Por Waldemar Terr (Repórter de Política)
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A mulher que pode tirar o Sindicato dos Jornalistas do léu
A eleição do Sindicato dos Jornalistas de São Luís foi parar na Justiça do Trabalho, que vai dizer nos próximos dias se o pleito será anulado. A candidata da oposição é a jornalista Edvânia Kátia, que no início do mês passado assumiu o cargo de diretora de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), tornando-se a primeira mulher maranhense a chegar à direção da Fenaj e a única com chances de tirar o sindicato da categoria do léu.
“O processo eleitoral está sub-judice. Após constatar várias irregularidades e a centralização de poder, a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo resolveu ajuizar uma ação na Justiça do Trabalho. A Justiça concedeu liminar suspendendo o processo eleitoral, que foi restabelecido para a realização da eleição por força de mandado de segurança. A eleição aconteceu, mas o processo continua na Justiça, que ainda vai decidir no mérito, ou seja, ver quem tem ou não razão”, conta a jornalista.
Recentemente, Edvânia Kátia participou do congresso nacional da categoria, que aprovou, por unanimidade, uma moção de repúdio contra as práticas antidemocráticas do Sindicato dos Jornalistas de São Luís. “Considero um avanço para o movimento sindical brasileiro exigir de suas próprias instituições uma postura mais ética e democrática. Em particular, essa foi uma vitória para o movimento dos jornalistas de São Luís, termos sidos nós a propormos essa moção”.
Edvânia Kátia: esperança de novos rumos para o Sindicato
A seguir a entrevista com Edvânia Kátia, na qual ela detalha o retrocesso da categoria em função dos mais de 20 anos que o Sindicato dos Jornalistas de São Luís está sob o domínio de Leonardo Monteiro, conhecido por Léo.
JORNAL PEQUENO – Você assumiu no início do mês passado o cargo de diretora de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Qual a importância de termos a primeira mulher jornalista maranhense eleita para a Federação Nacional dos Jornalistas?
EDVÂNIA KÀTIA – Considero um avanço muito grande para o movimento dos jornalistas no Maranhão a representatividade na Fenaj, em um cargo que eu considero estratégico. Saímos do ostracismo. Por duas décadas, nossa representatividade no cenário nacional foi mínima, mas a partir da articulação da Associação Maranhense de Imprensa nomes do Maranhão começaram a despontar no cenário nacional, inclusive o meu. Ocorre que devido à minha militância em outros espaços, como o Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e a Rede Alfredo de Carvalho pela Preservação da Memória da Imprensa no Brasil, naturalmente, fui procurada. Como sempre costumo fazer, busquei a opinião das bases, que entendeu que os ideais eram os mesmos. Por isso aceitei o convite. Prefiro não entrar na questão de gênero. Se homem ou mulher, não importa. O que importa mesmo é o nosso compromisso com as causas coletivas.
JP – Isso pode ajudar a oposição a livrar o Sindicato dos Jornalistas dos mandos de mais de 20 anos de Leonardo Monteiro?
EK – Tudo vai depender do que a direção e o Conselho de Representantes da Fenaj decidir. O fato de eu ser diretora da Fenaj contribui para que se levante o debate sobre a ética e a democracia nos nossos sindicatos, mas essa é uma decisão colegiada, como todas as decisões da nossa Federação. Estamos encaminhando, nos próximos dias, uma denúncia à federação. Embora a Fenaj não tenha a tradição de se envolver em disputas políticas locais, neste caso específico, o assunto deve ser apreciado. Isso porque não é uma disputa de propostas e idéias entre duas chapas, em iguais condições no pleito. São práticas que ferem direitos legítimos de uma categoria, o principal deles, o de participar da vida do sindicato. Prova disso é o número de votantes. Um total de 50 pessoas decidindo por uma base de quase mil profissionais.
JP – No Congresso de Ética dos Jornalistas, a delegação do Maranhão aprovou uma moção, qual foi?
EK – Aprovamos, por unanimidade, uma moção de repúdio contra as práticas antidemocráticas do Sindicato dos Jornalistas de São Luís. Repito. Por unanimidade. Não é possível que todo mundo na platéia estivesse desatenta ou dormindo, como insinuou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Luís, em recente artigo. Considero um avanço para o movimento sindical brasileiro exigir de suas próprias instituições uma postura mais ética e democrática. Em particular, essa foi uma vitória para o movimento dos jornalistas de São Luís termos sidos nós a propormos essa moção. E ressalto. Foi o Congresso dos Jornalistas que aprovou nossa moção, o órgão máximo deliberativo dos jornalistas brasileiros.
JP – Apesar de o Sindicato dos Jornalistas de São Luís ter declarado apoio à chapa vencedora das eleições na Fenaj, você solicitou a anulação das eleições no Maranhão. Por quê?
EK – Não podemos compactuar com condutas que ferem os princípios democráticos da nossa federação. Houve divergência entre a lista dos aptos a votar no processo eleitoral da Fenaj e o número de votantes. Isso é um gritante desrespeito às regras eleitorais e, por mais que o Sindicato tenha oficialmente declarado apoio à chapa da situação e eu pertencesse a ela, não poderia conceber a contagem desses votos, apenas para somar no resultado nacional.
