Memória da Imprensa, bem como reportagens, fotografias, livros e vídeos. Todo o material deverá compor o inventário da imprensa maranhense, primeiro passo para a criação do Memorial da Imprensa.
O seminário criou condições para se consolidar no Maranhão o braço da Rede Memória, formado por entidades representativas dos profissionais (Sindicatos, Associações e Conselhos), centros universitários de ensino e universidades (Faculdade São Luís, UFMA e Uniceuma), entidades representativas dos estudantes de Comunicação (D.A Comunicação e Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação), veículos de comunicação (O Imparcial, Jornal Pequeno, Atos e Fatos, O Estado do Maranhão), empresas da área de Comunicação (Cia da Comunicação, Intermídia Comunicação Integrada), organismos governamentais (Prefeitura de São Luís, Iphan e Biblioteca Pública Benedito Leite) e outras entidades da sociedade civil organizada, que resolverem aderir ao projeto.
No ano seguinte, é realizado o II Encontro de História das Mídias do Maranhão, realizado paralelamente à X Semana de Comunicação, numa promoção da Associação Maranhense de Imprensa e Curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O evento teve como parceiros o Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, Curso de Comunicação do Uniceuma e Curso de Jornalismo da Faculdade São Luís. Com o tema Comunicação, História e Política, o encontro trouxe um debate aprofundado sobre o papel dos profissionais da comunicação na sociedade. O evento foi comemorativo aos 35 anos do curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão, criado em 1970.
Foram, então, criadas à época todas as condições para trazer ao Maranhão o IV Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, com a meta de reunir em São Luís cerca de 500 doutores, mestres, pesquisadores e professores que integram a Rede Alfredo de Carvalho. A meta foi alcançada. Mais que isso: era pautar o tema da memória da imprensa para a sociedade, o que foi conseguido através das séries publicadas em dois jornais de grande circulação na capital do Estado. Em O Estado do Maranhão, foi publicada, sob a coordenação da jornalista Roseane Arcanjo Pinheiro, a série Imprensa e Memória, entre 2003 e 2005 que trazia para o conhecimento do grande público, em formato jornalístico, os resultados das pesquisas científicas sobre a história da imprensa no Maranhão. Em O Imparcial, da Rede Associados, sob a coordenação da jornalista Edvânia Kátia Sousa Silva, foi publicada a série Memória em Pauta, entre 2004 e 2005, que consistia em reunir em um bate-papo os profissionais da mídia que pudessem relatar fatos marcantes da história da imprensa no Maranhão.
Em 2007, o núcleo maranhense promoveu no dia 5 de julho o Seminário Joaquim Serra, marco comemorativo dos 30 anos da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação-Intercom, com o apoio da Universidade Federal do Maranhão. O nome do evento foi uma deferência à memória do pesquisador Joaquim Serra, autor de obra de referência do século XIX sobre a imprensa no Estado. O tema central do seminário, que reuniu alunos dos cursos de Comunicação no Campus da Universidade, foi “Antigos e Novos desafios do Jornalismo no Maranhão”.
O projeto Memória Maranhão-Imprensa 200 anos continua em andamento e uma dos principais desafios é implantar o Memorial da Imprensa do Maranhão, um espaço apropriado para a preservação do patrimônio material e imaterial da imprensa. O I Encontro Estadual da História das Mídias foi um primeiro passo nesse sentido, uma vez que foi a partir do Encontro que começou a ser levantado todo o material produzido pelos pesquisadores da área da Comunicação e de outras áreas afins, e pelos profissionais (vídeos, reportagens, exposições, livros, fotografias, etc) de forma a constituir o inventário da imprensa maranhense, trabalho indispensável para que se possa ter o acervo dos bens que construíram a história do jornalismo e da comunicação de um modo geral. Entretanto, novas páginas ainda serão escritas no sentido de atingir esse objetivo.
2. A produção científica sobre História da Mídia maranhense (2003-2007)
No I Encontro sobre a História das Mìdias no Maranhão, entre 19 e 11 de novembro de 2004, ocorrido no auditório do Uniceuma, foram apresentados 21 trabalhos, divididos em mostra midiática e grupos de trabalhos (GTs). Para mapeamos a produção científica, vamos seguir como parâmetro a divisão de temas da Rede Alfredo de Carvalho e seus 10 GTs: História do Jornalismo, História da Publicidade e Propaganda, História das Relações Públicas, História da Mídia Impressa, História da Mídia Sonora, História da Mídia Visual, História da Mídia Audiovisual, História da Mídia Digital, História da Mídia Alternativa e História da Midiologia. A partir desta referência, nota-se que no primeiro encontro maranhense sobre a história da mídia local há uma predominância de pesquisas sobre mídia impressa e jornalismo, com ausência de estudos em Midiologia, Mídia Visual, Mídia Alternativa e Mídia Digital:
Quadro 1
Jornalismo - 5
Mídia Impressa - 9
Mídia Sonora - 3
Mídia Audiovisual - 3
Relações Públicas - 1
Publicidade e Propaganda - 0
Midiologia - 0
Mídia Visual - 0
Mídia Alternativa - 0
Mídia Digital - 0
Destacam-se trabalhos sobre mídia impressa, que responde pela maioria dos estudos e produtos midiáticos apresentados. Neste item, há expressivo número de pesquisa sobre a memória dos jornalistas, em MORAES (2004), PINHEIRO (2004a) GUIMARÃES et al (2004) e COELHO NETO (2004), denotando preocupação dos espaços acadêmicos no sentido de recuperar a memória da mídia local. É notável ainda o volume de estudos relacionados aos séculos XIX e XX, sobre a imprensa do Império e República, a exemplo de GALVES (2004), PINHEIRO (2004b) e MARTINS (2004), bem como relacionados aos paradigmas gráficos nos jornais locais e na imprensa nacional, citamos FERREIRA (2004) e AZAMBUJA (2004).
Dando continuidade aos trabalhos, no ano seguinte, foi realizado o II Encontro de História da Mídia do Maranhão, com uma quantidade maior de trabalhos apresentados, entre comunicações científicas e produtos da mostra midiática. Foram 34 ao total com configuração diferente do primeiro encontro e com estudos em áreas que careciam de trabalhos. Em 2005, o evento foi realizado na Universidade Federal do Maranhão, em ato comemorativo aos 35 anos de fundação do Curso de Comunicação Social, o que colaborou para impulsionar um número maior de participantes, entre professores, estudantes e profissionais, visto que é a instituição mais antiga e a única que apresenta as três habilitações em Comunicação: Jornalismo, Relações Públicas e Rádio e TV. Possui corpo de mestres e doutores com histórico mais consolidado na realização de pesquisa neste campo de conhecimento.
Quadro 2
Jornalismo - 5
Mídia Impressa - 1
Mídia Sonora - 6
Mídia Audiovisual - 3
Relações Públicas - 9
Publicidade e Propaganda - 3
Midiologia - 3
Mídia Visual - 0
Mídia Alternativa - 1
Mídia Digital - 3
Houve neste evento um salto no número de pesquisa na área de Relações Públicas, de 1 trabalho para 9, com enfoques em estratégias de comunicação, atuação no Terceiro Setor, planejamento em comunicação e auditoria organizacional, entre outros tópicos. Registre-se um esforço de professores e estudantes de RP em socializar os estudos elaborados com vistas ao fortalecimento da habilitação.
Por sua vez, o campo do Jornalismo manteve entre os que receberam mais trabalhos, porém a habilitação mostra-se com fôlego para a produção científica, ao contrário do GT de Mídia Impressa, cuja queda em volume de pesquisas foi acentuada com a evolução dos trabalhos em Publicidade e Propaganda, Mídia Sonora, Midiologia e Mídia Digital, cujas linhas de pesquisa foram priorizadas na produção científica do Curso de Comunicação Social da UFMA naquele período.
Em 2006, em decorrência do IV Encontro Nacional de História da Mídia ter sido sediado em São Luís-MA, não houve um encontro estadual sobre a temática, tendo o evento nacional abarcado os trabalhos locais sobre a memória da imprensa maranhense. A partir deste ponto, vamos analisar a participação dos pesquisadores do Estado do Maranhão nos encontros anuais da Rede Alfredo de Carvalho. Segue quadro:
Quadro 3
I Encontro da Rede Alcar - 3
II Encontro da Rede Alcar- 3
III Encontro da Rede Alcar -4
IV Encontro da Rede Alcar- 37
V Encontro da Rede Alcar - 3
Houve um salto, passando de média de 3 para 37 inscrições quando a capital ludovicense foi palco do congresso em 2006, entretanto o volume voltou ao mesmo patamar quando o encontro ocorreu em São Paulo, no ano seguinte. Em sua maioria, os trabalhos estão relacionados aos GTs de História do Jornalismo, Mídia Impressa, Mídia Sonora e Mídia Audiovisual, mostrando que há uma importante concentração de estudos nessas áreas e que estão sendo agregados através das iniciativas do Núcleo Maranhense da Rede Alcar e da articulação de professores, estudantes e profissionais.
No entanto, o volume de trabalho de estudiosos maranhenses em eventos nacionais da Rede Alcar é ainda tímido. Os motivos que podem explicar a situação são de várias matizes: a cultura incipiente da pesquisa, que tem possibilidade de deslanchar frente ao número crescente de professores que estão concluindo o doutorado; o isolamento geográfico e a distância dos grandes centros produtores de conhecimento em comunicação; as dificuldades financeiras por conta do elevado gasto para a participação em eventos fora do Estado e a ausência de apoio oficial das agências.
A mobilização, iniciada pela Associação Maranhense de Imprensa, que fundou em 2003 o Núcleo Estadual da Rede Alfredo de Carvalho e abraçou o projeto Memória Maranhão Imprensa 200 anos, permanecerá para continuar a colaborar com os espaços acadêmicos e profissionais visando fortalecer o esforço coletivo na busca pela identidade da imprensa maranhense, suas raízes, suas singularidades e contradições. Compreendendo o cenário passado, os comunicadores, pesquisadores e alunos poderão escrever novos capítulos desta imprensa, a quarta a debutar nos territórios portugueses na América.
3. Conclusões
A Rede Alfredo de Carvalho e o Núcleo Maranhense da Rede Alcar, através do projeto Memória Maranhão Imprensa 200 anos, aglutinaram iniciativas no Maranhão que visam a preservação da memória da mídia local envolvendo especialistas e a comunidade em geral. Dessa forma, o Núcleo disseminou que a história da mídia é um bem coletivo, que não pertence somente aos comunicadores, sendo um dos fundamentos das transformações socioculturais. A partir dessas ações, docentes, estudantes e profissionais se mobilizaram para realizar projetos e pesquisas no sentido de resgatar personagens, histórias e reflexões sobre a imprensa maranhense.
No campo científico, o Núcleo maranhense foi marco para a participação de profissionais e alunos em eventos locais e nacionais ao pavimentar a história de imprensa enquanto relevante linha de pesquisa que até então carecia de iniciativas que vislumbrassem o profissional da comunicação enquanto sujeito de sua história, participante ativo dos fatos que decidem o destino das sociedades.
Portanto, contar a história da imprensa é valorizar o processo histórico e seus agentes sociais. Nestes cinco anos de atuação, o Núcleo Maranhense de Rede Alfredo de Carvalho contabiliza a contribuição de 105 trabalhos e produtos midiáticos reunidos por meio da interação entre as instituições de ensino, os profissionais e a comunidade com vistas a fortalecer a caminhada dos homens e mulheres que fazem os meios de comunicação no Estado e fazê-la conhecida e respeitada por todos.
4. Referências Bibliográficas
ANAIS DOS ENCONTROS NACIONAIS DA REDE ALFREDO DE CARVALHO, 2003-2007. Acesso em 12 de abril de 2008. Disponível em: http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/index.htm.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
JORGE, Sebastião. Os primeiros passos da imprensa no Maranhão. São Luís, PPPG/EDUFMA, 1987.
LOPES, Antonio. História da Imprensa no Maranhão. Rio de Janeiro, DASP, 1959.
SERRA, Joaquim. Sessenta anos de Jornalismo: a imprensa no Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2001.
I ENCONTRO ESTADUAL DA HISTÓRIA DA IMPRENSA MARANHENSE, 2004, São Luís: Associação Maranhense de Imprensa/Núcleo Estadual Rede Alfredo de Carvalho, Uniceuma, UFMA e Faculdade São Luís, 10 e 11 nov. 2004.
II ENCONTRO DE HISTÓRIA DAS MÍDIAS DO MARANHÃO/X SEMANA DE COMUNICAÇÃO, 2005. São Luis: Universidade Federal do Maranhão e Associação Maranhense de Imprensa/Rede Alcar.
IV ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 2006. São Luís: Associação Maranhense de Imprensa; Rede Alfredo de Carvalho; Uniceuma; UFMA e Faculdade São Luís, 30 de maio a 2 de junho.
MARQUES DE MELO, José; IPANEMA, Cibelle de; BERTOLETTI, Ester. Rumo ao Bicentenário da Imprensa. Salvador: Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia (Nehib); São Paulo: Rede Alfredo de Carvalho, 2002.
A história dos bairros de São Luís
Publicada no dia 08.09.2005
Um passeio pela história dos bairros de São Luís
A origem do nome dos bairros de São Luís tem inspirações diversas. Cada nome carrega consigo uma história própria deste povo que no exato ano de 2005 comemora os 373 anos da cidade. Houve a época dos conjuntos habitacionais financiados pelo extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), os bairros que buscaram inspiração nos santos e os redutos culturais.
Data dos anos 70, o início das cooperativas habitacionais na cidade. Grupos de pessoas de uma determinada categoria profissional recebiam financiamento do governo federal, por meio do extinto BNH. Assim surgiram, Cohatrac, Cohaserma e Cohafuma. Os conjuntos residenciais da década de 70 ganhavam seus nomes inspirados em homenagens às categorias.
O Cohafuma, que poucos sabem, é o Conjunto Habitacional dos Professores da Universidade Federal do Maranhão e tem suas ruas batizadas em homenagem aos cursos superiores. As ruas homenageiam os cursos: rua da Filosofia, rua da Matemática, rua da Geografia e, como não poderia deixar de ser, a rua dos Professores. Hoje, o bairro repousa tranqüilamente às margens da avenida Jerônimo de Albuquerque, entre o Vinhais e o retorno do Calhau. O Cohaserma, por sua vez, veio do financiamento para a Cooperativa dos Servidores do Estado do Maranhão. Localizado entre o Parque Atenas e a Cohama.
De um financiamento voltado para servidores federais, surgiu o Ipase. O nome original é conjunto José Bonifácio de Andrade e Silva, tutor de Dom Pedro I, mas ganhou o nome de Ipase por causa do Instituto de Previdência e Assistência do Estado, órgão ligado ao governo federal. Como conta o professor Waldir Costa, morador há mais de 30 anos, que o conjunto surgiu a partir de uma construção do antigo INPC (Instituto Nacional da Previdência). "Nesse tempo a Previdência era administrada pelo INPS, Funrural e Ipase, este último atendia os servidores federais nos Estados. E o governo federal decidiu investir na construção de imóveis para os segurados do Ipase nos Estados. Assim, foram construídas casas em todo o Nordeste e o último Estado foi o Maranhão. As famílias não tiveram condições de ficar com as casas e a população se candidatou aos imóveis. Mas o nome ficou", relembra.
O Cohatrac I nasceu da Cooperativa Habitacional dos Trabalhadores do Comércio. Na sequência vieram Cohatrac II, Cohatrac III, Cohatrac IV e Cohatrac V. "Depois do Cohatrac I, só o II foi feito a partir do sistema de cooperativa. A partir do Cohatrac III, a construtora (Estrela) assumiu a responsabilidade de construir imóveis e vender. Segundo os moradores, foi quando o conjunto deixou de ser um recanto dos comerciários e passou a ser um conjunto de comerciantes.
O governo estadual também foi responsável pelo crescimento fora do perímetro central da cidade. Construída pela antiga Cohab (Companhia Habitacional do Maranhão), o bairro de mesmo nome tem seus 35 anos de existência e abriga hoje algo em torno de 10 mil famílias. Hoje, é formado por quatro conjuntos, que os moradores identificam pela ordem de construção.
Os redutos culturais
Nos arredores do Centro de São Luís, um dos mais antigos é o Bairro de Fátima, que rende suas homenagens à Nossa Senhora de Fátima, a santa que dá nome à igreja da comunidade. O bairro surgiu na década de 40 resultado de ocupações dos antigos terrenos da Marinha, Exército e Caixa Econômica e cresceu em decorrência do aumento do êxodo rural e da expansão desordenada da cidade a partir da década de 50. Outra versão dá conta de que o nome Cavaco veio de uma árvore cortada logo na entrada do bairro. "Existia nas proximidades do Bom Milagre um pé de arvore cortado. Aí foi batizado de Cavaco. Quando o Cafeteira foi prefeito, o bairro foi invadido por máquinas e então foi construída a capela. Coincidiu com a chegada da imagem de Nossa Senhora de Fátima a São Luís, e o bairro e a capela foram batizados de Fátima", lembra Luís Carlos Guerreiro, cantor e compositor nascido e criado no bairro.
