Aí está uma grande discussão. Afinal, os assessores de comunicação são ou não jornalistas?
Quero começar por um trecho do artigo "Assim é, se lhe parece", assinado pelo jornalista Ricardo Noblat. "Para que seja considerado como tal, o jornalismo tem que ser livre, crítico e, se necessário, impiedoso." Deixando de lado os preconceitos advindos da época da ditadura militar, quando surgiu a profissão de assessor de imprensa, o que se tem hoje é uma nova realidade, tanto nas assessorias quanto nas redações. O assessor de imprensa cedeu lugar ao assessor de comunicação e, hoje, eu, particularmente, já vislumbro uma nova figura: o comunicador público, no caso dos assessores de comunicação das organizações públicas. Este é um debate que vem ganhando força nos órgãos da Justiça, e o resultado do trabalho desses comunicadores está estampado nas páginas dos jornais de Norte a Sul do país.
Nas redações, veio a revolução tecnológica, a permissão para a entrada do capital estrangeiro, o desafio de fazer sobreviver os meios de comunicação diante de tanta concorrência. E, aí pergunto: existe imprensa livre? Se o pressuposto para o exercício da profissão de jornalista é a liberdade, posso concluir, e se estiver errada corrijam-me: não há por que lutarmos por um diploma se, diante do atual contexto, não podemos ser livres, e conseqüentemente, não poderíamos ser jornalistas, estejamos nós atuando numa assessoria de comunicação ou numa redação.
Estrada longa
Sempre fui defensora da teoria que não admite o mito da neutralidade. Queiramos ou não, tudo o que fazemos na vida segue uma tendência ideológica, e na profissão de jornalista não poderia ser diferente.Os veículos de comunicação de massa, por mais independentes que possam parecer, têm uma linha ideológica, e os jornalistas que trabalham para esses veículos seguem essa linha. Ou também estarão no olho da rua, assim como os colegas assessores que forem de encontro aos interesses dos assessorados, nas palavras do jornalista Noblat.
Quanto a ser crítico, digo que, pedreiro ou engenheiro, jornalista ou assessor de imprensa, todos nós podemos ser críticos diante da realidade em que vivemos. Não é à toa que o professor Lins da Silva comprova, em Muito além do Jardim Botânico, que o domínio global poderia ser contestado por pessoas simples, praticamente analfabetas, mas que conheçam a sua realidade.
Quanto ao "impiedoso": não quero ser uma jornalista impiedosa, aquela que acredita em suas próprias verdades sem ouvir o outro, que quando vai a uma entrevista já sabe o que fazer, independentemente dos argumentos da fonte. Prefiro ser um assessor de comunicação piedoso, capaz de me ater à notícia e ao fato, por exemplo, de um processo – embora empresas envolvidas no processo possam ter alto poder econômico.
E pergunto: quem é mais livre? O assessor de comunicação que estampa nos releases e nas páginas da internet o resultado de um processo sobre uma multinacional ou o jornalista que se vê impedido de publicar a notícia enviada pela assessoria, porque não está de acordo com a linha editorial do jornal? Que veículo se arrisca a perder verbas publicitárias que seriam possivelmente suspensas por conta do afrontamento?
Acho que estamos diante de grande questões. Jornalismo livre passa necessariamente pela divisão do bolo das verbas publicitárias dos órgãos públicos. Passa também pelo concurso público para assessor de comunicação nas organizações públicas. Pela exigência de diploma para jornalista, pela melhora do ensino de Comunicação no país.
Mas estamos começando a discutir. A estrada é longa, mas quem sabe poderemos chegar lá.
Edvânia Kátia - Jornalista, assessora de comunicação do TRT-MA, presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça e da Associação Maranhense de Imprensa
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