JP – Você acha que categoria está satisfeita com a atual diretora do sindicato?
EK – Acredito que, como eu, a categoria quer dar um basta na situação de imobilismo, ostracismo e inoperância em que se encontra o nosso sindicato. As entidades precisam ser renovar, criar novos parâmetros. Para piorar a situação, o cerceamento à liberdade sindical, ao longo dos anos, é uma afronta aos direitos individuais e coletivos de toda uma categoria. As pessoas foram impedidas ao longo dos anos de se filiarem, regularizarem seus débitos, de participarem da vida do sindicato, de receberem informações sobre o imposto sindical e o pagamento das contribuições. E o mais grave de tudo. Por sucessivos 25 anos, o presidente do sindicato se reelegeu. Então que tal perguntar para a própria categoria se ela ainda agüenta a situação como está?
JP – Como tem sido enfrentar um presidente que recorre a todo tipo de práticas para se manter no poder?
EK – Tanto eu quanto as pessoas que represento defendem idéias. Nossas disputas se dão campo ideológico. Se a situação chegou a ponto de termos que procurar a Justiça para vermos restabelecidos nossos direitos é porque percebemos que todas as nossas tentativas dentro do espaço do sindicato são em vão, enquanto não houver um fim ao cerceamento á liberdade sindical. Não sou eu, nem A ou B. É toda uma categoria. Para se ter uma idéia, nosso estatuto data de 1979 e vai totalmente contra os princípios democráticos da Constituição de 1988, do Código Civil vigente e do Código de Ética do jornalista. Só para citar um exemplo, sobre as eleições, no que diz respeito ao “processo eleitoral, à votação, à posse dos eleitos e aos recursos, o estatuto estabelece que serão obedecidas as normas vigentes na ocasião do pleito”. Normas essas que são deliberadas pelo próprio presidente do Sindicato, porque não houve comissão eleitoral constituída. Outra pérola: A convocação da Assembléia Geral extraordinária não poderá opor-se ao presidente.
JP – Qual a situação da eleição que aconteceu no Sindicato dos Jornalistas?
EK – O processo eleitoral está sub-judice. Após constatar várias irregularidades e a centralização de poder, a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo resolveu ajuizar uma ação na Justiça do Trabalho. A Justiça concedeu liminar suspendendo o processo eleitoral, que foi restabelecido para a realização da eleição por força de mandado de segurança. A eleição aconteceu, mas o processo continua na Justiça, que ainda vai decidir no mérito, ou seja, ver quem tem ou não razão.
JP – Vocês acham que têm chances reais de anular a eleição do Sindicato?
EK – Acreditamos que será feita justiça a toda uma categoria. Esperamos que as provas juntadas ao processo possam convencer a magistratura das nossas alegações, como convenceu quando da apreciação da liminar. Mas independente de qualquer que seja a decisão da Justiça, a categoria precisa buscar meios para filiar-se, participar do sindicato, apesar dos obstáculos criados pelo atual presidente. Nem que para isso, tenhamos que buscar outros mecanismos legais. Ao estarmos filiados, poderemos participar de uma assembléia geral para definir as novas regras eleitorais, como foi decido na liminar, ou poderemos cobrar. A hora é agora. Não podemos mais permitir que o nosso direito de participar do sindicato seja cerceado.
JP – Quais outras falhas apresentadas pela oposição para requerer a anulação do pleito?
EK – Entre tantas outras já citadas, posso ainda citar dois colegas que foram impedidos e pagarem suas anuidades e participarem da nossa chapa, quando um outro colega que sequer estava na lista dos votantes, foi inscrito normalmente na chapa de situação. A desigualdade entre as chapas também é evidente. Enquanto a situação tem 21 pessoas, a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo só teve 10 inscritos. Isso porque obedecemos ao que diz o Estatuto, enquanto o presidente do Sindicato criou cargos, a seu critério, que não estão previstos no Estatuto, para estabelecer uma correlação de forças, desrespeitando o princípio da igualdade entre as chapas.
JP – Você é candidata à presidência do Sindicato dos Jornalistas de São Luís. O presidente do sindicato diz que você quer só o poder. E você, o que diz?
EK – Tanto eu quanto as pessoas que integram a chapa Vamos Precisar de Todo Mundo não precisam de nenhum cargo no sindicato para justificar uma estabilidade no emprego. Quem conhece a minha trajetória profissional e a de meus colegas, pode confirmar o que eu estou dizendo. Amo a minha profissão. Trabalho por prazer e por saber que o jornalismo ajuda a construir um mundo mais justo e solidário. Mas sei dos desafios da profissão. Já fui repórter, editora, diretora de Redação e hoje atuo como assessora de comunicação. Quando há a valorização do jornalismo, o jornalista, as empresas, a sociedade, todos saem ganhando. É por isso que luto.
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