Mais adiante, o João Paulo, outro bairro que tem fortes traços culturais. Ficou conhecido pelo tradicional festejo de São Marçal, que acontece todos os anos no dia 30 de junho, com a reunião de todos os grupos de bumba-meu-boi da cidade. Contam os antigos que a primeira reunião dos brincantes aconteceu por volta de 1928. O bairro era um sítio de nome João Paulo e o proprietário era Simeão Costa. Mas a origem do nome vem da época em que um homem por nome João Paulo vendia cafezinho no Caminho Grande, depois avenida João Pessoa e que este ano ganhou o nome de São Marçal em homenagem ao santo. O bairro se orgulha do patrimônio cultural e ostenta o registro de histórico de ser sede da primeira escola de samba de São Luís, a Turma da Mangueira, mas também guarda em si uma grande vocação comercial. É um grande centro comercial, o segundo a surgir na capital. No João Paulo, a avenida João Pessoa traz uma infinidade de comércios, o colégio Batistas, um dos mais antigos de São Luís. Nas ruas paralelas, estabeleceu-se o comércio atacadista, especialmente na rua Riachuelo.
Bem próximo ao Centro está a Madre Deus, inicialmente batizada de Madre de Deus. A história do bairro ganhou um livro. Madre Deus de Festejos e Festanças, de autoria de Chagas Júnior. Segundo Chagas, os primeiros registros do bairro datam de 1713, quando um vilarejo foi formado em torno de um local conhecido como Ponta de Santo Amaro. No final do século XIX, devido à instalação das fábricas de tecidos, teve sua população multiplicada. Hoje é um dos grandes celeiros da cultura popular abrigar grupos de manifestações folclóricas e por ser palco das folias de Carnaval e São João. Segundo o livro, há o registro de 21 manifestações culturais do bairro.
Comunidades remanejadas
A Areinha contabiliza seus 33 anos de existência. Tudo começou na época da construção da Ponte Bandeira Tribuzzi nos idos de 1972. Os então moradores da Camboa foram remanejados para o loteamento da Areinha, da União de Moradores do Bairro da Areinha (UMBA) e então surgiu o bairro. Uma de suas principais avenidas - , que dá acesso à avenida dos Africanos é corredor diário de transporte, tendo ao longo de sua extensão comércios de todo o tipo. Nos últimos 20 anos, os três mil moradores passaram a conviver com ilustres vizinhos órgãos da Justiça Federal, Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, Tribunal de Contas da União, mas nem assim dificuldades estruturais foram superadas.
O Túnel do Sacavém apresenta a falta de saneamento básico como uma das maiores dores de cabeça de uma parcela notável de seus moradores. O bairro, localizado nas proximidades da Jordoa, do Filipinho e do Barreto, teve o seu nome originado com base na influência direta do túnel existente sob a avenida João Pessoa, por onde passava a antiga estrada de ferro.
Homenagens diversas
O nome da maior ocupação da América Latina tem sua história. A Cidade Olimpíca nasceu em 1994, na época da Olimpíadas, daí da homenagem. Desejava a comunidade mostrar que seria vitoriosa como atletas que disputaram as competições. Hoje, seus 65 mil habitantes ainda enfrentam problemas com infra-estrutura e não sabem qual será o futuro: se São Luís ou São José de Ribamar. A comunidade é uma das área da cidade que está no debate sobre os limites territoriais da Ilha de São Luís
A televisão não ficou de fora. A novela Redenção deu nome ao bairro que surgiu em 1965 a partir de uma ocupação erguida sobre uma sobra de terreno do conjunto residencial Filipinho. Quem conta a história é Martinho Marinho Costa. "Nós vivíamos os mesmos dramas enfocados na novela, daí optarmos em adotar o seu título para denominar o bairro", disse. Hoje a comunidade vive sob a ameaça do despejo. A área de 52.912,29m2 pertence ao INSS e pode ser vendida a qualquer momento. A decisão está nas mãos da Prefeitura de São Luís, que cobra os tributos aos moradores.
A tendência por nomes em homenagens a políticos é comum. A primeira governadora mulher do Estado ainda dá nome a Vila Roseana Sarney, em São Luís. Pequena, mas organizada, é um dos menores bairros de São Luís. Localizada entre a Rodoviária, a avenida dos Franceses e a Vila Lobão, são apenas cinco ruas, onde famílias moram desde maio de 1994.
A Vila Lobão, homenagem ao então senador Edson Lobão, está encravada entre os bairros de Santo Antônio e Anil, nas proximidades do Terminal Rodoviário e da vizinha Vila Roseana.
Há também a homenagem a outros países. Assim, temos a Alemanha, Coréia e Japão. No caso da Alemanha, até a divisão política do país que deu origem ao nome permaneceu, e, assim, há a Alemanha de cima, caracterizada pelo luxo dos seus casarões, e a de baixo, marcada pela pobreza.
E a mãe natureza também não foi esquecida. Dois bairros nascem a partir da sugestão da natureza. Assim, o Angelim, árvore frondosa de cheiro pouco agradável, dá nome ao bairro que nasce no coração de uma floresta, construído pela antiga Cohab. Em seus arredores está o Angelim Velho, bairro pacato que, apesar da proximidade de grandes centros, ainda conserva algumas características da fundação, há cerca de um século, como as casas com grandes terrenos e árvores frondosas, motivo de tranqüilidade para as duas mil famílias que moram no local.
Inspirações religiosas
Na época em que o papa João Paulo II veio a São Luís, em 1982, nasce o João de Deus. A idéia de dar à ocupação o nome do maior ícone religioso do mundo foi uma forma encontrada pelas famílias para dar legitimidade à ocupação. "A gente não tinha casa para morar. Então resolvemos nos reunir e erguer as nossas casas", diz Maria Lúcia Pereira Cantanhede, uma das fundadoras do bairro. Hoje, a área de 110 hectares onde foi erguida o bairro é alvo de uma pendenga judicial numa ação movida desde 1985 pelos herdeiros B. R e Artemizia Pinheiro. Eles culpam o município e o Estado de ter facilitado a invasão e querem uma indenização.
O Bom Jesus também seu nome inspirado na fé. São mais de 18 anos de existência. Hoje seus 30 mil habitantes esperam com fé por dias melhores. O bairro apesar dos anos de existência e do grande contingente populacional apresenta velhos problemas de segurança e falta de estrutura.
Esperançosos também vive os moradores da Divinéia, inspirada em divino. A antiga invasão, situada entre os bairros da Vila Luizão, Olho D'Água e Santa Rosa, foi fundada há aproximadamente 15 anos, e as famílias, em sua maioria de baixa renda, lutam por uma melhor qualidade de vida.
A fé que se renova todos os dias foi suficiente para o surgimento da Fé em Deus, bairro localizado entre a Liberdade e o Monte Castelo, e distante cerca de quatro quilômetros do Centro. Nem por isso as quatro mil famílias viram acontecer muitos dos milagres pedidos.
Padroeiro da paz, São Francisco acabou escolhido com santo protetor da comunidade de pescadores que deu origem ao bairro do São Francisco. A comunidade já existia antes da construção da ponte José Sarney, na década de 60. Mas somente em 1971, foi criada a paróquia de São Francisco de Assis. Desde então são realizadas, anualmente, homenagens para o santo.
Um dos maiores aglomerados é o São Raimundo. O conjunto residencial existe há cerca de 10 anos e possui 3.750 casas, construídas por 12 empresas com financiamento da Caixa Econômica Federal. Grande parte dos moradores são funcionários públicos e pequenos comerciantes.
Ainda lista dos bairros religiosos, há o São Cristóvão, que, por ser na saída da cidade, vive um intenso tráfego de caminhoneiros. Todos os anos é nessa comunidade que se organiza o tradicional festejo em homenagem ao padroeiro dos motoristas.
Edvânia Kátia
Da equipe de O IMPARCIAL
Um passeio pela história dos bairros de São Luís
A origem do nome dos bairros de São Luís tem inspirações diversas. Cada nome carrega consigo uma história própria deste povo que no exato ano de 2005 comemora os 373 anos da cidade. Houve a época dos conjuntos habitacionais financiados pelo extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), os bairros que buscaram inspiração nos santos e os redutos culturais.
Data dos anos 70, o início das cooperativas habitacionais na cidade. Grupos de pessoas de uma determinada categoria profissional recebiam financiamento do governo federal, por meio do extinto BNH. Assim surgiram, Cohatrac, Cohaserma e Cohafuma. Os conjuntos residenciais da década de 70 ganhavam seus nomes inspirados em homenagens às categorias.
O Cohafuma, que poucos sabem, é o Conjunto Habitacional dos Professores da Universidade Federal do Maranhão e tem suas ruas batizadas em homenagem aos cursos superiores. As ruas homenageiam os cursos: rua da Filosofia, rua da Matemática, rua da Geografia e, como não poderia deixar de ser, a rua dos Professores. Hoje, o bairro repousa tranqüilamente às margens da avenida Jerônimo de Albuquerque, entre o Vinhais e o retorno do Calhau. O Cohaserma, por sua vez, veio do financiamento para a Cooperativa dos Servidores do Estado do Maranhão. Localizado entre o Parque Atenas e a Cohama.
De um financiamento voltado para servidores federais, surgiu o Ipase. O nome original é conjunto José Bonifácio de Andrade e Silva, tutor de Dom Pedro I, mas ganhou o nome de Ipase por causa do Instituto de Previdência e Assistência do Estado, órgão ligado ao governo federal. Como conta o professor Waldir Costa, morador há mais de 30 anos, que o conjunto surgiu a partir de uma construção do antigo INPC (Instituto Nacional da Previdência). "Nesse tempo a Previdência era administrada pelo INPS, Funrural e Ipase, este último atendia os servidores federais nos Estados. E o governo federal decidiu investir na construção de imóveis para os segurados do Ipase nos Estados. Assim, foram construídas casas em todo o Nordeste e o último Estado foi o Maranhão. As famílias não tiveram condições de ficar com as casas e a população se candidatou aos imóveis. Mas o nome ficou", relembra.
O Cohatrac I nasceu da Cooperativa Habitacional dos Trabalhadores do Comércio. Na sequência vieram Cohatrac II, Cohatrac III, Cohatrac IV e Cohatrac V. "Depois do Cohatrac I, só o II foi feito a partir do sistema de cooperativa. A partir do Cohatrac III, a construtora (Estrela) assumiu a responsabilidade de construir imóveis e vender. Segundo os moradores, foi quando o conjunto deixou de ser um recanto dos comerciários e passou a ser um conjunto de comerciantes.
O governo estadual também foi responsável pelo crescimento fora do perímetro central da cidade. Construída pela antiga Cohab (Companhia Habitacional do Maranhão), o bairro de mesmo nome tem seus 35 anos de existência e abriga hoje algo em torno de 10 mil famílias. Hoje, é formado por quatro conjuntos, que os moradores identificam pela ordem de construção.
Os redutos culturais
Nos arredores do Centro de São Luís, um dos mais antigos é o Bairro de Fátima, que rende suas homenagens à Nossa Senhora de Fátima, a santa que dá nome à igreja da comunidade. O bairro surgiu na década de 40 resultado de ocupações dos antigos terrenos da Marinha, Exército e Caixa Econômica e cresceu em decorrência do aumento do êxodo rural e da expansão desordenada da cidade a partir da década de 50. Outra versão dá conta de que o nome Cavaco veio de uma árvore cortada logo na entrada do bairro. "Existia nas proximidades do Bom Milagre um pé de arvore cortado. Aí foi batizado de Cavaco. Quando o Cafeteira foi prefeito, o bairro foi invadido por máquinas e então foi construída a capela. Coincidiu com a chegada da imagem de Nossa Senhora de Fátima a São Luís, e o bairro e a capela foram batizados de Fátima", lembra Luís Carlos Guerreiro, cantor e compositor nascido e criado no bairro.
Mais adiante, o João Paulo, outro bairro que tem fortes traços culturais. Ficou conhecido pelo tradicional festejo de São Marçal, que acontece todos os anos no dia 30 de junho, com a reunião de todos os grupos de bumba-meu-boi da cidade. Contam os antigos que a primeira reunião dos brincantes aconteceu por volta de 1928. O bairro era um sítio de nome João Paulo e o proprietário era Simeão Costa. Mas a origem do nome vem da época em que um homem por nome João Paulo vendia cafezinho no Caminho Grande, depois avenida João Pessoa e que este ano ganhou o nome de São Marçal em homenagem ao santo. O bairro se orgulha do patrimônio cultural e ostenta o registro de histórico de ser sede da primeira escola de samba de São Luís, a Turma da Mangueira, mas também guarda em si uma grande vocação comercial. É um grande centro comercial, o segundo a surgir na capital. No João Paulo, a avenida João Pessoa traz uma infinidade de comércios, o colégio Batistas, um dos mais antigos de São Luís. Nas ruas paralelas, estabeleceu-se o comércio atacadista, especialmente na rua Riachuelo.
Bem próximo ao Centro está a Madre Deus, inicialmente batizada de Madre de Deus. A história do bairro ganhou um livro. Madre Deus de Festejos e Festanças, de autoria de Chagas Júnior. Segundo Chagas, os primeiros registros do bairro datam de 1713, quando um vilarejo foi formado em torno de um local conhecido como Ponta de Santo Amaro. No final do século XIX, devido à instalação das fábricas de tecidos, teve sua população multiplicada. Hoje é um dos grandes celeiros da cultura popular abrigar grupos de manifestações folclóricas e por ser palco das folias de Carnaval e São João. Segundo o livro, há o registro de 21 manifestações culturais do bairro.
Comunidades remanejadas
A Areinha contabiliza seus 33 anos de existência. Tudo começou na época da construção da Ponte Bandeira Tribuzzi nos idos de 1972. Os então moradores da Camboa foram remanejados para o loteamento da Areinha, da União de Moradores do Bairro da Areinha (UMBA) e então surgiu o bairro. Uma de suas principais avenidas - , que dá acesso à avenida dos Africanos é corredor diário de transporte, tendo ao longo de sua extensão comércios de todo o tipo. Nos últimos 20 anos, os três mil moradores passaram a conviver com ilustres vizinhos órgãos da Justiça Federal, Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, Tribunal de Contas da União, mas nem assim dificuldades estruturais foram superadas.
O Túnel do Sacavém apresenta a falta de saneamento básico como uma das maiores dores de cabeça de uma parcela notável de seus moradores. O bairro, localizado nas proximidades da Jordoa, do Filipinho e do Barreto, teve o seu nome originado com base na influência direta do túnel existente sob a avenida João Pessoa, por onde passava a antiga estrada de ferro.
Homenagens diversas
O nome da maior ocupação da América Latina tem sua história. A Cidade Olimpíca nasceu em 1994, na época da Olimpíadas, daí da homenagem. Desejava a comunidade mostrar que seria vitoriosa como atletas que disputaram as competições. Hoje, seus 65 mil habitantes ainda enfrentam problemas com infra-estrutura e não sabem qual será o futuro: se São Luís ou São José de Ribamar. A comunidade é uma das área da cidade que está no debate sobre os limites territoriais da Ilha de São Luís
A televisão não ficou de fora. A novela Redenção deu nome ao bairro que surgiu em 1965 a partir de uma ocupação erguida sobre uma sobra de terreno do conjunto residencial Filipinho. Quem conta a história é Martinho Marinho Costa. "Nós vivíamos os mesmos dramas enfocados na novela, daí optarmos em adotar o seu título para denominar o bairro", disse. Hoje a comunidade vive sob a ameaça do despejo. A área de 52.912,29m2 pertence ao INSS e pode ser vendida a qualquer momento. A decisão está nas mãos da Prefeitura de São Luís, que cobra os tributos aos moradores.
A tendência por nomes em homenagens a políticos é comum. A primeira governadora mulher do Estado ainda dá nome a Vila Roseana Sarney, em São Luís. Pequena, mas organizada, é um dos menores bairros de São Luís. Localizada entre a Rodoviária, a avenida dos Franceses e a Vila Lobão, são apenas cinco ruas, onde famílias moram desde maio de 1994.
A Vila Lobão, homenagem ao então senador Edson Lobão, está encravada entre os bairros de Santo Antônio e Anil, nas proximidades do Terminal Rodoviário e da vizinha Vila Roseana.
Há também a homenagem a outros países. Assim, temos a Alemanha, Coréia e Japão. No caso da Alemanha, até a divisão política do país que deu origem ao nome permaneceu, e, assim, há a Alemanha de cima, caracterizada pelo luxo dos seus casarões, e a de baixo, marcada pela pobreza.
E a mãe natureza também não foi esquecida. Dois bairros nascem a partir da sugestão da natureza. Assim, o Angelim, árvore frondosa de cheiro pouco agradável, dá nome ao bairro que nasce no coração de uma floresta, construído pela antiga Cohab. Em seus arredores está o Angelim Velho, bairro pacato que, apesar da proximidade de grandes centros, ainda conserva algumas características da fundação, há cerca de um século, como as casas com grandes terrenos e árvores frondosas, motivo de tranqüilidade para as duas mil famílias que moram no local.
Inspirações religiosas
Na época em que o papa João Paulo II veio a São Luís, em 1982, nasce o João de Deus. A idéia de dar à ocupação o nome do maior ícone religioso do mundo foi uma forma encontrada pelas famílias para dar legitimidade à ocupação. "A gente não tinha casa para morar. Então resolvemos nos reunir e erguer as nossas casas", diz Maria Lúcia Pereira Cantanhede, uma das fundadoras do bairro. Hoje, a área de 110 hectares onde foi erguida o bairro é alvo de uma pendenga judicial numa ação movida desde 1985 pelos herdeiros B. R e Artemizia Pinheiro. Eles culpam o município e o Estado de ter facilitado a invasão e querem uma indenização.
O Bom Jesus também seu nome inspirado na fé. São mais de 18 anos de existência. Hoje seus 30 mil habitantes esperam com fé por dias melhores. O bairro apesar dos anos de existência e do grande contingente populacional apresenta velhos problemas de segurança e falta de estrutura.
Esperançosos também vive os moradores da Divinéia, inspirada em divino. A antiga invasão, situada entre os bairros da Vila Luizão, Olho D'Água e Santa Rosa, foi fundada há aproximadamente 15 anos, e as famílias, em sua maioria de baixa renda, lutam por uma melhor qualidade de vida.
A fé que se renova todos os dias foi suficiente para o surgimento da Fé em Deus, bairro localizado entre a Liberdade e o Monte Castelo, e distante cerca de quatro quilômetros do Centro. Nem por isso as quatro mil famílias viram acontecer muitos dos milagres pedidos.
Padroeiro da paz, São Francisco acabou escolhido com santo protetor da comunidade de pescadores que deu origem ao bairro do São Francisco. A comunidade já existia antes da construção da ponte José Sarney, na década de 60. Mas somente em 1971, foi criada a paróquia de São Francisco de Assis. Desde então são realizadas, anualmente, homenagens para o santo.
Um dos maiores aglomerados é o São Raimundo. O conjunto residencial existe há cerca de 10 anos e possui 3.750 casas, construídas por 12 empresas com financiamento da Caixa Econômica Federal. Grande parte dos moradores são funcionários públicos e pequenos comerciantes.
Ainda lista dos bairros religiosos, há o São Cristóvão, que, por ser na saída da cidade, vive um intenso tráfego de caminhoneiros. Todos os anos é nessa comunidade que se organiza o tradicional festejo em homenagem ao padroeiro dos motoristas.
Edvânia Kátia
Da equipe de O IMPARCIAL
Carta Aberta pela criação do Memorial da Imprensa
Cerca de 300 anos separam a fundação das primeiras tipografias da chegada dos portugueses à colônia. Em 1808, junto à bagagem da Corte havia 2 prelos e 26 volumes de material tipográfico comprados na Inglaterra para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra Civil. Esse material gráfico foi utilizado na montagem da Impressão Régia, a primeira tipografia instalada no Brasil, onde foi impresso o jornal A Gazeta do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi editado o jornal Correio Braziliense, em Londres, sob a direção de Hipólito da Costa.
Anos mais tarde, nasce a imprensa maranhense. O Conciliador foi o primeiro jornal do Maranhão, transformando São Luís na quarta capital do país a ter imprensa. Financiado pelo governador da Província, Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, o jornal foi fundado em meio à luta entre brasileiros e portugueses, divididos quanto à Independência do Brasil. Chegou às ruas em 15 de abril de 1821, no entanto, somente a data de 10 de novembro de 1821 é considerada o Dia da Imprensa Maranhense. Trata-se do primeiro número impresso, pois as edições anteriormente foram feitas a bico de pena (JORGE, 2000: 17). Com formato de papel almaço comum, O Conciliador foi jornal oficial e noticioso (SERRA, 2001: 23) e de linguagem agressiva e inconseqüente na defesa de seus interesses enquanto órgão áulico (JORGE, 1998: 17).
Os primeiros jornalistas da Província foram portugueses - Antônio Marques da Costa Soares e o padre José Antônio Ferreira Tezinho - o que reforça o poderio dos interesses lusos na condução deste primeiro momento da imprensa em São Luís. Eles foram autores de ataques desmedidos contra seus opositores em O Conciliador. Por isso Tezinho foi indiciado em processo por crime de imprensa (JORGE, 2000:18).
O Jornal O Conciliador deixou de circular em 16 de julho de 1823, após 210 números. Na mesma época, outros jornais se aventuraram na Província, em ebulição política, dirigida por liberais e conservadores. Entre eles, O Censor, do português João Antônio Garcia de Abranches, opositor do jornal O Argos da Lei, do maranhense Manoel Odorico Mendes, um dos mais importantes jornalistas da Província, ao lado de João Francisco Lisboa. Abranches e Odorico Mendes travaram duelos memoráveis na imprensa, nos quais pontuavam suas opiniões sobre os acontecimentos e o destino da Nação.
Na segunda metade do século XIX, a história do jornalismo no Maranhão conheceu grandes jornalistas. Na obra Sessenta Anos de Jornalismo – A Imprensa do Maranhão, Joaquim Serra cita vários deles (2001:77): João Lisboa, Francisco Sotero dos Reis, José Cândido de Moraes e Silva, Odorico Mendes, Gentil Braga, Marques Rodrigues e Celso Magalhães.
O rádio surge em 1863 quando, em Cambridge - Inglaterra, James Clerck Maxwell demonstrou teoricamente a provável existência das ondas eletromagnéticas, mas é a partir de 1919, que começa a chamada "Era do rádio". No Brasil, a primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil, foi o discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, em plena comemoração do centenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1922. O discurso aconteceu numa exposição, na Praia Vermelha - Rio de Janeiro e o transmissor foi instalado no alto do Corcovado, pela Westinghouse Electric Co. No Maranhão, a rádio mais antiga é a Timbira, que completou este anos 64 anos de existência.
Vem o advento da televisão. A primeira transmissão oficial data de 18 de fevereiro de 1972. No Brasil, a pré-estréia ocorre a 3 de abril de 1950. No Maranhão, data de 29 de novembro de 1962 a criação da primeira Tv no Estado, oficialmente inaugurada em 09/11/1963. Tem como características o canal 4, a multiplicidade de programas produzidos na própria emissora, dessa forma, interagindo, naturalmente, com a comunidade, nasceu, então, a Tv Difusora.
Chegamos ao século XXI. A revolução tecnológica desafia a sobrevivência dos veículos impressos. O jornalismo on-line surge como uma nova vertente, embora ainda sejam tímidos os investimentos nessa mídia. Praticamente não há equipes especializadas de profissionais para a apuração de fatos voltados apenas para aquele veículo e o conteúdo das páginas on-line dos veículos de comunicação são reprodução do que é apurado pelas equipes dos veículos, vamos dizer assim, tradicionais.
Hoje, há seis jornais impressos circulando diariamente. O Imparcial, Jornal Pequeno, O Estado do Maranhão, O Debate, Tribuna do Nordeste, Diário da Manhã e O Litoral. Sobre os três mais antigos, sabe-se que O IMPARCIAL colocou sua primeira edição na rua, no dia 1º de maio de 1926, sob o comando do jornalista João Ferreira Pires. Em 29 de maio de 1951, o Jornal Pequeno foi lançado pelo jornalista José de Ribamar Bogéa, num momento em que todos os órgãos de imprensa do Estado, de uma forma ou de outra, achavam-se vinculados a grupos ou partidos políticos. Fundado por José Sarney e Bandeira Tribuzzi, nasceu há 42 anos o Jornal O Estado do Maranhão. São quatro emissoras de rádio AM: Timbira, Educadora, Mirante, Capital e Difusora. Na faixa FM estão Universidade FM, Difusora, Cidade, Jovem Pan, Mais FM, Esperança e Mirante. Há ainda as Televisões TV Mirante, Tv Difusora, TVE e TV Cidade. Cada um com sua história, sua trajetória, bem como os profissionais que neles atuam.
Estamos, portanto, às vésperas, das comemorações do bicentenário da imprensa brasileira, e pesquisadores, professores, profissionais lançaram, no dia 5 de abril de 2001, na cidade do Rio de Janeiro, na sede da Associação Brasileira de Imprensa, o desafio de contar esses 200 anos da história da imprensa e da história do país.
Assim surgiu a Rede Alfredo de Carvalho. O nome é uma homenagem ao historiador pernambucano Alfredo de Carvalho. No início do século XX, sob os auspícios do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ele realizou a primeira pesquisa integrada sobre a imprensa brasileira. Constituiu-se, na verdade, em artífice do inventário documental que preparou o terreno para a aventura historiográfica reservada aos jovens pesquisadores da mídia impressa. Presidida pelo professor-doutor José Marques de Melo, da Cátedra da Unesco, a Rede é a maior referência em pesquisa sobre a história das mídias.
No Maranhão, a idéia ganha impulso, a partir de 20 de agosto de 2003, quando foi instalado o Núcleo Memória da Imprensa no Maranhão, que integra a Associação Maranhense de Imprensa. Começa a ser desenhada, a partir de então, com a contribuição de pesquisadores, profissionais, professores e estudantes da área de comunicação, a proposta que resultará no projeto Imprensa 200 anos – Memória Maranhão, integrando-se ao projeto global da Rede Alfredo de Carvalho, que comemora o bicentenário da imprensa no Brasil, programado para 2008.
Compartilhando do sonho daqueles que iniciaram a Rede Alfredo de Carvalho, a Associação Maranhense de Imprensa (AMI), enquanto instituição que tem caráter associativo e mobilizador, lança aos pesquisadores, professores, profissionais, estudantes, organismos governamentais, instituições não-governamentais, empresas e à sociedade o desafio de preservar a história da imprensa no Maranhão e apresenta a proposta da criação da Rede Memória da Imprensa Maranhense, articulação constituída por todos que também desejarem escrever uma nova página da história da imprensa maranhense, e convida todos a, integrarem a Rede, seja como personalidades físicas ou personalidades jurídicas, de forma a concretizar as ações do projeto Imprensa 200 Anos – Memória Maranhão, um conjunto de iniciativas que resultarão no maior acervo documental dos bens materiais e imateriais da imprensa maranhense, resultado de um esforço coletivo com vistas à criação do Memorial da Imprensa no Maranhão.
Faz-se urgente e necessário o compromisso do governador, do prefeito de São Luís, dos representantes dos organismos públicos, reitores das universidades, empresas, dos veículos de comunicação e das entidades representantivas dos profissionais, no sentido de somar esforços para que a cidade de São Luís, agraciada com o título de patrimônio da Humanidade pela Unesco, ganhe de presente o Memorial da Imprensa. Confunde-se a história da cidade com a própria história da imprensa. São as páginas de jornais, as fitas gravadas do rádio e da televisão, que servem de fonte de pesquisa para que a sociedade possa compreender o contexto sócio, político, econômico e cultural de uma determinada época. Entretanto, a falta de um espaço adequado, capaz de disponibilizar, de forma sistemática, o conjunto de bens materiais e imateriais da imprensa, acaba por deixar uma lacuna para esta cidade e para este povo, bem como deixa de registrar, com o devido reconhecimento e merecimento, o nome de jornalistas ilustres que tanto representam para a história do Maranhão pela sua contribuição intelectual ao nosso país. Somos berço de grandes poetas e jornalistas e a eles devemos o nosso reconhecimento.
Entende a Associação que a imprensa maranhense carece de iniciativas que visem preservar sua memória, articulando-a ao processo histórico e aos desafios do fazer jornalístico. O jornalista, enquanto sujeito de sua história, participa ativamente dos fatos que decidem o destino das sociedades. Por isso, entender a sua trajetória, as dificuldades enfrentadas e o papel desempenhado ao longo do processo de produção jornalística, nos ajudam a entender o perfil atual da imprensa local.
Contar a história da imprensa é contar a história da sociedade.
O desafio está lançado.
(*) Este texto tem fragmentos do trabalho de pesquisa sobre a Memória da Imprensa no Maranhão, da jornalista Roseane Pinheiro.
26 de Agosto de 2004
Anos mais tarde, nasce a imprensa maranhense. O Conciliador foi o primeiro jornal do Maranhão, transformando São Luís na quarta capital do país a ter imprensa. Financiado pelo governador da Província, Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, o jornal foi fundado em meio à luta entre brasileiros e portugueses, divididos quanto à Independência do Brasil. Chegou às ruas em 15 de abril de 1821, no entanto, somente a data de 10 de novembro de 1821 é considerada o Dia da Imprensa Maranhense. Trata-se do primeiro número impresso, pois as edições anteriormente foram feitas a bico de pena (JORGE, 2000: 17). Com formato de papel almaço comum, O Conciliador foi jornal oficial e noticioso (SERRA, 2001: 23) e de linguagem agressiva e inconseqüente na defesa de seus interesses enquanto órgão áulico (JORGE, 1998: 17).
Os primeiros jornalistas da Província foram portugueses - Antônio Marques da Costa Soares e o padre José Antônio Ferreira Tezinho - o que reforça o poderio dos interesses lusos na condução deste primeiro momento da imprensa em São Luís. Eles foram autores de ataques desmedidos contra seus opositores em O Conciliador. Por isso Tezinho foi indiciado em processo por crime de imprensa (JORGE, 2000:18).
O Jornal O Conciliador deixou de circular em 16 de julho de 1823, após 210 números. Na mesma época, outros jornais se aventuraram na Província, em ebulição política, dirigida por liberais e conservadores. Entre eles, O Censor, do português João Antônio Garcia de Abranches, opositor do jornal O Argos da Lei, do maranhense Manoel Odorico Mendes, um dos mais importantes jornalistas da Província, ao lado de João Francisco Lisboa. Abranches e Odorico Mendes travaram duelos memoráveis na imprensa, nos quais pontuavam suas opiniões sobre os acontecimentos e o destino da Nação.
Na segunda metade do século XIX, a história do jornalismo no Maranhão conheceu grandes jornalistas. Na obra Sessenta Anos de Jornalismo – A Imprensa do Maranhão, Joaquim Serra cita vários deles (2001:77): João Lisboa, Francisco Sotero dos Reis, José Cândido de Moraes e Silva, Odorico Mendes, Gentil Braga, Marques Rodrigues e Celso Magalhães.
O rádio surge em 1863 quando, em Cambridge - Inglaterra, James Clerck Maxwell demonstrou teoricamente a provável existência das ondas eletromagnéticas, mas é a partir de 1919, que começa a chamada "Era do rádio". No Brasil, a primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil, foi o discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, em plena comemoração do centenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1922. O discurso aconteceu numa exposição, na Praia Vermelha - Rio de Janeiro e o transmissor foi instalado no alto do Corcovado, pela Westinghouse Electric Co. No Maranhão, a rádio mais antiga é a Timbira, que completou este anos 64 anos de existência.
Vem o advento da televisão. A primeira transmissão oficial data de 18 de fevereiro de 1972. No Brasil, a pré-estréia ocorre a 3 de abril de 1950. No Maranhão, data de 29 de novembro de 1962 a criação da primeira Tv no Estado, oficialmente inaugurada em 09/11/1963. Tem como características o canal 4, a multiplicidade de programas produzidos na própria emissora, dessa forma, interagindo, naturalmente, com a comunidade, nasceu, então, a Tv Difusora.
Chegamos ao século XXI. A revolução tecnológica desafia a sobrevivência dos veículos impressos. O jornalismo on-line surge como uma nova vertente, embora ainda sejam tímidos os investimentos nessa mídia. Praticamente não há equipes especializadas de profissionais para a apuração de fatos voltados apenas para aquele veículo e o conteúdo das páginas on-line dos veículos de comunicação são reprodução do que é apurado pelas equipes dos veículos, vamos dizer assim, tradicionais.
Hoje, há seis jornais impressos circulando diariamente. O Imparcial, Jornal Pequeno, O Estado do Maranhão, O Debate, Tribuna do Nordeste, Diário da Manhã e O Litoral. Sobre os três mais antigos, sabe-se que O IMPARCIAL colocou sua primeira edição na rua, no dia 1º de maio de 1926, sob o comando do jornalista João Ferreira Pires. Em 29 de maio de 1951, o Jornal Pequeno foi lançado pelo jornalista José de Ribamar Bogéa, num momento em que todos os órgãos de imprensa do Estado, de uma forma ou de outra, achavam-se vinculados a grupos ou partidos políticos. Fundado por José Sarney e Bandeira Tribuzzi, nasceu há 42 anos o Jornal O Estado do Maranhão. São quatro emissoras de rádio AM: Timbira, Educadora, Mirante, Capital e Difusora. Na faixa FM estão Universidade FM, Difusora, Cidade, Jovem Pan, Mais FM, Esperança e Mirante. Há ainda as Televisões TV Mirante, Tv Difusora, TVE e TV Cidade. Cada um com sua história, sua trajetória, bem como os profissionais que neles atuam.
Estamos, portanto, às vésperas, das comemorações do bicentenário da imprensa brasileira, e pesquisadores, professores, profissionais lançaram, no dia 5 de abril de 2001, na cidade do Rio de Janeiro, na sede da Associação Brasileira de Imprensa, o desafio de contar esses 200 anos da história da imprensa e da história do país.
Assim surgiu a Rede Alfredo de Carvalho. O nome é uma homenagem ao historiador pernambucano Alfredo de Carvalho. No início do século XX, sob os auspícios do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ele realizou a primeira pesquisa integrada sobre a imprensa brasileira. Constituiu-se, na verdade, em artífice do inventário documental que preparou o terreno para a aventura historiográfica reservada aos jovens pesquisadores da mídia impressa. Presidida pelo professor-doutor José Marques de Melo, da Cátedra da Unesco, a Rede é a maior referência em pesquisa sobre a história das mídias.
No Maranhão, a idéia ganha impulso, a partir de 20 de agosto de 2003, quando foi instalado o Núcleo Memória da Imprensa no Maranhão, que integra a Associação Maranhense de Imprensa. Começa a ser desenhada, a partir de então, com a contribuição de pesquisadores, profissionais, professores e estudantes da área de comunicação, a proposta que resultará no projeto Imprensa 200 anos – Memória Maranhão, integrando-se ao projeto global da Rede Alfredo de Carvalho, que comemora o bicentenário da imprensa no Brasil, programado para 2008.
Compartilhando do sonho daqueles que iniciaram a Rede Alfredo de Carvalho, a Associação Maranhense de Imprensa (AMI), enquanto instituição que tem caráter associativo e mobilizador, lança aos pesquisadores, professores, profissionais, estudantes, organismos governamentais, instituições não-governamentais, empresas e à sociedade o desafio de preservar a história da imprensa no Maranhão e apresenta a proposta da criação da Rede Memória da Imprensa Maranhense, articulação constituída por todos que também desejarem escrever uma nova página da história da imprensa maranhense, e convida todos a, integrarem a Rede, seja como personalidades físicas ou personalidades jurídicas, de forma a concretizar as ações do projeto Imprensa 200 Anos – Memória Maranhão, um conjunto de iniciativas que resultarão no maior acervo documental dos bens materiais e imateriais da imprensa maranhense, resultado de um esforço coletivo com vistas à criação do Memorial da Imprensa no Maranhão.
Faz-se urgente e necessário o compromisso do governador, do prefeito de São Luís, dos representantes dos organismos públicos, reitores das universidades, empresas, dos veículos de comunicação e das entidades representantivas dos profissionais, no sentido de somar esforços para que a cidade de São Luís, agraciada com o título de patrimônio da Humanidade pela Unesco, ganhe de presente o Memorial da Imprensa. Confunde-se a história da cidade com a própria história da imprensa. São as páginas de jornais, as fitas gravadas do rádio e da televisão, que servem de fonte de pesquisa para que a sociedade possa compreender o contexto sócio, político, econômico e cultural de uma determinada época. Entretanto, a falta de um espaço adequado, capaz de disponibilizar, de forma sistemática, o conjunto de bens materiais e imateriais da imprensa, acaba por deixar uma lacuna para esta cidade e para este povo, bem como deixa de registrar, com o devido reconhecimento e merecimento, o nome de jornalistas ilustres que tanto representam para a história do Maranhão pela sua contribuição intelectual ao nosso país. Somos berço de grandes poetas e jornalistas e a eles devemos o nosso reconhecimento.
Entende a Associação que a imprensa maranhense carece de iniciativas que visem preservar sua memória, articulando-a ao processo histórico e aos desafios do fazer jornalístico. O jornalista, enquanto sujeito de sua história, participa ativamente dos fatos que decidem o destino das sociedades. Por isso, entender a sua trajetória, as dificuldades enfrentadas e o papel desempenhado ao longo do processo de produção jornalística, nos ajudam a entender o perfil atual da imprensa local.
Contar a história da imprensa é contar a história da sociedade.
O desafio está lançado.
(*) Este texto tem fragmentos do trabalho de pesquisa sobre a Memória da Imprensa no Maranhão, da jornalista Roseane Pinheiro.
26 de Agosto de 2004
Da pauta à manchete
Essa matéria convida você leitor a uma viagem pela produção diária da notícia. Poucos conhecem a rotina de uma redação e muitos se perguntam como isso acontece. Em algumas linhas, vamos procurar explicar um pouco de tudo
Para quem nunca ouviu falar em pauta, olho, legenda, sutiã, retranca, manchete é difícil entender como funciona uma máquina de fazer notícia. Quem está na Redação vê tudo com simplicidade e os termos complexos começam a fazer parte de um vocabulário muito particular. Mas, se você leitor, quer saber como funciona esse mundo de notícias, acompanhe como se faz a produção diária de O IMPARCIAL e conheça um pouco mais sobre os profissionais envolvidos em cada notícia nesta edição especial.
Tudo começa pela pauta. Quem é jornalista conhece bem o exemplo que diz: "quando um cachorro morde a perna de um homem, isso nem sempre é notícia, mas se o homem morder a perna de um cachorro, isso é notícia".
Aquele jornalista responsável por distribuir as pautas é o pauteiro, bem definido pelo jornalista Ricardo Noblat, como uma espécie de ser extra-terrestre que perde o contato com o mundo lá fora para funcionar como uma espécie de burocrata da Redação. Em O IMPARCIAL, a equipe superou esse modelo e o extra-terrestre foi eliminado. "Hoje trabalhamos com coordenadorias e sub-coordenadorias, onde o planejamento das pautas é conjunto com os repórteres", explica o sub-coordenador Samartony Martins, ex-pauteiro.
O resultado da publicação é avalidado todos os dias. A reunião pela manhã é sagrada. "Comparamos o enfoque, os textos e as fotografias em relação às outras coberturas, mas nos preocupamos muito com o que estamos fazendo. Queremos melhorar mais ", acentua Samartony.
O trabalho precisa de um ritual. "Quando chegamos pela manhã, procuramos ler todos os jornais, para acompanhar a nossa produção e a dos concorrentes. E nunca nos limitamos à área que fazemos a cobertura. Buscamos uma visão global dos assuntos", avalia o repórter Robson Paz, responsável pela série de reportagens sobre a bebê Grace Ellen, queimada em uma maternidade no ano passado. A denúncia foi tão forte que ganhou destaque nacional.
O ponteiro começa a chegar às nove horas. É hora de começar a correr contra o tempo. Cada um com sua pauta, parte para a apuração. Robson Paz, Glaucio Ericeira, Janine Cidreira, Edvânia Kátia, Lucimar Rodrigues, Douglas Cunha, Selma Rosa, César Scanssette, e os setoristas Gisélia Castro, Silvan Alves, Marcelo Sirkis. No trabalho de campo (reportagem), o jornalista precisa saber da responsabilidade que carrega. "Nem sempre o que está na pauta é o que o jornalista vai encontrar na rua. A realidade é bem mais gritante do que aquilo que se imaginava. Quando alguém faz uma denúncia ou quando a gente escuta alguém se indignando, a gente não tem a dimensão do problema até se deparar com a gravidade da doença, da dor de uma família vítima da violência, da desonestidade, ou da mesquinhez das pessoas que desviam dinheiro público. É uma responsabilidade muito grande ser o porta-voz dessa indignação", sabe Janine Cidreira, que para fazer uma denúncia sobre as condições dos hospitais públicos se fez passar por uma estudante de Medicina, para ter acesso às áreas restritas do hospital.
Nas editorias setorizadas de Política, Esporte e Polícia, mais desafios.
A sub-coordenadora Andrea Viana, da área de Política, sabe que trabalha num campo minado. Na dobradinha com Gisélia Castro e Marcelo Sirkis, procura unir imparcialidade com furos de reportagem. "Qualquer editoria de política é um campo minado, mas O IMPARCIAL tem conseguido apurar bem, ouvindo sempre todos os lados envolvidos no fato, fugindo da notícia tendenciosa", ressalta. O colega Sirkis destaca que principalmente nesse eleitoral o repórter da área de política tem que redobrar os cuidados com o que vai escrever porque há matérias plantadas (implantadas), boatos e por isso todo a atenção para checar a informação. "A linha editorial do jornal favorece a liberdade profissional", afirma.
Em Polícia, novos talentos juntos aos veteranos. Silvan Alves conseguiu ao longo dos anos uma agenda de causar inveja. "Quem tem fonte tem tudo", setencia. Ele trabalha em dobradinha com os repórteres do caderno Grande São Luís. O desafio da editoria é superar a notícia policialesca e O IMPARCIAL vai formando escola. "Você pode fazer jornalismo policial sem se limitar ao boletim de ocorrência das delegacias e às fontes oficiais. O boletim é uma indicação, que deve ser investigada", defende o jornalista Glaucio Ericeira, autor de uma série de matéria sobre os emasculados.
No Esporte, a cobertura o desafio, um pouco mais acentuado que nas outras editorias, é acertar no detalhe que vai dar o diferencial em relação ao que foi divulgado pela televisão, pelo rádio ou pelos sites da Internet. "Você não pode imaginar que todas as pessoas que lêem jornal, ouviram o rádio, acessaram o site ou assistiram ao noticiário da tv. O fato tem que ser relatado, mas o que o jornalismo impresso tem o cuidado de fazer é informar além do resultado de uma partida os detalhes que cercaram aquela decisão, os bastidores do que acontece nos treinos. Esse é o diferencial", pondera Neres Pinto, o segundo jornalista mais antigo da Redação. Em sua equipe jovens talentos. Matos Batista e Lenon Carvalho
Material apurado, é o momento de seduzir o leitor.
Reunir em duas ou três palavras o que o repórter disse em mais de 30 linhas, escolher a foto certa e ter uma boa informação sobre ela, na legenda. Para o coordenador Ribamar Praseres, responsáveis pela editorias de Grande São Luís, Consumidor e Polícia, é preciso mais que a técnica. Ele costuma fugir à regra da factualidade e prefere levar em consideração o grau de importância do fato e o número de pessoas envolvidas ou que se interessam pelo assunto. "Procuramos nos preocupar com a sedução do leitor. Procuramos casar elementos gráficos, com a boa informação e nós, que somos responsáveis pelo fechamento, ficamos atentos a todos os detalhes, aquele detalhe que vai fazer com que o leitor não mude de página ". Ele aplica bem a regra aos seus textos. Na matéria de sua autoria Palácios entre Ruínas, publicada em janeiro de 2001 por O IMPARCIAL e o Correio Braziliense, ele denunciou o abandono dos prédios particulares no meio da restauração de prédios públicos.
No final do dia, chega o momento da decisão. Saber o que será ou não publicado caberá ao editor responsável pela página. Todos os responsáveis pelo fechamento vivem esse dilema diário, mas nenhum deles sofre mais que Francisco Júnior, responsável pelo fechamementos da Últimas, que como o próprio nome diz, é a última página que fecha no jornal. "Procuramos trabalhar com o critério da factualidade e também da atualidade do fato. Nesta página priorizamos as notícias que chegam à Redação depois das oito hroas da noite para que no dia seguinte o leitor tenha a versão mais recente do fato, duelando contra os ponteiros do relógio", confessa.
De todos o momento um dos mais difíceis é escolher a manchete. Acertar todos os dias com o tema que vai vender o jornal é um desafio, acredita o responsável pelo fechamento, Marco Aurélio Oliveira, que é o coordenador do Primeiro Caderno. "Acompanho tudo o que acontece durante todo o dia, para na reunião da noite (capa) saber quais os assuntos mais importantes. Não existe a fórmula pronta para uma grande manchete. O qe é bom é surpreender o leitor e estar preparado para as cr'tícas porque quando se faz o diferente, foge do padrão, pode se agradar ou desagradar", destaca.
A criação fica por conta do design gráfico e diretor de Tecnologia, Célio Sérgio. Os dois juntos casam texto e imagens, para, como define Célio, conquistar o leitor. "Surpreender o leitor. Esse é o lema. Atualmente o jornal faz isso na capa e agora com o novo projeto gráfico faremos isso nas páginas internas", explica. No novo projeto "vamos primar pela mesma coerência formal, para dar hegemonia ao projeto, abusando da criatividade e dos recursos gráficos", promete.
A dupla deixou na história de O IMPARCIAL algumas capas memoráveis. Quem não se lembra da capa Você já viu esse filme antes, sobre as chuvas. Ou então, O sonho acabou, quando o jornal antecipou a saída da governadora Roseana Sarney da sucessão presidencial. Os donos do milhão, a infografia do rateio do dinheiro da Lunus. Ou as cruzes que simbolizaram a morte dos meninos emasculados.. Entre os menos favoritos o placar da Polícia 5 X 12 Bandido, que contabiliza as fugas e a captura de presos. Houve quem tivesse achado que foi o resultado de uma partida de futebol.
Toda a redação trabalha com o apoio da equipe da Editoração. São eles que dão forma às ideáis dos editores. Ana Cristina, José Henrique (o Xaxado), Silva Regina, Pablo Lins, Izaac Cutrim, Selma Ferreira, Elizafan. Silvia resume o pensamento da equipe. "O visual é um elemento que deve complementar a leitura. Tento todos os dias fugir da rotina. Tentamos ser criativos para causar impacto no leitor e para que ele tenha uma leitura facilitada", diz.
Assuntos não faltam para a cobertura diária. "Nós, jornalistas, somos treinados com o tempo a usar todos os nossos sentidos. Aprendemos a ver mais longe, escutar mais. As idéias vão surgindo escutando o rádio, vendo a Internet, contactando com as fontes organizadas, mantendo contato com a comunidade ou observando, só observando o que acontece em volta. O mais importante de tudo é que o nosso trabalho deve estar voltado para aquelas pessoas que não sabem o que é pauta, não imaginam o que seja um release, mas sempre têm uma boa história para contar ou estão dispostos a ouvir, ou melhor, ler", convida a jornalista Edvânia Kátia, autora desta matéria feita especialmente para você, leitor.
Texto publicado em O IMPARCIAL, produzido em novembro de 2005.
Para quem nunca ouviu falar em pauta, olho, legenda, sutiã, retranca, manchete é difícil entender como funciona uma máquina de fazer notícia. Quem está na Redação vê tudo com simplicidade e os termos complexos começam a fazer parte de um vocabulário muito particular. Mas, se você leitor, quer saber como funciona esse mundo de notícias, acompanhe como se faz a produção diária de O IMPARCIAL e conheça um pouco mais sobre os profissionais envolvidos em cada notícia nesta edição especial.
Tudo começa pela pauta. Quem é jornalista conhece bem o exemplo que diz: "quando um cachorro morde a perna de um homem, isso nem sempre é notícia, mas se o homem morder a perna de um cachorro, isso é notícia".
Aquele jornalista responsável por distribuir as pautas é o pauteiro, bem definido pelo jornalista Ricardo Noblat, como uma espécie de ser extra-terrestre que perde o contato com o mundo lá fora para funcionar como uma espécie de burocrata da Redação. Em O IMPARCIAL, a equipe superou esse modelo e o extra-terrestre foi eliminado. "Hoje trabalhamos com coordenadorias e sub-coordenadorias, onde o planejamento das pautas é conjunto com os repórteres", explica o sub-coordenador Samartony Martins, ex-pauteiro.
O resultado da publicação é avalidado todos os dias. A reunião pela manhã é sagrada. "Comparamos o enfoque, os textos e as fotografias em relação às outras coberturas, mas nos preocupamos muito com o que estamos fazendo. Queremos melhorar mais ", acentua Samartony.
O trabalho precisa de um ritual. "Quando chegamos pela manhã, procuramos ler todos os jornais, para acompanhar a nossa produção e a dos concorrentes. E nunca nos limitamos à área que fazemos a cobertura. Buscamos uma visão global dos assuntos", avalia o repórter Robson Paz, responsável pela série de reportagens sobre a bebê Grace Ellen, queimada em uma maternidade no ano passado. A denúncia foi tão forte que ganhou destaque nacional.
O ponteiro começa a chegar às nove horas. É hora de começar a correr contra o tempo. Cada um com sua pauta, parte para a apuração. Robson Paz, Glaucio Ericeira, Janine Cidreira, Edvânia Kátia, Lucimar Rodrigues, Douglas Cunha, Selma Rosa, César Scanssette, e os setoristas Gisélia Castro, Silvan Alves, Marcelo Sirkis. No trabalho de campo (reportagem), o jornalista precisa saber da responsabilidade que carrega. "Nem sempre o que está na pauta é o que o jornalista vai encontrar na rua. A realidade é bem mais gritante do que aquilo que se imaginava. Quando alguém faz uma denúncia ou quando a gente escuta alguém se indignando, a gente não tem a dimensão do problema até se deparar com a gravidade da doença, da dor de uma família vítima da violência, da desonestidade, ou da mesquinhez das pessoas que desviam dinheiro público. É uma responsabilidade muito grande ser o porta-voz dessa indignação", sabe Janine Cidreira, que para fazer uma denúncia sobre as condições dos hospitais públicos se fez passar por uma estudante de Medicina, para ter acesso às áreas restritas do hospital.
Nas editorias setorizadas de Política, Esporte e Polícia, mais desafios.
A sub-coordenadora Andrea Viana, da área de Política, sabe que trabalha num campo minado. Na dobradinha com Gisélia Castro e Marcelo Sirkis, procura unir imparcialidade com furos de reportagem. "Qualquer editoria de política é um campo minado, mas O IMPARCIAL tem conseguido apurar bem, ouvindo sempre todos os lados envolvidos no fato, fugindo da notícia tendenciosa", ressalta. O colega Sirkis destaca que principalmente nesse eleitoral o repórter da área de política tem que redobrar os cuidados com o que vai escrever porque há matérias plantadas (implantadas), boatos e por isso todo a atenção para checar a informação. "A linha editorial do jornal favorece a liberdade profissional", afirma.
Em Polícia, novos talentos juntos aos veteranos. Silvan Alves conseguiu ao longo dos anos uma agenda de causar inveja. "Quem tem fonte tem tudo", setencia. Ele trabalha em dobradinha com os repórteres do caderno Grande São Luís. O desafio da editoria é superar a notícia policialesca e O IMPARCIAL vai formando escola. "Você pode fazer jornalismo policial sem se limitar ao boletim de ocorrência das delegacias e às fontes oficiais. O boletim é uma indicação, que deve ser investigada", defende o jornalista Glaucio Ericeira, autor de uma série de matéria sobre os emasculados.
No Esporte, a cobertura o desafio, um pouco mais acentuado que nas outras editorias, é acertar no detalhe que vai dar o diferencial em relação ao que foi divulgado pela televisão, pelo rádio ou pelos sites da Internet. "Você não pode imaginar que todas as pessoas que lêem jornal, ouviram o rádio, acessaram o site ou assistiram ao noticiário da tv. O fato tem que ser relatado, mas o que o jornalismo impresso tem o cuidado de fazer é informar além do resultado de uma partida os detalhes que cercaram aquela decisão, os bastidores do que acontece nos treinos. Esse é o diferencial", pondera Neres Pinto, o segundo jornalista mais antigo da Redação. Em sua equipe jovens talentos. Matos Batista e Lenon Carvalho
Material apurado, é o momento de seduzir o leitor.
Reunir em duas ou três palavras o que o repórter disse em mais de 30 linhas, escolher a foto certa e ter uma boa informação sobre ela, na legenda. Para o coordenador Ribamar Praseres, responsáveis pela editorias de Grande São Luís, Consumidor e Polícia, é preciso mais que a técnica. Ele costuma fugir à regra da factualidade e prefere levar em consideração o grau de importância do fato e o número de pessoas envolvidas ou que se interessam pelo assunto. "Procuramos nos preocupar com a sedução do leitor. Procuramos casar elementos gráficos, com a boa informação e nós, que somos responsáveis pelo fechamento, ficamos atentos a todos os detalhes, aquele detalhe que vai fazer com que o leitor não mude de página ". Ele aplica bem a regra aos seus textos. Na matéria de sua autoria Palácios entre Ruínas, publicada em janeiro de 2001 por O IMPARCIAL e o Correio Braziliense, ele denunciou o abandono dos prédios particulares no meio da restauração de prédios públicos.
No final do dia, chega o momento da decisão. Saber o que será ou não publicado caberá ao editor responsável pela página. Todos os responsáveis pelo fechamento vivem esse dilema diário, mas nenhum deles sofre mais que Francisco Júnior, responsável pelo fechamementos da Últimas, que como o próprio nome diz, é a última página que fecha no jornal. "Procuramos trabalhar com o critério da factualidade e também da atualidade do fato. Nesta página priorizamos as notícias que chegam à Redação depois das oito hroas da noite para que no dia seguinte o leitor tenha a versão mais recente do fato, duelando contra os ponteiros do relógio", confessa.
De todos o momento um dos mais difíceis é escolher a manchete. Acertar todos os dias com o tema que vai vender o jornal é um desafio, acredita o responsável pelo fechamento, Marco Aurélio Oliveira, que é o coordenador do Primeiro Caderno. "Acompanho tudo o que acontece durante todo o dia, para na reunião da noite (capa) saber quais os assuntos mais importantes. Não existe a fórmula pronta para uma grande manchete. O qe é bom é surpreender o leitor e estar preparado para as cr'tícas porque quando se faz o diferente, foge do padrão, pode se agradar ou desagradar", destaca.
A criação fica por conta do design gráfico e diretor de Tecnologia, Célio Sérgio. Os dois juntos casam texto e imagens, para, como define Célio, conquistar o leitor. "Surpreender o leitor. Esse é o lema. Atualmente o jornal faz isso na capa e agora com o novo projeto gráfico faremos isso nas páginas internas", explica. No novo projeto "vamos primar pela mesma coerência formal, para dar hegemonia ao projeto, abusando da criatividade e dos recursos gráficos", promete.
A dupla deixou na história de O IMPARCIAL algumas capas memoráveis. Quem não se lembra da capa Você já viu esse filme antes, sobre as chuvas. Ou então, O sonho acabou, quando o jornal antecipou a saída da governadora Roseana Sarney da sucessão presidencial. Os donos do milhão, a infografia do rateio do dinheiro da Lunus. Ou as cruzes que simbolizaram a morte dos meninos emasculados.. Entre os menos favoritos o placar da Polícia 5 X 12 Bandido, que contabiliza as fugas e a captura de presos. Houve quem tivesse achado que foi o resultado de uma partida de futebol.
Toda a redação trabalha com o apoio da equipe da Editoração. São eles que dão forma às ideáis dos editores. Ana Cristina, José Henrique (o Xaxado), Silva Regina, Pablo Lins, Izaac Cutrim, Selma Ferreira, Elizafan. Silvia resume o pensamento da equipe. "O visual é um elemento que deve complementar a leitura. Tento todos os dias fugir da rotina. Tentamos ser criativos para causar impacto no leitor e para que ele tenha uma leitura facilitada", diz.
Assuntos não faltam para a cobertura diária. "Nós, jornalistas, somos treinados com o tempo a usar todos os nossos sentidos. Aprendemos a ver mais longe, escutar mais. As idéias vão surgindo escutando o rádio, vendo a Internet, contactando com as fontes organizadas, mantendo contato com a comunidade ou observando, só observando o que acontece em volta. O mais importante de tudo é que o nosso trabalho deve estar voltado para aquelas pessoas que não sabem o que é pauta, não imaginam o que seja um release, mas sempre têm uma boa história para contar ou estão dispostos a ouvir, ou melhor, ler", convida a jornalista Edvânia Kátia, autora desta matéria feita especialmente para você, leitor.
Texto publicado em O IMPARCIAL, produzido em novembro de 2005.
sábado, 2 de outubro de 2010
Os desafios de construir uma Nova Imagem de uma Empresa
“Precisa-se: De pessoas que tenham os pés na terra e a cabeça nas estrelas.
Capazes de sonhar, sem medo de seus sonhos. Pessoas com dignidade, que se conduzam com coerência em seus discursos, seus atos, suas crenças e seus valores. Pessoas com coragem para abrir caminhos.Enfrentar desafios, criar soluções, correr riscos calculados. Sem medo de errar. Precisa-se de pessoas que enxerguem as árvores. Mas que também prestem atenção na magia da floresta. Que tenham a percepção do todo e da parte. Seres humanos justos, que inspirem confiança e demonstrem confiança nos parceiros. Precisa-se urgentemente de um novo ser. Começo esta palestra citando Issac Liberman.
Gosto muito quando ele fala que é preciso inventar ou reinventar um novo ser. Escolhi este poema propositadamente porque quero propor uma reflexão sobre a importância de cada ser para a quebra de paradigmas. Esse novo ser vai nascer da revolução que acontecerá dentro de cada um de nós.
Embora eu reconheça que este é um congresso técnico, acho importante fazer algumas ponderações que podem contribuir para a reflexão dos profissionais da comunicação, bem como os futuros profissionais.
Ao ser convidada para falar sobre o tema “Os Desafios de Construir uma Nova Imagem de uma Empresa”, encarei a proposta como um desafio, vez que toda a minha área de atuação está pautada na comunicação pública, onde atuo há 10 anos como assessora de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão e há dois anos como presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça
Mas escolhi dois caminhos. Minha abordagem será feita sobre dois aspectos: Primeiro pretendo mostrar a importância do profissional da comunicação para a construção da imagem das organizações, sejam elas públicas ou privadas. E depois, quero deixar algumas contribuições, a partir da experiência que tenho nas organizações públicas.
A construção da imagem de uma organização, seja ela pública ou privada depende de novos seres. Seres que possam ousar, que possam motivar outras pessoas. Enquanto profissional que sou, eu tenho que dar uma resposta à sociedade que exige uma postura ética e uma resposta às demandas sociais. Se esse novo ser ainda não nasceu dentro de você, pois comece a fazer a sua própria revolução.
É esse novo ser que a sociedade exige.
É esse novo ser que pode revolucionar a comunicação em uma organização.
Porque esse novo ser pode fazer uma comunicação para quebrar paradigmas. Pode ousar. Criar. Inventar e Reinventar
Ninguém pode fazer assessoria de comunicação pautado na mesmice.
Por isso, deter apenas o conhecimento técnico de fazer um release ou convocar uma coletiva não é suficiente para construir imagem e conceito nas organizações. Se assim o fosse, qualquer outro setor o poderia fazer muito.
É necessário ter o conhecimento técnico-ético e científico específicos da área da comunicação para construir a imagem de uma organização. É preciso saber a técnica, sobre a ética que regula a profissão, que não é mesma ética dos médicos, dos advogados, dos engenheiros. É preciso ter conhecimento científico para criar novas formas de comunicação, estratégias de comunicação, projetos. Mas é preciso ir além. Estar comprometido com quem está do lado de fora das nossas organizações, que possam transpor barreiras e quebrar paradigmas.
Então, quero dizer que “A Construção da Imagem de uma Organização” começa pela qualificação profissional, pela formação dos profissionais que vão fazer essa comunicação e pelos desafios que esses profissionais serão capazes de suportar, indo além do que é tradicional.
________________________________________________________
Bom, mas feitas essas ponderações preliminares, eu gostaria de convidá-los para conversarmos um pouco sobre a questão técnico-centífica.
Primeiro, vamos à importância do profissional da comunicação para as organizações. Há um grande risco para uma organização quando ela deixa de confiar a sua comunicação a um profissional qualificado a outros setores, que imaginam saber fazer comunicação.
Só quem conhece o que é comunicação está qualificado para fazer comunicação. Nós, comunicadores, geramos conhecimento científico sobre a realidade em que estamos inseridos quando apresentamos um projeto com justificativa, objetivos, metas. E depois, ao mensuramos os resultados, comprovamos que a fórmula surtiu resultado. E logo, esse conhecimento será aproveitado por outros profissionais.
Pode até ser que essa organização tenha as notinhas na coluna social, como se a comunicação fosse apenas isso. Mas esse processo estará prejudicado em sua essência porque a notinha é só o complemento de um processo de comunicação. É como se a organização estivesse falando no vazio.
A informação é um bem público. Esse o conceito básico do texto que cria o Conselho federal de Jornalismo. Mas isso não se dá por acaso. E, sim, porque os profissionais da comunicação possuem uma formação que remete a um compromisso com a sociedade. Aquela informação não é minha, não é sua. Vai além da empresa, além da organização. Ela é uma informação pública. E cabe, no caso, ao assessor de comunicação disponbilizá-la da melhor maneira para a sociedade.
Mas aqueles que entendem que o processo da comunicação pode ser coordenado por qualquer profissional o fazem por desconhecimento, quando confundem imagem com visibilidade
Quando falamos em imagem, de imediato imaginamos visibilidade. Ora, se meu assessorado aparece todos os dias nos jornais, então ele tem imagem. Certo?
Ocorre que imagem não é visibilidade.
Ter visibilidade, entretanto, não é ter imagem, ainda mais se as atitudes da organização não condizem com suas ações
No caso das organizações públicas, observa-se que a partir da Constituição de 1988, muda o perfil do cidadão. Ele passa a exigir mais seus direitos. Muda o perfil dos servidores. Ao invés da indicação política, começam a ingressar na carreira os servidores concursados, que gozam de estabilidade, e se fortalecem as organizações dos servidores. O clima organizacional, entretanto, continua carregado de vícios do serviço público: permanece o excesso de burocracia, a falta de liderança e criatividade e boa parte dos servidores estão desmotivados.
Ocorre que, as organizações públicas não estavam preparadas para tantas mudanças, o que levou as organizações, de um modo geral, a uma crise de legitimidade devido a não aceitação dos seus públicos.
Como bem disse o professor e mestre em Direito Constitucional, Osvaldo Agripino de Castro Júnior, “diante desse cenário, onde a Constituição garante ao cidadão mais direitos e os órgãos públicos não foram suficientemente preparados para atender a demanda, as organizações padecem de uma crise de legitimidade que, conseqüentemente, acarretará na falta de credibilidade”. E, logo, pode-se deduzir que, se um poder não tem credibilidade, a sua imagem é desgastada.
Nas empresas privadas não foi diferente. A partir do advento da Constituição de 1988, muitas delas não estavam preparadas para a enxurrada de reclamações na Justiça, para um consumidor mais exigente, não buscaram a melhoria dos seus produtos, não investiram em campanhas direcionadas, não procuraram ouvir mais os seus públicos.
Só que neste caso, a crise de legitimidade leva à própria extinção. Uma empresa que não dá resultados aos seus sócios, não apresenta lucro, fatalmente será fechada.
Tão importante quanto o setor de finanças ou a linha de produção é o setor de comunicação. Mas voltamos à tecla. Ao contratar um assessor de comunicação, o assessorado imagina logo um house-organs e uma aproximação maior com a imprensa.
Ocorre que a comunicação precisa ser coerente e transparente para que possa construir uma imagem real da organização e, inclusive, buscar e receber o apoio da sociedade. De nada adianta a instituição dizer uma coisa e fazer outra. Ou fazer uma coisa e dizer outra.
A incoerência da organização é percebida pelos seus públicos (interno e externo). É o que Roger Cahen demonstra no livro Tudo que seus Gurus não lhe contaram sobre Comunicação Empresarial, 1990. Ele compara a comunicação a uma pirâmide de cristal, dividida em quatro blocos: atividades, atitudes, políticas e filosofias. As atividades são a ponta da pirâmide, a parte mais visível. Correspondem às ações de comunicação (campanhas, publicações e outras). Se for separada dos blocos, será vazia. Um pouco mais abaixo estão as atitudes de cada indivíduo, de cada setor e da empresa. Enquanto as atividades são vistas, as atitudes são percebidas. A organização perde credibilidade quando as atitudes não condizem com as atividades.
No terceiro bloco, estão as políticas. As políticas são regras, regulamentos e procedimentos que servem como padrões na realização de tarefas, utilizando-se dos aparelhos ideológicos e dos aparelhos repressivos para gerenciar e regular conflitos. E, no quarto bloco, estão as filosofias da organização. As filosofias são a base da pirâmide, onde todo o complexo se apóia. Elas definem a própria organização, seus objetivos, seus produtos e serviços que oferece, o lugar, ou lugares que ocupa a sociedade e sua função social. Uma pirâmide sem base estável prejudica a sustentação da imagem.
Ora, se a Assessoria, tentando dar visibilidade ao órgão, planeja uma atividade, é preciso que haja uma coerência entras as filosofias, políticas e atitudes, para que não se corra o risco da Assessoria dizer uma coisa e a organização fazer outra. Uma comunicação mau dirigida cria juízos de valores equivocados. É o caso de se pregar o discurso de que é preciso valorizar o servidor e não elaborar regras claras sobre o plano de carreira na organização para que este servidor possa alcançar postos maiores.
No caso das organizações públicas, as filosofias já estão definidas no texto constitucional. São princípios da administração pública, a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
E na iniciativa privada. Quais são essas filosofias? Por isso é importante que a organização defina sua missão e sua visão.
O grande desafio das organizações é Ter filosofias coerentes com suas atitudes.
Nas organizações públicas, por exemplo. O princípio da administração pública elege a transparência como uma de suas filosofias, mas poucos são os órgãos que se arriscam a enveredar por este caminho. Também remete à impessoalidade, mas o que ainda existe é a pessoalidade, sendo, inclusive, a comunicação dirigida sob este aspecto, quando apenas o dirigente máximo da organização aparece. Fala em eficiência, mas poucos são os órgãos que conseguem dar uma resposta rápida aos anseios da sociedade. Fala em moralidade, mas casos isolados de corrupção colocam em xeque toda a organização e até o Poder.
Por isso é importante destacar que a Assessoria de Comunicação de qualquer organização só vai contribuir para aumentar o grau de legitimidade dessa organização e, consequentemente, construir uma imagem, no momento em que democratizar a informação. Não podemos esquecer. A informação é um bem público. Inclusive esse é um novo conceito. Fala-se em democratização das organizações públicas, por exemplo. Mas ainda são poucos os que levantam a bandeira de que a Comunicação é uma ferramenta essencial para tal.
Como bem lembram o jornalista Ricardo Kotscho e o professor Bernardo Kucinski, a informação é um bem público. Não propriedade do governo. A informação é um direito e não um favor. A informação é um requisito básico para o exercício de outros direitos como o de escolher, de julgar, optar e de participar. Sendo assim, cabe ao assessor encontrar várias formas de democratizar essa informação.
A construção de uma nova imagem pressupõe uma comunicação democrática. E essa comunicação não pode ser um monólogo impositivo, numa via de mão única, mas um diálogo de mão dupla, onde a organização possam dizer, mas também possam escutar seus públicos. Daí, a importância e a necessidade das ouvidorias externa e interna, das pesquisas, das auditorias.
A construção de uma imagem implica em fazer e saber porque a organização está fazendo. É a comunicação que vai afinar o discurso da organização para que sua imagem não seja arranhada.
A construção de uma nova imagem também vai depender de planejamento. Nada acontece da noite para o dia. É preciso plantar para colher. O desafio dos profissionais é convencer o assessorado de que comunicação é investimento, não é gasto. Claro, o cliente quer resultados imediatos, mas cabe ao profissional mostrar, a partir de um planejamento, onde aquela organização poderá chegar.
por meio da informação e do acesso à instituição.
Mostrar ao cliente que é importante estabelecer um canal de diálogo com a imprensa, mas a comunicação não pode e não deve se esgotar nas matérias informativas que levam em conta apenas o critério da factualidade. As assessorias precisam caminhar numa outra linha de atuação investindo também na educação, na mobilização, na integração.
O professor Gaudêncio Torquato lembra muito bem que um Poder sem identidade não pode ter uma imagem definida. Ora, como ensina Gaudêncio Torquato, a imagem é a sombra, o retrato de uma identidade. Se a organização não tem uma cara com traços definidos, como é que vai tem uma imagem?
Espero que as ponderações feitas aqui sirvam para reflexão de todos aqueles que fazem a comunicação pública no país, em qualquer esfera do Poder. E, também que sirvam de estímulo aos profissionais da comunicação para que aquelas que tenham enveredado para a área de assessoria de comunicação assumam a postura de comunicadores comprometidos com a sociedade em que vivem e possam contribuir decisivamente para a democratização das organizações, facilitando o acesso do cidadão a essas organizações.
Palestra ministrada em Recife, em 2004
Capazes de sonhar, sem medo de seus sonhos. Pessoas com dignidade, que se conduzam com coerência em seus discursos, seus atos, suas crenças e seus valores. Pessoas com coragem para abrir caminhos.Enfrentar desafios, criar soluções, correr riscos calculados. Sem medo de errar. Precisa-se de pessoas que enxerguem as árvores. Mas que também prestem atenção na magia da floresta. Que tenham a percepção do todo e da parte. Seres humanos justos, que inspirem confiança e demonstrem confiança nos parceiros. Precisa-se urgentemente de um novo ser. Começo esta palestra citando Issac Liberman.
Gosto muito quando ele fala que é preciso inventar ou reinventar um novo ser. Escolhi este poema propositadamente porque quero propor uma reflexão sobre a importância de cada ser para a quebra de paradigmas. Esse novo ser vai nascer da revolução que acontecerá dentro de cada um de nós.
Embora eu reconheça que este é um congresso técnico, acho importante fazer algumas ponderações que podem contribuir para a reflexão dos profissionais da comunicação, bem como os futuros profissionais.
Ao ser convidada para falar sobre o tema “Os Desafios de Construir uma Nova Imagem de uma Empresa”, encarei a proposta como um desafio, vez que toda a minha área de atuação está pautada na comunicação pública, onde atuo há 10 anos como assessora de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão e há dois anos como presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça
Mas escolhi dois caminhos. Minha abordagem será feita sobre dois aspectos: Primeiro pretendo mostrar a importância do profissional da comunicação para a construção da imagem das organizações, sejam elas públicas ou privadas. E depois, quero deixar algumas contribuições, a partir da experiência que tenho nas organizações públicas.
A construção da imagem de uma organização, seja ela pública ou privada depende de novos seres. Seres que possam ousar, que possam motivar outras pessoas. Enquanto profissional que sou, eu tenho que dar uma resposta à sociedade que exige uma postura ética e uma resposta às demandas sociais. Se esse novo ser ainda não nasceu dentro de você, pois comece a fazer a sua própria revolução.
É esse novo ser que a sociedade exige.
É esse novo ser que pode revolucionar a comunicação em uma organização.
Porque esse novo ser pode fazer uma comunicação para quebrar paradigmas. Pode ousar. Criar. Inventar e Reinventar
Ninguém pode fazer assessoria de comunicação pautado na mesmice.
Por isso, deter apenas o conhecimento técnico de fazer um release ou convocar uma coletiva não é suficiente para construir imagem e conceito nas organizações. Se assim o fosse, qualquer outro setor o poderia fazer muito.
É necessário ter o conhecimento técnico-ético e científico específicos da área da comunicação para construir a imagem de uma organização. É preciso saber a técnica, sobre a ética que regula a profissão, que não é mesma ética dos médicos, dos advogados, dos engenheiros. É preciso ter conhecimento científico para criar novas formas de comunicação, estratégias de comunicação, projetos. Mas é preciso ir além. Estar comprometido com quem está do lado de fora das nossas organizações, que possam transpor barreiras e quebrar paradigmas.
Então, quero dizer que “A Construção da Imagem de uma Organização” começa pela qualificação profissional, pela formação dos profissionais que vão fazer essa comunicação e pelos desafios que esses profissionais serão capazes de suportar, indo além do que é tradicional.
________________________________________________________
Bom, mas feitas essas ponderações preliminares, eu gostaria de convidá-los para conversarmos um pouco sobre a questão técnico-centífica.
Primeiro, vamos à importância do profissional da comunicação para as organizações. Há um grande risco para uma organização quando ela deixa de confiar a sua comunicação a um profissional qualificado a outros setores, que imaginam saber fazer comunicação.
Só quem conhece o que é comunicação está qualificado para fazer comunicação. Nós, comunicadores, geramos conhecimento científico sobre a realidade em que estamos inseridos quando apresentamos um projeto com justificativa, objetivos, metas. E depois, ao mensuramos os resultados, comprovamos que a fórmula surtiu resultado. E logo, esse conhecimento será aproveitado por outros profissionais.
Pode até ser que essa organização tenha as notinhas na coluna social, como se a comunicação fosse apenas isso. Mas esse processo estará prejudicado em sua essência porque a notinha é só o complemento de um processo de comunicação. É como se a organização estivesse falando no vazio.
A informação é um bem público. Esse o conceito básico do texto que cria o Conselho federal de Jornalismo. Mas isso não se dá por acaso. E, sim, porque os profissionais da comunicação possuem uma formação que remete a um compromisso com a sociedade. Aquela informação não é minha, não é sua. Vai além da empresa, além da organização. Ela é uma informação pública. E cabe, no caso, ao assessor de comunicação disponbilizá-la da melhor maneira para a sociedade.
Mas aqueles que entendem que o processo da comunicação pode ser coordenado por qualquer profissional o fazem por desconhecimento, quando confundem imagem com visibilidade
Quando falamos em imagem, de imediato imaginamos visibilidade. Ora, se meu assessorado aparece todos os dias nos jornais, então ele tem imagem. Certo?
Ocorre que imagem não é visibilidade.
Ter visibilidade, entretanto, não é ter imagem, ainda mais se as atitudes da organização não condizem com suas ações
No caso das organizações públicas, observa-se que a partir da Constituição de 1988, muda o perfil do cidadão. Ele passa a exigir mais seus direitos. Muda o perfil dos servidores. Ao invés da indicação política, começam a ingressar na carreira os servidores concursados, que gozam de estabilidade, e se fortalecem as organizações dos servidores. O clima organizacional, entretanto, continua carregado de vícios do serviço público: permanece o excesso de burocracia, a falta de liderança e criatividade e boa parte dos servidores estão desmotivados.
Ocorre que, as organizações públicas não estavam preparadas para tantas mudanças, o que levou as organizações, de um modo geral, a uma crise de legitimidade devido a não aceitação dos seus públicos.
Como bem disse o professor e mestre em Direito Constitucional, Osvaldo Agripino de Castro Júnior, “diante desse cenário, onde a Constituição garante ao cidadão mais direitos e os órgãos públicos não foram suficientemente preparados para atender a demanda, as organizações padecem de uma crise de legitimidade que, conseqüentemente, acarretará na falta de credibilidade”. E, logo, pode-se deduzir que, se um poder não tem credibilidade, a sua imagem é desgastada.
Nas empresas privadas não foi diferente. A partir do advento da Constituição de 1988, muitas delas não estavam preparadas para a enxurrada de reclamações na Justiça, para um consumidor mais exigente, não buscaram a melhoria dos seus produtos, não investiram em campanhas direcionadas, não procuraram ouvir mais os seus públicos.
Só que neste caso, a crise de legitimidade leva à própria extinção. Uma empresa que não dá resultados aos seus sócios, não apresenta lucro, fatalmente será fechada.
Tão importante quanto o setor de finanças ou a linha de produção é o setor de comunicação. Mas voltamos à tecla. Ao contratar um assessor de comunicação, o assessorado imagina logo um house-organs e uma aproximação maior com a imprensa.
Ocorre que a comunicação precisa ser coerente e transparente para que possa construir uma imagem real da organização e, inclusive, buscar e receber o apoio da sociedade. De nada adianta a instituição dizer uma coisa e fazer outra. Ou fazer uma coisa e dizer outra.
A incoerência da organização é percebida pelos seus públicos (interno e externo). É o que Roger Cahen demonstra no livro Tudo que seus Gurus não lhe contaram sobre Comunicação Empresarial, 1990. Ele compara a comunicação a uma pirâmide de cristal, dividida em quatro blocos: atividades, atitudes, políticas e filosofias. As atividades são a ponta da pirâmide, a parte mais visível. Correspondem às ações de comunicação (campanhas, publicações e outras). Se for separada dos blocos, será vazia. Um pouco mais abaixo estão as atitudes de cada indivíduo, de cada setor e da empresa. Enquanto as atividades são vistas, as atitudes são percebidas. A organização perde credibilidade quando as atitudes não condizem com as atividades.
No terceiro bloco, estão as políticas. As políticas são regras, regulamentos e procedimentos que servem como padrões na realização de tarefas, utilizando-se dos aparelhos ideológicos e dos aparelhos repressivos para gerenciar e regular conflitos. E, no quarto bloco, estão as filosofias da organização. As filosofias são a base da pirâmide, onde todo o complexo se apóia. Elas definem a própria organização, seus objetivos, seus produtos e serviços que oferece, o lugar, ou lugares que ocupa a sociedade e sua função social. Uma pirâmide sem base estável prejudica a sustentação da imagem.
Ora, se a Assessoria, tentando dar visibilidade ao órgão, planeja uma atividade, é preciso que haja uma coerência entras as filosofias, políticas e atitudes, para que não se corra o risco da Assessoria dizer uma coisa e a organização fazer outra. Uma comunicação mau dirigida cria juízos de valores equivocados. É o caso de se pregar o discurso de que é preciso valorizar o servidor e não elaborar regras claras sobre o plano de carreira na organização para que este servidor possa alcançar postos maiores.
No caso das organizações públicas, as filosofias já estão definidas no texto constitucional. São princípios da administração pública, a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
E na iniciativa privada. Quais são essas filosofias? Por isso é importante que a organização defina sua missão e sua visão.
O grande desafio das organizações é Ter filosofias coerentes com suas atitudes.
Nas organizações públicas, por exemplo. O princípio da administração pública elege a transparência como uma de suas filosofias, mas poucos são os órgãos que se arriscam a enveredar por este caminho. Também remete à impessoalidade, mas o que ainda existe é a pessoalidade, sendo, inclusive, a comunicação dirigida sob este aspecto, quando apenas o dirigente máximo da organização aparece. Fala em eficiência, mas poucos são os órgãos que conseguem dar uma resposta rápida aos anseios da sociedade. Fala em moralidade, mas casos isolados de corrupção colocam em xeque toda a organização e até o Poder.
Por isso é importante destacar que a Assessoria de Comunicação de qualquer organização só vai contribuir para aumentar o grau de legitimidade dessa organização e, consequentemente, construir uma imagem, no momento em que democratizar a informação. Não podemos esquecer. A informação é um bem público. Inclusive esse é um novo conceito. Fala-se em democratização das organizações públicas, por exemplo. Mas ainda são poucos os que levantam a bandeira de que a Comunicação é uma ferramenta essencial para tal.
Como bem lembram o jornalista Ricardo Kotscho e o professor Bernardo Kucinski, a informação é um bem público. Não propriedade do governo. A informação é um direito e não um favor. A informação é um requisito básico para o exercício de outros direitos como o de escolher, de julgar, optar e de participar. Sendo assim, cabe ao assessor encontrar várias formas de democratizar essa informação.
A construção de uma nova imagem pressupõe uma comunicação democrática. E essa comunicação não pode ser um monólogo impositivo, numa via de mão única, mas um diálogo de mão dupla, onde a organização possam dizer, mas também possam escutar seus públicos. Daí, a importância e a necessidade das ouvidorias externa e interna, das pesquisas, das auditorias.
A construção de uma imagem implica em fazer e saber porque a organização está fazendo. É a comunicação que vai afinar o discurso da organização para que sua imagem não seja arranhada.
A construção de uma nova imagem também vai depender de planejamento. Nada acontece da noite para o dia. É preciso plantar para colher. O desafio dos profissionais é convencer o assessorado de que comunicação é investimento, não é gasto. Claro, o cliente quer resultados imediatos, mas cabe ao profissional mostrar, a partir de um planejamento, onde aquela organização poderá chegar.
por meio da informação e do acesso à instituição.
Mostrar ao cliente que é importante estabelecer um canal de diálogo com a imprensa, mas a comunicação não pode e não deve se esgotar nas matérias informativas que levam em conta apenas o critério da factualidade. As assessorias precisam caminhar numa outra linha de atuação investindo também na educação, na mobilização, na integração.
O professor Gaudêncio Torquato lembra muito bem que um Poder sem identidade não pode ter uma imagem definida. Ora, como ensina Gaudêncio Torquato, a imagem é a sombra, o retrato de uma identidade. Se a organização não tem uma cara com traços definidos, como é que vai tem uma imagem?
Espero que as ponderações feitas aqui sirvam para reflexão de todos aqueles que fazem a comunicação pública no país, em qualquer esfera do Poder. E, também que sirvam de estímulo aos profissionais da comunicação para que aquelas que tenham enveredado para a área de assessoria de comunicação assumam a postura de comunicadores comprometidos com a sociedade em que vivem e possam contribuir decisivamente para a democratização das organizações, facilitando o acesso do cidadão a essas organizações.
Palestra ministrada em Recife, em 2004
Poder Judiciário: Comunicação e construção de uma nova imagem
Ao ser convidada pela organização do III Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público, realizado em agosto de 2003, em São Paulo, pela MegaBrasil, para falar sobre o tema "A comunicação e a construção de uma nova imagem do Poder Judiciário", logo percebi que estava diante de um grande desafio. Inegável o espaço conquistado na mídia pelo Poder Judiciário, a partir do fim dos anos 90. Entretanto, era preciso desconstituir a idéia de que ter visibilidade é ter imagem e, conseqüentemente, credibilidade.
Aproveito para divulgar este texto no momento em que o Observatório da Imprensa coloca no ar a pergunta "A mídia tem razão ao criticar o Judiciário?" [urna eletrônica da edição nº 249, 4/11/03], e também na semana em que o Conselho Federal da OAB acaba de divulgar o resultado de pesquisa na qual revela, numa lista de sete instituições, que o Poder Judiciário aparece em quinto lugar no item credibilidade, como seguem: Igreja (74%), Imprensa (60%), Presidência da República (58%), Advocacia (55%), Poder Judiciário (39%), Ministério Público (37%) e Congresso Nacional (34%).
Diz ainda a pesquisa que "há 84% de razões negativas a respeito do Poder Judiciário contra apenas 22% de razões positivas. A principal razão negativa é "Por haver muitos juizes envolvidos em escândalos/ lavagem de dinheiro/ corrupção/tráfico de drogas" = 35%. O sentimento de que "não cumprem as leis e fazem a justiça privilegiando os ricos", com 27%, é a segunda razão mais citada. A razão positiva mais destacada é "Por tentarem, se empenharem para poder aplicar e promover a justiça", com 17%. As demais, positivas, não têm densidade.
A pesquisa do Conselho Federal da OAB é a prova concreta de que o Poder Judiciário tem visibilidade, mas sua imagem ainda precisa ser melhorada, a partir da implementação de novas políticas na administração pública. Enquanto isso não ocorrer, não só a Mídia, mas toda a sociedade, terá sua razão ao criticar a Justiça.
A partir da Constituição de 1988, muda o perfil da magistratura, do servidor público e do cidadão. No livro Corpo e alma da magistratura brasileira, os pesquisadores Luiz Werneck Vianna, Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel Palácios Cunha Melo e Marcelo Baumann Burgos, em pesquisa encomendada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), mostram que muda a estrutura do corpo da magistratura com a juvenilização e a feminilização da magistratura, e deflagra-se uma luta surda: o tradicional versus o novo.
Queixas da sociedade
Muda também o perfil do servidor. Em vez da indicação política começam a ingressar na carreira servidores concursados, que gozam de estabilidade, e fortalecem-se as organizações dos servidores, que passam a questionar, inclusive, as decisões administrativas dos tribunais. Se por um lado, os sindicatos estão mais organizados e desenvolvem uma política de aproximação com os servidores, por outro, os setores de Recursos Humanos não se prepararam para implementar mudanças no clima organizacional. A falta de uma política voltada para a valorização dos recursos humanos acarreta na manutenção de vícios do serviço público: permanece o excesso de burocracia, a falta de liderança e criatividade, resultando em servidores desmotivados.
Nasce um novo cidadão, que passa a buscar mais seus direitos, a exigir das organizações públicas mais eficiência e a cobrar pelos serviços que ele paga com seus impostos. Aumentam as demandas na Justiça, e nem a criação dos Juizados Especiais conseguiu dar uma resposta mais rápida aos conflitos. Insatisfeito, esse novo cidadão reclama da morosidade da Justiça, e o velho ditado de que "A Justiça tarda, mas não falha" já não convence mais.
Surge um novo poder. O Ministério Público passa a ser o guardião dos direitos constitucionais. Ingressam na carreira jovens promotores de Justiça e a instituição como um todo também passa por um processo de juvenilização. Com as novas atribuições, o Ministério Público reformula suas ações e passa a ser um espaço para receber as queixas da sociedade. Multiplicam-se as ações civis públicas e o Ministério Público se transforma em fonte de pautas para a imprensa.
Crises e causas
Ocorre que o Poder Judiciário não estava preparado para tantas mudanças. Já se passaram 15 anos desde que foi promulgada a Constituição, e hoje já é possível perceber uma maior preocupação com a democratização do Poder, mas ao longo de todo esse período foram enfrentadas várias crises.
Arrisco-me dizer que, de um modo geral, a comunicação dos Poderes encontra-se diante de uma crise de legitimidade. Não basta ter o poder da decisão para ser legítimo, é preciso ter aceitação dos seus públicos. Aceitação essa dos próprios juízes, dos servidores e da sociedade. Como bem disse o professor e mestre em Direito Constitucional Osvaldo Agripino de Castro Júnior, no livro Democratização do Poder Judiciário (Editora Sérgio Fabris), "diante desse cenário, onde a Constituição garante ao cidadão mais direitos e os órgãos públicos não foram suficientemente preparados para atender a demanda, as organizações padecem de uma crise de legitimidade que, conseqüentemente, acarretará na falta de credibilidade". E, logo, pode-se deduzir que, se um poder não tem credibilidade sua imagem é desgastada. Se formos mais adiante, vamos nos indagar: o cidadão vai confiar num poder que sofre de crise de legitimidade, credibilidade e imagem?
As causas da crise de legitimidade são a ineficiência do Estado diante do aumento da demanda (excesso de formalismo legal, pouca estrutura, aumento dos litígios etc.), a onda de denúncias (nepotismo, corrupção e corporativismo), a resistência da parcela tradicional da organização em aceitar as mudanças e a falta de investimento na área de recursos humanos, segundo Oswaldo Agripino. A crise também ocorre pela carência de política de comunicação, capaz de estabelecer um canal de diálogo com os vários públicos interno e externo da organização.
Coerência e transparência
Impossível escapar das conseqüências da crise de legitimidade, complementa o professor Oswaldo Agripino. Aumenta o grau de insatisfação da opinião pública, aumenta a tensão entre os representantes dos servidores e os administradores do Poder, aumenta a fiscalização da imprensa e da sociedade civil organizada.
O país vive um momento de redemocratização. As instituições são passadas a limpo e nem mesmo o intocável Poder Judiciário escapa das críticas e da onda de denúncias. Diante da redemocratização do país, o Poder se vê obrigado a sair do silêncio para dar visibilidade às ações da organização. Ter visibilidade, entretanto, não é ter imagem, ainda mais se as atitudes do Poder não condizem com suas ações.
Os integrantes do Poder começam, então, a ver no assessor de imprensa o bombeiro que apagaria os incêndios, resultado dos anos de silêncio, do formalismo exacerbado e da predominância do juridiquês. O juiz não falava nem com a imprensa e nem conseguia se comunicar com o cidadão com suas indecifráveis sentenças. A linguagem é uma forma de dominação, e a lógica era: quanto menos pessoas entendessem, na prática, o resultado de um processo mais o poder estaria consolidado, mantendo o distanciamento entre o juiz e as partes. Nos processos administrativos, cabia outro velho ditado: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". E ao assessor cabia o papel de apenas divulgar as ações, ou seja, dar visibilidade".
Ocorre que a comunicação numa organização que enfrenta crise de legitimidade (aceitação) e, conseqüentemente, também padece da falta de credibilidade precisa ser coerente e transparente para que possa construir uma imagem real, buscar e receber o apoio dos seus públicos. De nada adianta a instituição dizer uma coisa e fazer outra. Ou fazer uma coisa e dizer outra.
Competências e princípios
A incoerência da organização é percebida pelos seus públicos (interno e externo). É o que Roger Cahen demonstra no livro Tudo que seus gurus não lhe contaram sobre comunicação empresarial (1990). Ele compara a comunicação a uma pirâmide de cristal, dividida em quatro blocos: atividades, atitudes, políticas e filosofias. As atividades são a ponta da pirâmide, a parte mais visível. Correspondem às ações de comunicação (campanhas, publicações e outras). Se for separada dos blocos será vazia. Um pouco mais abaixo estão as atitudes de cada indivíduo, de cada setor e da empresa. Enquanto as atividades são vistas, as atitudes são percebidas. A organização perde credibilidade quando as atitudes não condizem com as atividades.
No terceiro bloco, estão as políticas. As políticas são regras, regulamentos e procedimentos que servem como padrões na realização de tarefas, utilizando-se dos aparelhos ideológicos e dos aparelhos repressivos para gerenciar e regular conflitos. No quarto bloco estão as filosofias da organização. As filosofias são a base da pirâmide, onde todo o complexo se apóia. Elas definem a própria organização, seus objetivos, seus produtos e os serviços que oferece, o lugar, ou lugares, que ocupa a sociedade e sua função social. Uma pirâmide sem base estável prejudica a sustentação da imagem.
Ora, se a assessoria, tentando dar visibilidade ao órgão, planeja uma atividade, é preciso que haja uma coerência entre filosofias, políticas e atitudes, para que não se corra o risco de a assessoria dizer uma coisa e a organização fazer outra. Uma comunicação mal dirigida cria juízos de valor equivocados. É o caso de se pregar o discurso de que é preciso valorizar o servidor, e não elaborar regras claras sobre o plano de carreira na organização para que este servidor possa alcançar postos maiores.
É preciso lembrar que as filosofias das organizações públicas já estão definidas no texto constitucional. Na Constituição estão definidas competências, atribuições, estruturação, organização e princípios em que deve se pautar a administração pública. São princípios da administração pública a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência.
Notícia e acesso
O problema, portanto, não está na filosofia das organizações, mas nas políticas e atitudes. O princípio da administração pública elege a transparência como uma de suas filosofias, mas poucos são os órgãos que se arriscam a enveredar por este caminho. Também remete à impessoalidade, mas o que ainda existe é a pessoalidade, sendo, inclusive, a comunicação dirigida sob este aspecto, quando apenas o dirigente máximo da organização aparece. Fala em eficiência, mas poucos são os órgãos que conseguem dar uma resposta rápida aos anseios da sociedade. Fala em moralidade, mas casos isolados de corrupção colocam em xeque toda a organização e até o Poder.
No ano de 1995, durante o I Encontro Nacional dos Assessores de Comunicação da Justiça do Trabalho, realizado em Minas Gerais, o professor Gaudêncio Torquato apontou algumas das características que contribuíam para o desgaste da imagem. Segundo ele, as decisões da Justiça e a jurisprudência não eram massificadas, o Poder Judiciário era o mais fechado, inacessível, intocável, o que menos se modernizava e o mais gastador. De 1995 até os dias de hoje, muita coisa mudou. Os órgãos da Justiça investiram em tecnologia. Hoje é possível consultar um processo via internet. As assessorias de imprensa também se incumbiram de dar mais visibilidade às decisões judiciais. Criou-se, no país, um movimento, a partir das assessorias voltado para massificar as decisões e a jurisprudência, a buscar a aproximação com os profissionais da mídia. Poucos investimentos foram feitos na área da comunicação interna.
Este talvez seja o "calcanhar de Aquiles" do trabalho das assessorias.Todas as ações no sentido de dar visibilidade ao Poder não foram suficientes para construir uma nova imagem do Poder Judiciário. Temos visibilidade, mas não temos a imagem. Somos uma usina de fabricar notícias, mas nem todos os cidadãos conseguem entender a lógica do Poder e suas decisões. Pior: nem todos os cidadãos conseguem ter acesso à Justiça.
Área-fim e área-meio
Por isso é importante destacar que a assessoria de comunicação de qualquer organização pública só vai contribuir para aumentar o grau de legitimidade dessa organização no momento em que colocar a comunicação a serviço de quem procura por Justiça, facilitando o acesso do cidadão ao órgão. É o que se poderia chamar de democratizar a organização por meio da comunicação. Não basta apenas o release para o jornal informando sobre o rito sumaríssimo ou a criação de uma vara judicial. É necessário um folder endereçado ao litigante para que ele saiba de que forma isso vai melhorar sua vida e como ter acesso aos benefícios de determinada decisão administrativa ou judicial. E essa comunicação não pode ser um monólogo impositivo, numa via de mão única, mas um diálogo de mão dupla, no qual a organização possa dizer, mas também possa escutar seus públicos. Daí, a importância e a necessidade das ouvidorias externa e interna ou até, quem sabe, de um ombudsman.
As ações não podem ser focadas apenas no público externo. A comunicação deve e precisa ser um fator motivacional na organização para que todo o corpo de funcionários possa se identificar com a filosofia institucional voltada para democratizar o acesso do cidadão à Justiça. A imagem dessa organização será consolidada quando todos, dirigentes, juízes, servidores e assessoria, colocarem em prática o mesmo discurso. E, para isso, o público interno precisa estar motivado, trabalho este que precisa ser feito em parceria com as áreas de recursos humanos para que todos, inclusive a assessoria de comunicação, tenham compromisso com o cidadão e comprometimento. Para que a assessoria seja capaz de fazer além do release (notícia produzida pela assessoria). No compromisso, as pessoas são movidas pela responsabilidade. No comprometimento, pelo engajamento.
No meio jurídico, é muito comum os administradores relegarem a assessoria a segundo plano com uma frase típica da linguagem jurídica: a comunicação não é área-fim (ou seja, não lida diretamente com o processo). É área-meio. Difícil é quando a assessoria se vê diante de um administrador que só quer investir na área-fim.
Traços definidos
Como explicar a ele que a comunicação é área-fim, embora não lide diretamente com o processo? Isso vai depender da postura que o assessor adotar. Se a assessoria tem planejamento que facilite o acesso do cidadão à Justiça, democratize a organização, ela deixa de ser área-meio ou área-fim e passa a ser área estratégica. É por isso que deve merecer atenção, por parte das assessorias, o trabalho de sensibilização dos administradores públicos para que toda a organização possa compreender o importante papel que tem o assessor na democratização do Poder.
É importante estabelecer um canal de diálogo com a imprensa, mas a comunicação não pode e não deve se esgotar nas matérias informativas que levam em conta apenas o critério da factualidade. As assessorias precisam caminhar numa outra linha de atuação, investindo também na conscientização do cidadão, seja por meio da mídia ou de campanhas, como já fazem alguns tribunais de Justiça nos estados e a Associação dos Magistrados Brasileiros com o projeto Cidadania e Justiça. Como bem lembram o jornalista Ricardo Kotscho e o professor Bernardo Kucinski, a informação é um bem público, e não propriedade do governo. A informação é um direito, e não um favor. A informação é um requisito básico para o exercício de outros direitos, como o de escolher, de julgar, optar e participar. Sendo assim, cabe ao assessor encontrar várias formas de democratizar essa informação.
O excesso de burocracia, a falta de investimento em recursos humanos e a falta de modernização, tanto da estrutura quanto das leis, leva a um desgaste da imagem do Poder. Assim como a luta surda travada internamente nas organizações, entre os membros do próprio poder, e as posturas diferenciadas entre os servidores concursados e os indicados politicamente (salvo exceções), revela a indefinição da identidade do Poder, e um Poder sem identidade não pode ter uma imagem definida. Afinal, estamos falando de um velho ou de um novo Poder Judiciário. Ora, como ensina Gaudêncio Torquato, a imagem é a sombra, o retrato de uma identidade. Se o Poder não tem uma cara com traços definidos como terá uma imagem?
Grande desafio
No Judiciário, os assessores de comunicação estão buscando respostas para saber qual é o papel do comunicador público no país. Um novo caminho na história da comunicação pública neste país começou a ser desenhado no I Encontro dos Assessores de Comunicação do Judiciário Trabalhista. Em 2000, vieram somar os assessores de comunicação do Ministério Público, em encontro inédito das assessorias de comunicação da Justiça, reunindo tribunais de Justiça, do Trabalho, Regionais Federais e Secções Judiciárias, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e entidades representativas do Poder Judiciário e do Ministério Público (AMB, Ajufe, ANPT, ANPR, Anamatra). Foi o I Encontro Nacional dos Assessores da Justiça, realizado em São Luís (MA).
Em março de 2003, esses mesmos assessores fundaram o Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que tem o objetivo de incentivar o desenvolvimento de uma política de comunicação nas organizações públicas voltada para a democratização do Poder e o incentivo à cidadania. As ações estão disponíveis no Canal Justiça.
Nos sucessivos encontros realizados até 2003, vários compromissos assumidos pelas assessorias, registrados nas cartas dos encontros, apontam para o caminho do compromisso com a informação pública, voltada para o cidadão e pelo direito à informação e a democratização do Poder por meio da comunicação, como se pode confirmar em trechos da Carta de São Luís, reafirmados em outros documentos:
"Os assessores de comunicação do Poder Judiciário e do Ministério Público vêm reafirmar que todo cidadão tem o direito constitucional à informação e que a transparência é dever das instituições públicas."
Sabem os assessores da Justiça que estão diante de um grande desafio: contribuir para a democratização do Poder Judiciário. Embora tenham o domínio da técnica da comunicação, esses assessores não podem perder de vista o contexto político, econômico e social em que estas organizações estão inseridas e a importância de seu trabalho para a construção de uma nova imagem do Poder Judiciário e também de uma nova Justiça.
É difícil. Mas não é impossível.
(*) Jornalista, presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, presidente da Associação Maranhense de Imprensa, assessora de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão
Publicado no Observatório da Imprensa em 18/11/2003
Aproveito para divulgar este texto no momento em que o Observatório da Imprensa coloca no ar a pergunta "A mídia tem razão ao criticar o Judiciário?" [urna eletrônica da edição nº 249, 4/11/03], e também na semana em que o Conselho Federal da OAB acaba de divulgar o resultado de pesquisa na qual revela, numa lista de sete instituições, que o Poder Judiciário aparece em quinto lugar no item credibilidade, como seguem: Igreja (74%), Imprensa (60%), Presidência da República (58%), Advocacia (55%), Poder Judiciário (39%), Ministério Público (37%) e Congresso Nacional (34%).
Diz ainda a pesquisa que "há 84% de razões negativas a respeito do Poder Judiciário contra apenas 22% de razões positivas. A principal razão negativa é "Por haver muitos juizes envolvidos em escândalos/ lavagem de dinheiro/ corrupção/tráfico de drogas" = 35%. O sentimento de que "não cumprem as leis e fazem a justiça privilegiando os ricos", com 27%, é a segunda razão mais citada. A razão positiva mais destacada é "Por tentarem, se empenharem para poder aplicar e promover a justiça", com 17%. As demais, positivas, não têm densidade.
A pesquisa do Conselho Federal da OAB é a prova concreta de que o Poder Judiciário tem visibilidade, mas sua imagem ainda precisa ser melhorada, a partir da implementação de novas políticas na administração pública. Enquanto isso não ocorrer, não só a Mídia, mas toda a sociedade, terá sua razão ao criticar a Justiça.
A partir da Constituição de 1988, muda o perfil da magistratura, do servidor público e do cidadão. No livro Corpo e alma da magistratura brasileira, os pesquisadores Luiz Werneck Vianna, Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel Palácios Cunha Melo e Marcelo Baumann Burgos, em pesquisa encomendada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), mostram que muda a estrutura do corpo da magistratura com a juvenilização e a feminilização da magistratura, e deflagra-se uma luta surda: o tradicional versus o novo.
Queixas da sociedade
Muda também o perfil do servidor. Em vez da indicação política começam a ingressar na carreira servidores concursados, que gozam de estabilidade, e fortalecem-se as organizações dos servidores, que passam a questionar, inclusive, as decisões administrativas dos tribunais. Se por um lado, os sindicatos estão mais organizados e desenvolvem uma política de aproximação com os servidores, por outro, os setores de Recursos Humanos não se prepararam para implementar mudanças no clima organizacional. A falta de uma política voltada para a valorização dos recursos humanos acarreta na manutenção de vícios do serviço público: permanece o excesso de burocracia, a falta de liderança e criatividade, resultando em servidores desmotivados.
Nasce um novo cidadão, que passa a buscar mais seus direitos, a exigir das organizações públicas mais eficiência e a cobrar pelos serviços que ele paga com seus impostos. Aumentam as demandas na Justiça, e nem a criação dos Juizados Especiais conseguiu dar uma resposta mais rápida aos conflitos. Insatisfeito, esse novo cidadão reclama da morosidade da Justiça, e o velho ditado de que "A Justiça tarda, mas não falha" já não convence mais.
Surge um novo poder. O Ministério Público passa a ser o guardião dos direitos constitucionais. Ingressam na carreira jovens promotores de Justiça e a instituição como um todo também passa por um processo de juvenilização. Com as novas atribuições, o Ministério Público reformula suas ações e passa a ser um espaço para receber as queixas da sociedade. Multiplicam-se as ações civis públicas e o Ministério Público se transforma em fonte de pautas para a imprensa.
Crises e causas
Ocorre que o Poder Judiciário não estava preparado para tantas mudanças. Já se passaram 15 anos desde que foi promulgada a Constituição, e hoje já é possível perceber uma maior preocupação com a democratização do Poder, mas ao longo de todo esse período foram enfrentadas várias crises.
Arrisco-me dizer que, de um modo geral, a comunicação dos Poderes encontra-se diante de uma crise de legitimidade. Não basta ter o poder da decisão para ser legítimo, é preciso ter aceitação dos seus públicos. Aceitação essa dos próprios juízes, dos servidores e da sociedade. Como bem disse o professor e mestre em Direito Constitucional Osvaldo Agripino de Castro Júnior, no livro Democratização do Poder Judiciário (Editora Sérgio Fabris), "diante desse cenário, onde a Constituição garante ao cidadão mais direitos e os órgãos públicos não foram suficientemente preparados para atender a demanda, as organizações padecem de uma crise de legitimidade que, conseqüentemente, acarretará na falta de credibilidade". E, logo, pode-se deduzir que, se um poder não tem credibilidade sua imagem é desgastada. Se formos mais adiante, vamos nos indagar: o cidadão vai confiar num poder que sofre de crise de legitimidade, credibilidade e imagem?
As causas da crise de legitimidade são a ineficiência do Estado diante do aumento da demanda (excesso de formalismo legal, pouca estrutura, aumento dos litígios etc.), a onda de denúncias (nepotismo, corrupção e corporativismo), a resistência da parcela tradicional da organização em aceitar as mudanças e a falta de investimento na área de recursos humanos, segundo Oswaldo Agripino. A crise também ocorre pela carência de política de comunicação, capaz de estabelecer um canal de diálogo com os vários públicos interno e externo da organização.
Coerência e transparência
Impossível escapar das conseqüências da crise de legitimidade, complementa o professor Oswaldo Agripino. Aumenta o grau de insatisfação da opinião pública, aumenta a tensão entre os representantes dos servidores e os administradores do Poder, aumenta a fiscalização da imprensa e da sociedade civil organizada.
O país vive um momento de redemocratização. As instituições são passadas a limpo e nem mesmo o intocável Poder Judiciário escapa das críticas e da onda de denúncias. Diante da redemocratização do país, o Poder se vê obrigado a sair do silêncio para dar visibilidade às ações da organização. Ter visibilidade, entretanto, não é ter imagem, ainda mais se as atitudes do Poder não condizem com suas ações.
Os integrantes do Poder começam, então, a ver no assessor de imprensa o bombeiro que apagaria os incêndios, resultado dos anos de silêncio, do formalismo exacerbado e da predominância do juridiquês. O juiz não falava nem com a imprensa e nem conseguia se comunicar com o cidadão com suas indecifráveis sentenças. A linguagem é uma forma de dominação, e a lógica era: quanto menos pessoas entendessem, na prática, o resultado de um processo mais o poder estaria consolidado, mantendo o distanciamento entre o juiz e as partes. Nos processos administrativos, cabia outro velho ditado: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". E ao assessor cabia o papel de apenas divulgar as ações, ou seja, dar visibilidade".
Ocorre que a comunicação numa organização que enfrenta crise de legitimidade (aceitação) e, conseqüentemente, também padece da falta de credibilidade precisa ser coerente e transparente para que possa construir uma imagem real, buscar e receber o apoio dos seus públicos. De nada adianta a instituição dizer uma coisa e fazer outra. Ou fazer uma coisa e dizer outra.
Competências e princípios
A incoerência da organização é percebida pelos seus públicos (interno e externo). É o que Roger Cahen demonstra no livro Tudo que seus gurus não lhe contaram sobre comunicação empresarial (1990). Ele compara a comunicação a uma pirâmide de cristal, dividida em quatro blocos: atividades, atitudes, políticas e filosofias. As atividades são a ponta da pirâmide, a parte mais visível. Correspondem às ações de comunicação (campanhas, publicações e outras). Se for separada dos blocos será vazia. Um pouco mais abaixo estão as atitudes de cada indivíduo, de cada setor e da empresa. Enquanto as atividades são vistas, as atitudes são percebidas. A organização perde credibilidade quando as atitudes não condizem com as atividades.
No terceiro bloco, estão as políticas. As políticas são regras, regulamentos e procedimentos que servem como padrões na realização de tarefas, utilizando-se dos aparelhos ideológicos e dos aparelhos repressivos para gerenciar e regular conflitos. No quarto bloco estão as filosofias da organização. As filosofias são a base da pirâmide, onde todo o complexo se apóia. Elas definem a própria organização, seus objetivos, seus produtos e os serviços que oferece, o lugar, ou lugares, que ocupa a sociedade e sua função social. Uma pirâmide sem base estável prejudica a sustentação da imagem.
Ora, se a assessoria, tentando dar visibilidade ao órgão, planeja uma atividade, é preciso que haja uma coerência entre filosofias, políticas e atitudes, para que não se corra o risco de a assessoria dizer uma coisa e a organização fazer outra. Uma comunicação mal dirigida cria juízos de valor equivocados. É o caso de se pregar o discurso de que é preciso valorizar o servidor, e não elaborar regras claras sobre o plano de carreira na organização para que este servidor possa alcançar postos maiores.
É preciso lembrar que as filosofias das organizações públicas já estão definidas no texto constitucional. Na Constituição estão definidas competências, atribuições, estruturação, organização e princípios em que deve se pautar a administração pública. São princípios da administração pública a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência.
Notícia e acesso
O problema, portanto, não está na filosofia das organizações, mas nas políticas e atitudes. O princípio da administração pública elege a transparência como uma de suas filosofias, mas poucos são os órgãos que se arriscam a enveredar por este caminho. Também remete à impessoalidade, mas o que ainda existe é a pessoalidade, sendo, inclusive, a comunicação dirigida sob este aspecto, quando apenas o dirigente máximo da organização aparece. Fala em eficiência, mas poucos são os órgãos que conseguem dar uma resposta rápida aos anseios da sociedade. Fala em moralidade, mas casos isolados de corrupção colocam em xeque toda a organização e até o Poder.
No ano de 1995, durante o I Encontro Nacional dos Assessores de Comunicação da Justiça do Trabalho, realizado em Minas Gerais, o professor Gaudêncio Torquato apontou algumas das características que contribuíam para o desgaste da imagem. Segundo ele, as decisões da Justiça e a jurisprudência não eram massificadas, o Poder Judiciário era o mais fechado, inacessível, intocável, o que menos se modernizava e o mais gastador. De 1995 até os dias de hoje, muita coisa mudou. Os órgãos da Justiça investiram em tecnologia. Hoje é possível consultar um processo via internet. As assessorias de imprensa também se incumbiram de dar mais visibilidade às decisões judiciais. Criou-se, no país, um movimento, a partir das assessorias voltado para massificar as decisões e a jurisprudência, a buscar a aproximação com os profissionais da mídia. Poucos investimentos foram feitos na área da comunicação interna.
Este talvez seja o "calcanhar de Aquiles" do trabalho das assessorias.Todas as ações no sentido de dar visibilidade ao Poder não foram suficientes para construir uma nova imagem do Poder Judiciário. Temos visibilidade, mas não temos a imagem. Somos uma usina de fabricar notícias, mas nem todos os cidadãos conseguem entender a lógica do Poder e suas decisões. Pior: nem todos os cidadãos conseguem ter acesso à Justiça.
Área-fim e área-meio
Por isso é importante destacar que a assessoria de comunicação de qualquer organização pública só vai contribuir para aumentar o grau de legitimidade dessa organização no momento em que colocar a comunicação a serviço de quem procura por Justiça, facilitando o acesso do cidadão ao órgão. É o que se poderia chamar de democratizar a organização por meio da comunicação. Não basta apenas o release para o jornal informando sobre o rito sumaríssimo ou a criação de uma vara judicial. É necessário um folder endereçado ao litigante para que ele saiba de que forma isso vai melhorar sua vida e como ter acesso aos benefícios de determinada decisão administrativa ou judicial. E essa comunicação não pode ser um monólogo impositivo, numa via de mão única, mas um diálogo de mão dupla, no qual a organização possa dizer, mas também possa escutar seus públicos. Daí, a importância e a necessidade das ouvidorias externa e interna ou até, quem sabe, de um ombudsman.
As ações não podem ser focadas apenas no público externo. A comunicação deve e precisa ser um fator motivacional na organização para que todo o corpo de funcionários possa se identificar com a filosofia institucional voltada para democratizar o acesso do cidadão à Justiça. A imagem dessa organização será consolidada quando todos, dirigentes, juízes, servidores e assessoria, colocarem em prática o mesmo discurso. E, para isso, o público interno precisa estar motivado, trabalho este que precisa ser feito em parceria com as áreas de recursos humanos para que todos, inclusive a assessoria de comunicação, tenham compromisso com o cidadão e comprometimento. Para que a assessoria seja capaz de fazer além do release (notícia produzida pela assessoria). No compromisso, as pessoas são movidas pela responsabilidade. No comprometimento, pelo engajamento.
No meio jurídico, é muito comum os administradores relegarem a assessoria a segundo plano com uma frase típica da linguagem jurídica: a comunicação não é área-fim (ou seja, não lida diretamente com o processo). É área-meio. Difícil é quando a assessoria se vê diante de um administrador que só quer investir na área-fim.
Traços definidos
Como explicar a ele que a comunicação é área-fim, embora não lide diretamente com o processo? Isso vai depender da postura que o assessor adotar. Se a assessoria tem planejamento que facilite o acesso do cidadão à Justiça, democratize a organização, ela deixa de ser área-meio ou área-fim e passa a ser área estratégica. É por isso que deve merecer atenção, por parte das assessorias, o trabalho de sensibilização dos administradores públicos para que toda a organização possa compreender o importante papel que tem o assessor na democratização do Poder.
É importante estabelecer um canal de diálogo com a imprensa, mas a comunicação não pode e não deve se esgotar nas matérias informativas que levam em conta apenas o critério da factualidade. As assessorias precisam caminhar numa outra linha de atuação, investindo também na conscientização do cidadão, seja por meio da mídia ou de campanhas, como já fazem alguns tribunais de Justiça nos estados e a Associação dos Magistrados Brasileiros com o projeto Cidadania e Justiça. Como bem lembram o jornalista Ricardo Kotscho e o professor Bernardo Kucinski, a informação é um bem público, e não propriedade do governo. A informação é um direito, e não um favor. A informação é um requisito básico para o exercício de outros direitos, como o de escolher, de julgar, optar e participar. Sendo assim, cabe ao assessor encontrar várias formas de democratizar essa informação.
O excesso de burocracia, a falta de investimento em recursos humanos e a falta de modernização, tanto da estrutura quanto das leis, leva a um desgaste da imagem do Poder. Assim como a luta surda travada internamente nas organizações, entre os membros do próprio poder, e as posturas diferenciadas entre os servidores concursados e os indicados politicamente (salvo exceções), revela a indefinição da identidade do Poder, e um Poder sem identidade não pode ter uma imagem definida. Afinal, estamos falando de um velho ou de um novo Poder Judiciário. Ora, como ensina Gaudêncio Torquato, a imagem é a sombra, o retrato de uma identidade. Se o Poder não tem uma cara com traços definidos como terá uma imagem?
Grande desafio
No Judiciário, os assessores de comunicação estão buscando respostas para saber qual é o papel do comunicador público no país. Um novo caminho na história da comunicação pública neste país começou a ser desenhado no I Encontro dos Assessores de Comunicação do Judiciário Trabalhista. Em 2000, vieram somar os assessores de comunicação do Ministério Público, em encontro inédito das assessorias de comunicação da Justiça, reunindo tribunais de Justiça, do Trabalho, Regionais Federais e Secções Judiciárias, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e entidades representativas do Poder Judiciário e do Ministério Público (AMB, Ajufe, ANPT, ANPR, Anamatra). Foi o I Encontro Nacional dos Assessores da Justiça, realizado em São Luís (MA).
Em março de 2003, esses mesmos assessores fundaram o Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que tem o objetivo de incentivar o desenvolvimento de uma política de comunicação nas organizações públicas voltada para a democratização do Poder e o incentivo à cidadania. As ações estão disponíveis no Canal Justiça
Nos sucessivos encontros realizados até 2003, vários compromissos assumidos pelas assessorias, registrados nas cartas dos encontros, apontam para o caminho do compromisso com a informação pública, voltada para o cidadão e pelo direito à informação e a democratização do Poder por meio da comunicação, como se pode confirmar em trechos da Carta de São Luís, reafirmados em outros documentos:
"Os assessores de comunicação do Poder Judiciário e do Ministério Público vêm reafirmar que todo cidadão tem o direito constitucional à informação e que a transparência é dever das instituições públicas."
Sabem os assessores da Justiça que estão diante de um grande desafio: contribuir para a democratização do Poder Judiciário. Embora tenham o domínio da técnica da comunicação, esses assessores não podem perder de vista o contexto político, econômico e social em que estas organizações estão inseridas e a importância de seu trabalho para a construção de uma nova imagem do Poder Judiciário e também de uma nova Justiça.
É difícil. Mas não é impossível.
(*) Jornalista, presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, presidente da Associação Maranhense de Imprensa, assessora de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão
Publicado no Observatório da Imprensa em 18/11/2003
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